sexta-feira, 4 de abril de 2008

Opinião — Manuel Sérgio






Ainda “Os Senhores do Futebol”


Carlos Queirós e José Mourinho conheci-os como alunos do ISEF de Lisboa. São duas personalidades diferentes, mas de ambos ressalta um axioma: treinar uma equipa é, cada vez menos, improvisar.


A cadeira do Poder! A mais ansiosamente desejada por quem nunca se sentou nela; em cujos braços ainda ninguém ainda descansou e muita gente se iludiu; a mais reverenciada, a mais aplaudida, a mais cumprimentada de todas as cadeiras, perante a qual as pessoas se inclinam numa vénia, seja quem for que nela se sente (democrata ou ditador) e mesmo quando se encontra desoladoramente vazia. A cadeira do Poder! A ingrata cadeira curul, grande na medida das ambições humanas e pequena quando um grande homem a ocupa!... Gilberto Parca Madaíl é o presidente da Federação Portuguesa de Futebol. Licenciou-se em Economia, foi governador civil de Aveiro, foi deputado e é, como atrás se refere, o líder da FPF. Pertence ao Comité Executivo da UEFA e «reclama para si o trabalho diplomático que hoje permite ter muitos representantes lusos, na UEFA e na FIFA». O Euro 2004 foi «a maior alegria que teve no futebol», lamenta nunca ter sido campeão e espera que tal aconteça no próximo Euro 2008: «O facto de um pequeno país merecer a honra e responsabilidade de organizar um campeonato da Europa abriu um precedente fantástico para o futebol do Velho Continente. Tivemos agora vários concorrentes à organização do Euro 2012, a Itália que era favorita perdeu para a Polónia e Ucrânia, tal como nós tínhamos ganho à Espanha, no Euro 2004. A UEFA percebeu que existe uma nova ordem no futebol europeu e nós estivemos na linha da frente desse processo autenticamente revolucionário.» Gilberto Madaíl tem a informação exaustiva, a destreza de raciocínio, que lhe permitiram abordar sem esforço as questões que Paulo Catarro lhe levantou. Mas o português com mais prestígio e influência, nos corredores da FIFA e em alguns da UEFA parece ser o advogado João Rodrigues. «Verdade ou não, João Rodrigues trilhou um caminho fulgurante, nos meandros do poder do futebol internacional, onde colheu, como as de João Havelange, antigo presidente da FIFA, Joseph Batter, o suíço que sucedeu ao brasileiro na "FIFA House" em Zurique, Júlio Grondona, o poderoso presidente da Federação Argentina de Futebol e figura de proa da Confederação Sul Americana, ou Angel Villar, presidente da Federação Espanhola, que, para muitos, deve ao advogado lisboeta a sua ascensão aos lugares de topo da hierarquia do futebol europeu em detrimento de um português, Silva Rezende.»
Conheço suficientemente João Rodrigues para escrever, sem receio, que se trata de uma pessoa de grande integridade de carácter e envergadura moral, para além de uma simpatia e tolerância exemplares, que lhe captam rápidas simpatias. Tenho a certeza, e Paulo Catarro revela-o bem, que João Rodrigues, com o seu poder de penetração e a sua facilidade de expressão verbal, muito tem ajudado o futebol português, nas decisões da FIFA e da UEFA. Carlos Freitas, Domingos Soares Oliveira, Jorge Mendes, José Veiga, José Guilherme Aguiar e o empresário Joaquim Oliveira são nomes imprescindíveis à compreensão do espírito empresarial que preside, actualmente, ao futebol profissional. Se o Paulo Catarro os distingue, tal se deve ao facto de, neles, brilhar um louvável espírito de sacrifício e rendibilidade e perspicácia notáveis. Joaquim Oliveira, por exemplo, «transformou-se num empresário de sucesso, com a actividade a expandir-se para os meios de comunicação social, ombreando hoje com grandes empresários do sector, como Francisco Pinto Balsemão, Paulo Fernandes ou Jacques Rodrigues». A sua influência, no futebol português, é indesmentível, dono que é do diário "O Jogo", da "Sport TV", um empresário endinheirado e um profundo conhecedor do futebol português. «É a ele que os homens do futebol recorrem, quando não têm para onde se virar.» virar.» Carlos Queirós e José Mourinho conheci-os como alunos do ISEF de Lisboa. São duas personalidades diferentes, mas de ambos ressalta um axioma: treinar uma equipa é, cada vez menos, improvisar. Ambos são também admiráveis de clareza, de desassombro e de probidade mental. E sabem de futebol. No caso do José Mourinho, julgo poder escrever que concordou com algo do que eu ensinava nas aulas: o desporto deverá estudar-se como uma das especialidades de uma nova ciência humana. Quem não o fizer, será sempre um péssimo treinador.
Vítor Pereira, presidente do Comissão de Arbitragem da Liga de Clubes e antigo árbitro internacional de muitos méritos, «não se coíbe de tecer afirmações polémicas, na defesa dos árbitros ou do que considera ser de forma mais lata os interesses da arbitragem nacional. Ignorou olimpicamente as reticências colocadas pelos dirigentes do FC Porto à sua indigitação, na lista de Hermínio Loureiro. Entrou em choque com os dirigentes do Sporting, a propósito dos atrasos de bola para os guarda-redes e rebateu as críticas que surgiram quando nomeou Pedro Proença, para um jogo entre o FC Porto e o Sporting, após uma arbitragem deficiente na jornada anterior. Perante os problemas decide rapidamente, na esteira do que sempre foi a sua actuação, enquanto juiz no relvado, com serenidade e convicção tais que chega a ser enervante para os seus interlocutores». O sector que lidera é sujeito a pressões de toda a ordem, já que no futebol profissional imperam o economicismo amoral e o clubismo mais doentio. Vítor Pereira pretende colocar a arbitragem portuguesa acima de toda a suspeita. Tem saber e experiência pata tanto. Luiz Felipe Scolari, o brasileiro que é seleccionador nacional de futebol, tem, como se sabe, uma mentalidade forte e original: não a mentalidade dialáctica do jurista; não a mentalidade reflexiva do filósofo; não a mentalidade dogmática do teólogo; nem a mentalidade digressiva e circular do diplomata – mas a mentalidade do líder com os seguintes traços predominantes: inteligência emocional, personalidade ousada, aptidão verbal forte (embora com um vocabulário reduzido), agressividade, compreensão pelos problemas pessoais dos “seus” jogadores e grande experiência no mundo do futebol. Com a selecção nacional, criou, com genialidade, o "Clube Portugal". Paulo Catarro dá, a propósito, a voz ao seleccionador nacional: «O que transmiti aos jogadores é que tinham, a partir daquele momento, um segundo clube. Durante a maior parte do tempo são do FC Porto, Sporting, Benfica, Braga, ou outro, mas na concentração passavam todos a pertencer a outro clube. Não podia ter mesas de quatro jogadores do FC Porto ou do Sporting, mesmo que alguns tivessem tido confrontos duros em jogos entre os seus clubes. Ali, no estágio da selecção, despiam essa camisola e vestiam a camisola de Portugal.» E a verdade é que Luiz Felipe Scolari é o treinador da “equipa de todos nós”, com melhor currículo, na história das nossas selecções.
Paulo Catarro, neste seu livro de rara oportunidade, que nos escancara a realidade do nosso futebol, ocupou-se ainda de Valentim Loureiro, Filipe Soares Franco, Luís Filipe Vieira e Jorge Nuno Pinto da Costa. E, com incomparável nitidez, precisou, definiu, esclareceu, demonstrou. Um grande livro que poderá transformar-se num “vade mecum” de todos os estudiosos do futebol português. Parabéns a Paulo Catarro! Foi brilhante, com este livro!

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