sexta-feira, 4 de abril de 2008

Opinião — JM Silva






Mudanças de opinião


Em determinadas circunstâncias torna-se por vezes muito complicado mudar-se de opinião… Atente-se naquilo que recentemente aconteceu com o Dr. Jaime Gama, Presidente da Assembleia da República do nosso País quando a boca lhe fugiu para a verdade ao referir-se ao Dr. Alberto João Jardim e à sua grandiosa obra em prol de todos os madeirenses, não apenas dos bons mas também de quantos lhe atiram pedras. Mas mais complicado é quando a boca foge para a mentira…

Por um destes dias, Vítor Pereira, ex-árbitro de futebol e actual presidente em exercício da Comissão de Arbitragem da Liga, afirmou convictamente que «não há uma única arbitragem isenta em todo o Mundo».
Estamos em crer que se referiria às arbitragens do desporto-rei, que não de outra modalidade desportiva qualquer ou até de arbitragens doutros conflitos que nada tenham a ver com desporto.
Partindo do princípio de que efectivamente se tratava de futebol, Vítor Pereira não nos veio dizer nada que não soubéssemos já.
Desconhecemos a que propósito e em que local produziu tal afirmação, ficando de igual modo sem sabermos qual o tipo de isenção a que se quis referir, tudo porque numa arbitragem dum jogo de futebol existem vários itens a ter em consideração.
Até certo ponto entendemos que como “patrão” dos árbitros está no seu pleno direito de os defender quando for caso disso, mas daí a que tenha de atropelar a arbitragem em si para isentar de qualquer mácula aqueles que no desempenho das suas funções propositada ou involuntariamente cometem erros, sobretudo grosseiros que deturpam a verdade desportiva trazendo benefícios para uns e prejuízo para outros, vai uma distância enorme.
E não nos venha, como por mais de uma vez já o fez, com a velha treta de que «errar é próprio do ser humano».
Porque um assassino, um gatuno ou um violador, entre outros mais “pecadores”, são também eles seres humanos, mas uma vez condenados pelos seus actos pagam com a prisão os erros que cometeram.
Não estamos com isto a sugerir que se mande para a cadeia todo aquele árbitro que erre ao dirigir um encontro de futebol, mas tão somente que pague pelos seus erros na justa proporção das suas consequências.
Com paninhos quentes jamais se conseguirá devolver à arbitragem a credibilidade que ela de há muito perdeu.

É este mesmo Vítor Pereira que surge em pleno Tribunal de Gondomar onde decorre o primeiro julgamento da super badalada operação Apito Dourado não na condição de arguido mas como perito de arbitragem para analisar trabalhos efectuados por árbitros, esses sim acusados de favorecimentos a determinados clubes.
Cremos que apenas num país como o nosso, onde a justiças anda algo desacreditada nas bocas do mundo, com ou sem razões para tal, mas anda, é que seria possível à justiça dos tribunais criminais convocar alguém da “família” dos arguidos para analisar na qualidade de perito os erros de que são acusados.
Assim nada nos espanta a onda de suspeitas e indignação de quantos consideram as peritagens de Vítor Pereira com teor contrario àquilo que terá afirmado na instrução do processo.
Então não terá poupado a crítica e a denúncia de erros e situações suspeitas para agora vir ilibar os ditos arguidos.
Anima-nos contudo a convicção de que o Tribunal de Gondomar tenha convocado outros “peritos de arbitragem” para analisarem os mesmo trabalhos para que num verdadeiro trabalho de equipa os juízes possa dar um veredicto final mais justo.
No futebol de há muito se institucionalizou que «aquilo que ontem era verdade, hoje já é mentira» e vice-versa, mas em determinadas situações as mudanças de opinião poderão acarretar algumas complicações.
Atente-se no que aconteceu bem recentemente quando o Dr. Jaime Gama, Presidente da Assembleia da República do nosso País, quando a boca lhe fugiu para a verdade ao referir-se ao Dr. Alberto João Jardim e à sua grandiosa obra em prol de todos os madeirenses.
Mas cuidado não confundamos aquela parte do nosso corpo sobre que nos apoiamos quando nos sentamos com as calças que vestimos, porque enquanto o Dr. Jaime Gama levou anos e anos a mudar de opinião fazendo-se à medida que a obra do Presidente do Governo Regional ia crescendo, a presumível mudança de opinião de Vítor Pereira foi demasiado brusca, sendo que no primeiro caso a boca fugiu para a verdade e no segundo para a mentira bem ao jeito dos troca-tintas.
Aqui, os cambiantes são bem diferentes e as consequências sê-lo-ão também.
Aguardemos…

Finalmente, a Liga acordou e começou também ela a actuar no âmbito do processo Apito Dourado, com a sua Comissão Disciplinar a decidir transformar os inquéritos que havia instaurado ao FC Porto e aos seu presidente da Direcção, Pinto da Costa, em processos disciplinares. Em causa estão os encontros Beira Mar-FC Porto e FC Porto- E. Amadora da época 2003/04.
Mas a par do sucedido aos portistas e ao seu presidente ficou a saber-se que também o Boavista e o seu presidente na altura, João Loureiro, serão igualmente notificados dos processos disciplinares que lhes serão movidos.
Aqui está em causa o encontro Boavista-E. Amadora referente à 29.ª jornada do Campeonato Nacional da época 2003-04, encontro esse arbitrado por Jacinto Paixão, entretanto já retirado da actividade arbitral mas igualmente notificado.
Refira-se ainda que, na justiça civil, o caso Boavista-E. Amadora leva a tribunal para além de João Loureiro e Jacinto Paixão, o major Valentim Loureiro e os observadores de árbitros José Alves e João Pinto Correia.
Cumpriu-se assim aquilo que por diversas vezes o Presidente da Liga, Hermínio Loureiro, prometeu que não se chegaria ao fim da presente época futebolística sem que a justiça da Liga resolvesse no âmbito desportivo os casos relacionados com o Apito Dourado.
Resta-nos aguardar que mais processos disciplinares venham ainda a surgir num futuro próximo para que se possam impedir prescrições com que muitos naturalmente sonhariam ainda.

Independentemente do que venha a resultar de toda esta situação em matéria de possíveis sanções a quantos tanto prejudicaram o futebol nos últimos anos e sem que nos debrucemos sobre possíveis castigos advindos da regulamentação em vigor na justiça desportiva como na justiça civil, esperamos sinceramente poder dizer um dia que a operação Apito Dourado foi bem vinda.
Diz o povo na sua sabedoria que «não há fumaça sem fogo», mas sincera e honestamente chegamos a duvidar do epílogo desta gigantesca operação levada a cabo pela Policia Judiciária. Parece que nos enganámos…
Aconteça o que acontecer daqui para a frente, havendo ou não condenações, ficou-nos no entanto a certeza de que afinal o tão propalado Sistema existia mesmo onde os «tubarões» detinham a maioria dos seus cordelinhos manejando-os a seu bel-prazer.
Independentemente, repetimos, do que lhes possa vir a acontecer, anima-nos a certeza de que, mesmo que sobrevivam impunes os agora arguidos, no futuro irão pensar duas ou mais vezes antes de voltarem ao passado prejudicando uma vez mais o futebol.
Apenas mais um voto, o de que possamos algures dar o verdadeiro valor a uma corajosa mulher que teve o condão de ter contribuído sobremaneira para que o Apito Dourado não ficasse em águas de bacalhau.
O que aconteceria neste País se outras suas Carolinas tivessem a mesma coragem!!!

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