sexta-feira, 21 de março de 2008

Apoio ao Desporto na RAM 2008 — uma reflexão de Francisco Fernandes




Recentemente, e aquando da cerimónia de abertura do Curso de Dirigentes, que decorre na Região, o secretário regional de Educação e Cultura fez referências explícitas à Proposta de Regulamentos de Apoio ao Desporto na RAM 2008, cujo discurso, pela sua importância, se divulga na íntegra, sendo os títulos e destaques da responsabilidade da Redacção. Como disse Francisco Fernandes, «não se trata de um trabalho acabado. Trata-se, antes, de uma adaptação a tempos novos e difíceis, e assume-se a criação de um novo desafio à comunidade desportiva que, uma vez mais, é chamada a opinar numa matéria que pretende consubstanciar muitas das suas próprias sugestões formulada em momentos anteriores».


Quando, em finais de 1993, o Governo Regional da Madeira, decidiu substituir o modelo de administração regional desportiva então vigente – uma Direcção Regional, herdeira de uma antiga Delegação da Direcção-geral dos Desportos – foi porque entendeu que o modelo de desenvolvimento até aí defendido, necessitava revigorar-se a partir da administração pública regional, dando resposta a uma segunda fase das conclusões do Encontro Regional de Educação Física e Desporto, gizadas no já longínquo ano de 1976/77.

Essa medida deu lugar à criação do IDRAM, que deveria constituir uma nova forma de encarar os desafios da modernidade desportiva e do crescente grau de exigência das populações em matéria de acesso à prática desportiva e ao acesso ao desporto espectáculo.

O ambiente da organização desportiva de então era completamente diverso de o de hoje. Metade dos actuais praticantes desportivos, um terço dos clubes, metade das associações.

Ou seja, todo o sistema cresceu, apontando hoje os 15.000 praticantes federados, 155 clubes e 21 associações.

No entanto, a área em que a intervenção do IDRAM se revelou mais decisiva foi a determinação, financiamento, acompanhamento e gestão dos espaços desportivos. Basta referir que das 177 instalações desportivas existentes em 1993, passámos para 485! A estratégia do Governo Regional nos programas “Um campo de futebol por concelho”, “um pavilhão por concelho”, “um polidesportivo por freguesia” e, mais recentemente “uma piscina por concelho”, foram largamento ultrapassados, ficando incumbido o IDRAM da gestão da maioria destes espaços, com o consequente encargo financeiro que, entre manutenção e construção consome hoje mais de metade do seu orçamento.

A par destas iniciativas diversos clubes e associações viram-se dotados das suas sedes sociais, quase sempre anexadas a instalações desportivas, casos do Clube Naval do Funchal, do Clube de Ténis do Funchal, do Clube Amigos do Basquete, do Club Sport Marítimo, do Clube Desportivo Nacional, do Clube Desportivo do Estreito e do Clube Desportivo Porto-santense, para mencionar apenas alguns, e várias Associações, entre as quais as de Andebol, Voleibol, Futebol e Karting.

Neste processo, merece especial destaque a parceria institucional e, muitas vezes de natureza pessoal, a partir dos laços que só o desporto sabe construir, entre a administração pública desportiva regional e os dirigentes desportivos que, pela nossa estimativa, ultrapassam hoje os 2.000 elementos activos.

Foi, aliás, o reconhecimento do seu papel, que levou o IDRAM à realização de diversos cursos para dirigentes e à inclusão destes num plano específico e plurianual de formação e, ainda, à criação inovadora de um estatuto próprio ratificado na ALM que, não satisfazendo todos os anseios, deu sinal claro de consideração e apreço institucional.

O contexto financeiro de restrições, agora agravado por medidas centrais que todos acompanham, é já de há alguns anos e teve três consequências gravosas para o dirigismo e para as organizações desportivas: o não cumprimento atempado de compromissos; o congelamento de valores que a inflação se encarregou de desvalorizar e a redução e/ou eliminação de alguns componentes do apoio público.

Felizmente que a natureza dos resultados, que deixa transparecer um inequívoco empenhamento de dirigentes, técnicos e praticantes, logrou vencer alguns dos obstáculos financeiros, tornando mais apetecível o sponsoring e o mecenato desportivo. O número de declarações de confirmação da utilidade desportiva que assinamos anualmente, diz bem da existência de alguma vitalidade e atenção empresarial sobre o desporto, embora sempre insuficiente, como é natural.

Por outro lado, quer ao nível da comunicação social especializada, mas sempre pronta a criticar, e nem sempre com a isenção e imparcialidade que dizem ser seu apanágio, quer ao nível das oposições políticas, insiste-se no princípio de que qualquer gasto com o desporto é dinheiro mal gasto, como se não houvesse empregabilidade, incentivos à economia e ganhos de toda a ordem na perspectiva da saúde, do bem-estar e da integração social e da coesão nacional.
A demagogia política entende que tudo resolveria no âmbito das carências sociais com mero desvio dos dinheiros do desporto para outros fins. Outros esgrimem estatísticas e comparações nacionais do investimento ‘per capita’ no desporto, comparando realidades distintas, competências diferentes e fontes de financiamento diversas.

Esquece-se, por exemplo que o desporto dá emprego, a tempo inteiro ou parcial, a cerca de 6% da população activa e que muitas famílias equilibram ou fazem depender do desporto o seu orçamento de sobrevivência. O investimento em infra-estruturas atingiu volumes significativos com a consequente activação de empresas da especialidade.

Porque o desporto existe e porque o Governo Regional o assume como um investimento de natureza económica e social. Infelizmente as vozes apoiantes vêm, muitas vezes, de fora do nosso espaço insular.

Mas os dirigentes desportivos continuam a ser o esteio e o motor do desenvolvimento desportivo e é nessa perspectiva que hoje aqui estamos para falar do presente e do futuro.

Presente e futuro que começaram com as conclusões do Conselho Desportivo Regional e com os debates e conclusões da Convenção do Desporto da Madeira, ambos reflectindo o pensar e as aspirações das organizações desportivas e dos seus agentes.

Nacional a oito pontos do quinto lugar



"Europa" afasta-se
da Choupana

Com a derrota em Alvalade, o Nacional passou a ficar a oito pontos do desejado lugar de acesso à Taça UEFA. Seguem-se União de Leiria e Marítimo para esclarecer até onde poderão chegar os alvi-negros na Liga.

Roberto Paulo Pereira

A pesada derrota, na pretérita jornada, em Alvalade, frente ao Sporting, por 4-1, colocou o Nacional mais distante dos lugares de acesso à Taça UEFA. As próximas duas jornadas ditarão muito das possibilidades da equipa liderada por Jokanovic em poder continuar ou não a sonhar com a terceira presença do seu historial na prestigiada competição da UEFA.

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Kanu e Bruno Fogaça aumentam opções do Marítimo



Mais frieza a finalizar
para sonhar com UEFA

Gonçalo Vasconcelos

As lesões de Bruno Fogaça e André Pinto e o castigo de Kanu reduziram o “poder de fogo” do Marítimo no jogo com o Benfica, agravando um problema que já se notara anteriormente, em especial após a saída de Makukula. Kanu reconhece que tem faltado frieza para materializar o bom futebol desenvolvido pela equipa. Contra os encarnados valeu a entrada relâmpago de Ytalo, que salvou um ponto importante (1-1 foi o resultado) na luta pela UEFA.

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Golfe: 16.º Madeira Islands Open BPI



Parada de estrelas
no Santo da Serra


Uma série de melhorias registadas no Madeira Islands Open BPI, entre as quais o aumento do prémio monetário para 700 mil euros, resultou num elenco de luxo para a edição deste ano.

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União é o único em condições de lutar pela subida



Uma espécie
de "Série Madeira"

O União é a única equipa madeirense em condições de lutar pela Liga de Honra. Na Série B, disputar-se-á uma espécie de Série Madeira, com Caniçal, Ribeira Brava, Marítimo B e Pontassolense a perseguirem o segundo lugar. Poderá ser esta uma ideia para o futuro?

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Nelson Calaça e o "feito" do Câmara de Lobos



«A prova da qualidade
dos jogadores madeirenses»

O Câmara de Lobos garantiu, a uma jornada do fim da primeira fase, um lugar entre os seis primeiros da classificação, garantindo o objectivo a que se tinha proposto para esta época, a manutenção. O treinador dos camaralobenses, Nelson Calaça, quer que a equipa continue a evoluir.

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Futsal: Marítimo festejará título caso ganhe ao 1.º de Maio



Mais um triunfo e é campeão

O interregno deste fim-de-semana só serve para aumentar a expectativa para aquele que pode ser o jogo do título.

Cirilo Borges

O Marítimo venceu em Santana o São Roque do Faial e desfez o mau agoiro que pendia sobre si desde a 13.ª jornada, quando, à semelhança da época passada, perdeu pontos inesperadamente. O triunfo dos verde-rubros foi “ouro”, já que o 1.º de Maio foi surpreendentemente goleado em casa pelo Curral das Freiras. Valeu a circunstância da equipa do Palheiro Ferreiro ter ganho, quarta-feira, na Ponta do Sol, o jogo em atraso da décima jornada, para manter a corrida ao título minimamente interessante. No entanto, a expectativa poderá durar pouco tempo, já que, no regresso do campeonato, Marítimo e 1.º de Maio defrontar-se-ão e, caso o líder vença, sagrar-se-á campeão regional.

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Santacruzense completa 73.º aniversário



Histórico em tempo de crise!

O Santacruzense completa, na próxima segunda-feira, 73 anos de vida. Com um grave passivo financeiro por resolver, os responsáveis pela emblemática colectividade de Santa Cruz aproveitarão, certamente, a passagem deste aniversário para reflectir e redefinir as metas para o futuro.

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Especial Rali da Camacha


Na Camacha deu Camacho

O Campeonato da Madeira Coral de Ralis teve início no último sábado com a realização de mais um Rali da Camacha. A organização da associação desportiva local foi dominada por Alexandre Camacho e Pedro Calado.

O muito aguardado começo de mais temporada madeirense de ralis teve início no passado sábado para gáudio dos muitos amantes que a modalidade tem no arquipélago. Como já é hábito há alguns anos, a Camacha foi a vila escolhida para receber a caravana dos concorrentes bem como uma fiel legião de interessados na disciplina que, novamente, compareceram em grande número e emolduraram as estradas percorridas pelas oito provas especiais incluídas no programa.
As vedetas desta jornada de estreia eram os dois Peugeot 207 S2000 adquiridos no defeso pelas duas equipas que ao longo dos últimos anos haviam se revelado as mais rápidas nos troços cronometrados. A expectativa era muito e acabou plenamente justificada pois aquelas duas viaturas mostraram-se completamente inatingíveis à demais concorrência ao se revelarem mais rápidas um pouco mais dum segundo por quilómetro, margem acentuada para as curtas classificativas locais onde a extensão é curta e tradicionalmente os veículos S2000 perdem algum tempo no arranque.
Entre os dois favoritos ao triunfo, cedo Alexandre Camacho e Pedro Calado mostraram ao que vinham ao se colocarem na frente com uma vantagem de cerca de três segundos. Já na segunda prova especial parecia que as coisas poderiam se equilibrar pois Vítor Sá e Ornelas Camacho conseguiram ser cronometrados exactamente no mesmo tempo que os seus rivais. Tudo parecia em aberto mas nova ronda pelos mesmos traçados exacerbou o domínio da equipa com as cores da Olca.

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TÉNIS DE MESA



Páscoa descansada na Ponta do Pargo

Ponta do Pargo deverá discutir o título nacional feminino com o Mirandela. Nos masculinos, falta saber quantas equipas madeirenses estarão na final.

Cirilo Borges

A Ponta do Pargo já está apurada para a final da I Divisão Feminina. Depois de ter ganho, em Câmara de Lobos, ao Estreito, na primeira mão da meia-final, por 4-0, sentiu mais dificuldades no jogo disputado em casa, terça-feira, que venceu por 4-3. As calhetenses poderão assim descansar nesta Páscoa e esperar pelo Mirandela, mais do que provável finalista. A equipa transmontana venceu a ACM, no Funchal, por concludentes 4-0, pelo que o seu apuramento é uma questão de tempo.

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Karting — Madeirenses aceleram preparação para nova temporada


Pódios é com eles

Embora com metas distintas para 2008, Alexandre Bazenga, Augusto Silva e Tiago Ribeiro deram nas vistas no Rotax Challenge Norte.

Cirilo Borges

Três pilotos madeirenses participaram, no fim-de-semana passado, em Palmela, na primeira etapa da Rotax Challenge Norte e o saldo foi francamente positivo, já que todos subiram ao pódio nas respectivas categorias.

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XIX Ronda dos Castanheiros



Qualidade da maioridade

Prestes a completar 20 anos de edições ininterruptas, a iniciativa do Estreito prima agora pela sobriedade do espectáculo proporcionado.

Cirilo Borges

Foi um verdadeiro espectáculo e por isso um sucesso a edição deste ano da Ronda dos Castanheiros, à semelhança do que sucedeu nos dezoito anos anteriores. Para além do passeio pelas serras do Estreito e do Jardim da Serra, “apimentados” com diferentes desafios, desde a orientação nocturna ao preenchimento de lacunas em road-books, passando pela plantação de árvores, houve oportunidade também para milhares de pessoas assistirem à exibição dos condutores e das respectivas “máquinas” na já tradicional pista de obstáculos do Cabo Girão, onde correu muita adrenalina. Este ano até houve participantes que inscreveram-se com duas viaturas, uma para o passeio e outra para a pista de obstáculos, sinónimo de que a modalidade começa a ser encarada de outra forma.

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Especial Semana de São José



Arco de São Jorge
valoriza Heranças



“Heranças” foi o tema que envolveu as actividades da décima-segunda edição da Semana de São José, iniciativa anualmente promovida pela Casa do Povo do Arco de São Jorge e que mexeu com todo o Concelho… e não só.

Reportagem de quatro páginas na nossa edição impressa.

Opinião: "Valeu a pena" — a vida de Moniz Pereira





Manuel Sérgio


Fernando Correia deu uma contribuição bastante válida, para manter em alta aquilo a que alguém chamou, um dia, com rara felicidade, o prazer do texto. Este livro é para ficar, isto é, para ser revisitado inúmeras vezes, na História do Desporto Nacional.


Sendo um “Homem do Desporto”, é para mim sobre o mais uma alma de artista. Daí, o valor, o significado, a grandeza da sua maneira de estar no Desporto. Enganam-se os que pensam que o Desporto se resume a correr e a saltar. Nas actividades ditas físicas, também há inteligência e desejo e amor. A vida de Moniz Pereira, contada por esse mago da palavra (oral e escrita) que é o Fernando Correia, assim o atesta. Desportista entusiasta e lúcido, treinador de indiscutível competência (grande entre os grandes), professor informado e actualizado, compositor e letrista de fados inesquecíveis – Moniz Pereira só podia entender o Desporto como ciência e arte. Neste livro, da autoria de Fernando Correia, intitulado "Moniz Pereira: Valeu a Pena" e editado pela Sete Caminhos, Vasco Lynce declara: «Se me fosse solicitada a educação do nome da figura mais marcante do desporto nacional do século XX, a minha decisão recairia sempre sobre a pessoa do Professor Mário Moniz Pereira.» No mesmo livro, o presidente do Comité Olímpico de Portugal não tergiversa, ao escrever: «Para todos quantos acompanham a evolução do Desporto, o Prof. Mário Moniz Pereira é, e será sempre, um nome incontornável na história do atletismo português.» Encontramos também nesta obra (que deveria ser de leitura obrigatória, nos cursos universitários de desporto) as opiniões do fadista Carlos do Carmo que o considera «um mestre da vida», da escritora Rosa Lobato de Faria que vê nele um dos melhores seres humanos que encontrou na vida e enfim também a minha modesta opinião que o considero um artista-treinador, ou seja, para mim, o Mário Moniz Pereira é o maior treinador da história do atletismo (e não só da história do atletismo português) porque, além do trabalho e do rigor, ao nível da metodologia do treino, há nele a sensibilidade do artista que lhe permite percepcionar, com meridiana clareza, o que de mais profundamente humano há, nas vitórias e nas derrotas, no Desporto.
Conheci, através do Acácio Rosa, o Dr. Salazar Carreira; convivi fraternalmente com o Acácio Rosa; dialoguei com o engenheiro Vasco Pinto de Magalhães, pioneiro do râguebi, no nosso país; fui colega na docência dos Profs. Mário Moniz Pereira, Fernando Ferreira e Noronha Feio; trabalhei sob as ordens de directores-gerais do Desporto, tais como: Armando Rocha, Melo de Carvalho, Rodolfo Begonha, Reis Pinto, Lopes Marques, Mirandela da Costa; julgo ter merecido a amizade de figuras inesquecíveis do desporto brasileiro e espanhol. Conheço alguém, felizmente vivo, que a todos excedeu, na prática e na teoria: Mário Moniz Pereira! Sempre que o comboio da glória passou por ele apanhou-o e desembarcou depois em Lisboa, onde foi alvo de homenagens que qualquer vedeta não desdenharia para si. Mas que mereceu inteiramente. A popularidade e a ressonância dos seus feitos provinham de, digamos assim, muita militância, muita disciplina, muito saber. E também de algo mais que só os génios têm: uma intuição que adivinha e uma inteligência que parece não enganar-se nunca. Como praticante de voleibol, Moniz Pereira foi internacional. Como treinador de atletismo, porém, foi de facto genial. Hoje, com 87 anos de idade, é mais um conselheiro do que um treinador. Com uma cultura desportiva invulgar, para ele devem voltar-se os que pretendem ser treinadores. Ele pode ensinar, nesta especialidade desportiva, como ninguém o poderá fazer, no nosso país. O que é a cultura? É a aliança do saber e da vida. Ora, quem mais viveu (e porque viveu pensou) o Desporto do que o Mário Moniz Pereira? Debrucemo-nos agora sobre o texto de um prosador de eleição, o Fernando Correia, autor deste livro admirável: «Mário Moniz Pereira é um Homem do Desporto, naquilo que há de mais nobre em tal designação. O Desporto como actividade sã, lúdica e lealmente competitiva, a antítese do manobrismo, da viciação, da batota que, aquém e além-fronteiras, tanto têm contribuído para desacreditar um fenómeno que, na sua diversidade, é o mais universal da actualidade. Mário Moniz Pereira é um Homem da Música, talento que menospreza e que, como quem não quer a coisa, martelando no piano, como ele diz, contribuiu até agora com 123 temas, para enriquecer o panorama melódico português (...). O Desporto português jamais saberá quantificar o que deve a Mário Moniz Pereira» (pp. 19/20).
Fernando Correia deu uma contribuição bastante válida, para manter em alta aquilo a que alguém chamou, um dia, com rara felicidade, o prazer do texto. Este livro é para ficar, isto é, para ser revisitado inúmeras vezes, na História do Desporto Nacional.

Opinião — JM Silva




A morte dum bom
e grande amigo


A notícia do seu passamento inserta nos periódicos locais, através duma participação duma simplicidade assinalável e sem foto, privou-nos, bem como a todos que trabalham nesta casa, de acompanhar o seu corpo até à sua última morada.

Foi a sepultar, no passado domingo, o nosso grande e bom amigo, Jaime dos Anjos Melim, a quem a morte colocou um ponto final no seu prolongado e doloroso sofrimento advindo de doença que não perdoa.
Sabemos que nada nem ninguém vence a morte e que todos sem excepção hão-de ver chegar a sua hora de partir deste Mundo. Chegou a vez dum grande amigo partir, ele que em vida foi exemplo dum simplicidade ímpar que o fez ser estimado por quantos conheceram o seu carácter íntegro, a sua exemplar forma de estar na vida, fazendo amigos como poucos em seu redor.
Só Deus é testemunha da tristeza enorme que nos invade, o quanto lamentamos não nos ter sido possível acompanhá-lo até à sua última morada.
Tudo porque, por sua livre e espontânea vontade, como nos confidenciou um seu parente bem chegado, a participação do seu funeral foi a mais breve e simples possível, sem foto a acompanhá-la e inserta nos periódicos locais num domingo onde por norma a sua leitura não é feita nas primeira horas do dia, privando-nos de a tempo e horas podermo-nos preparar para acompanhar o seu funeral.

Com a sua morte, O DESPORTO Madeira ficou mais pobre, pois perdeu uma das suas penas mais brilhantes, abrindo-se entre nós um vazio que levará o seu tempo a colmatar.
Conhecemo-lo melhor há umas boas dezenas de anos, quando na sua qualidade de Director Desportivo do Jornal da Madeira, nos convidou a colaborar naquele matutino madeirense.
Aquando da sua liderança, o então Suplemento Desportivo do Jornal da Madeira foi considerado o Melhor de todo o País de publicações não desportivas e foi com grande orgulho que fizemos parte dessa equipa liderada por um homem que jamais se deixou levar por qualquer clubite doentia, sabendo, com o seu exemplo, fazer com que todos os seus subordinados seguissem o mesmo caminho que o seu, informando sempre com rigor e verdade sendo o mais imparciais possível.
Foi na sua “escola” que aprendemos a ser, anos depois, o seu substituto naquelas funções, onde deixou o perfume da sua pena justiceira. Jamais o esqueceremos.
Algures, aquando da sua presidência na Associação de Futebol do Funchal e conhecedor das habilitações que tínhamos como treinador de futebol, em Curso ministrado pelo então Instituto Superior de Educação Física de colaboração com a Federação Portuguesa de Futebol e o Sindicato de Treinadores da modalidade, convidou-nos para ser Treinador da Selecção da Madeira, cargo que obviamente com muito orgulho aceitámos, desempenhando então, gratuitamente, as nossas funções.
Tivemos juntos uma vivência jornalística e desportiva digamos paralela de muitos anos, o tempo mais do que suficiente para podermos afirmar que a Madeira perdeu também nessas duas áreas um grande homem, daqueles que merecem honras de um grande H.
Que a sua alma descanse em paz.

Em vida, Jaime dos Anjos Melim foi vice-Presidente da Direcção da então Associação de Futebol do Funchal, tendo tomado posse desse cargo a 20 de Maio de 1970.
Porém, volvido menos de um ano, mais concretamente a 4 de Janeiro de 1971, assumia a Presidência daquele Organismo Desportivo, cargo onde se manteve até 1978.
Mais tarde, em 28 de Janeiro de 1991, assumia a Presidência da Assembleia Geral da mesma AFF, mantendo-se nesse cargo até 18 de Abril de 1995.
Esteve aquando da sua presidência directamente ligado à entrada do CS Marítimo no futebol nacional.
Da história do Velho Campeão de Portugal colhemos esta passagem, singela mas sentida homenagem dos dirigentes de então para com Jaime dos Anjos Melim: «Na qualidade de Presidente da Associação do Funchal desempenhou um papel primordial na condução do processo de ascensão do Marítimo às provas nacionais. Da sua capacidade de liderança resultou a indispensável clarificação das posições entre os clubes regionais e a consequente distinção entre quem desejava ir mais longe e quem apenas desejava entravar o processo.»
Aqueles que como nós viveram toda essa dura batalha da colectividade do Almirante Reis, ao pretender ingressar no futebol nacional, estarão por certo à vontade para afirmar, sem quaisquer receios de desmentido, que Jaime dos Anjos Melim foi mesmo o grande e principal responsável, entre muitos outros, da realização desse grande sonho de então das gentes maritimistas que lhe ficarão eternamente gratas.

Curiosamente a sua morte coincidiu agora com nova e dura batalha que tem o seu epicentro na velha aspiração da grande família do Marítimo, qual é a de que o seu Glorioso venha a possuir em breve o seu próprio Estádio.
Jaime dos Anjos Melim, também ele um velho associado do CS Marítimo, alimentava no seu íntimo tal aspiração que infelizmente não viu concretizar-se em vida porque Deus achou por bem que havia chegado a sua hora de a Ele se juntar.
Resta-nos desejar que o seu exemplo de lutador brilhante, duma integridade assinalável porque não atropelou quem quer que fosse, batendo-se tão somente por uma causa justa, que ajudou sobremaneira a que se sagrasse vencedora, derrotando sem apelo nem agravo todos aqueles que a todo o custo tentaram entravar os legítimos anseios verde-rubros, resta-nos desejar que o seu exemplo, dizíamos, possa iluminar o Dr. Alberto João Jardim, na sua qualidade de Presidente do Governo Regional na luta que actualmente trava contra todos quantos desesperadamente lutam contra a sua decisão de doar o Estádio dos Barreiros ao Velho Campeão de Portugal.
Da nossa parte, e se Deus nos emprestar a vida para que possamos testemunhar tal acto, fica a promessa de algures lá no Céu onde se encontra com certeza, contarmos em pormenor ao bom e eterno amigo, Jaime dos Anjos Melim, todos os contornos da inauguração dessa legítima aspiração da grande família verde-rubra.