sexta-feira, 21 de março de 2008

Opinião — JM Silva




A morte dum bom
e grande amigo


A notícia do seu passamento inserta nos periódicos locais, através duma participação duma simplicidade assinalável e sem foto, privou-nos, bem como a todos que trabalham nesta casa, de acompanhar o seu corpo até à sua última morada.

Foi a sepultar, no passado domingo, o nosso grande e bom amigo, Jaime dos Anjos Melim, a quem a morte colocou um ponto final no seu prolongado e doloroso sofrimento advindo de doença que não perdoa.
Sabemos que nada nem ninguém vence a morte e que todos sem excepção hão-de ver chegar a sua hora de partir deste Mundo. Chegou a vez dum grande amigo partir, ele que em vida foi exemplo dum simplicidade ímpar que o fez ser estimado por quantos conheceram o seu carácter íntegro, a sua exemplar forma de estar na vida, fazendo amigos como poucos em seu redor.
Só Deus é testemunha da tristeza enorme que nos invade, o quanto lamentamos não nos ter sido possível acompanhá-lo até à sua última morada.
Tudo porque, por sua livre e espontânea vontade, como nos confidenciou um seu parente bem chegado, a participação do seu funeral foi a mais breve e simples possível, sem foto a acompanhá-la e inserta nos periódicos locais num domingo onde por norma a sua leitura não é feita nas primeira horas do dia, privando-nos de a tempo e horas podermo-nos preparar para acompanhar o seu funeral.

Com a sua morte, O DESPORTO Madeira ficou mais pobre, pois perdeu uma das suas penas mais brilhantes, abrindo-se entre nós um vazio que levará o seu tempo a colmatar.
Conhecemo-lo melhor há umas boas dezenas de anos, quando na sua qualidade de Director Desportivo do Jornal da Madeira, nos convidou a colaborar naquele matutino madeirense.
Aquando da sua liderança, o então Suplemento Desportivo do Jornal da Madeira foi considerado o Melhor de todo o País de publicações não desportivas e foi com grande orgulho que fizemos parte dessa equipa liderada por um homem que jamais se deixou levar por qualquer clubite doentia, sabendo, com o seu exemplo, fazer com que todos os seus subordinados seguissem o mesmo caminho que o seu, informando sempre com rigor e verdade sendo o mais imparciais possível.
Foi na sua “escola” que aprendemos a ser, anos depois, o seu substituto naquelas funções, onde deixou o perfume da sua pena justiceira. Jamais o esqueceremos.
Algures, aquando da sua presidência na Associação de Futebol do Funchal e conhecedor das habilitações que tínhamos como treinador de futebol, em Curso ministrado pelo então Instituto Superior de Educação Física de colaboração com a Federação Portuguesa de Futebol e o Sindicato de Treinadores da modalidade, convidou-nos para ser Treinador da Selecção da Madeira, cargo que obviamente com muito orgulho aceitámos, desempenhando então, gratuitamente, as nossas funções.
Tivemos juntos uma vivência jornalística e desportiva digamos paralela de muitos anos, o tempo mais do que suficiente para podermos afirmar que a Madeira perdeu também nessas duas áreas um grande homem, daqueles que merecem honras de um grande H.
Que a sua alma descanse em paz.

Em vida, Jaime dos Anjos Melim foi vice-Presidente da Direcção da então Associação de Futebol do Funchal, tendo tomado posse desse cargo a 20 de Maio de 1970.
Porém, volvido menos de um ano, mais concretamente a 4 de Janeiro de 1971, assumia a Presidência daquele Organismo Desportivo, cargo onde se manteve até 1978.
Mais tarde, em 28 de Janeiro de 1991, assumia a Presidência da Assembleia Geral da mesma AFF, mantendo-se nesse cargo até 18 de Abril de 1995.
Esteve aquando da sua presidência directamente ligado à entrada do CS Marítimo no futebol nacional.
Da história do Velho Campeão de Portugal colhemos esta passagem, singela mas sentida homenagem dos dirigentes de então para com Jaime dos Anjos Melim: «Na qualidade de Presidente da Associação do Funchal desempenhou um papel primordial na condução do processo de ascensão do Marítimo às provas nacionais. Da sua capacidade de liderança resultou a indispensável clarificação das posições entre os clubes regionais e a consequente distinção entre quem desejava ir mais longe e quem apenas desejava entravar o processo.»
Aqueles que como nós viveram toda essa dura batalha da colectividade do Almirante Reis, ao pretender ingressar no futebol nacional, estarão por certo à vontade para afirmar, sem quaisquer receios de desmentido, que Jaime dos Anjos Melim foi mesmo o grande e principal responsável, entre muitos outros, da realização desse grande sonho de então das gentes maritimistas que lhe ficarão eternamente gratas.

Curiosamente a sua morte coincidiu agora com nova e dura batalha que tem o seu epicentro na velha aspiração da grande família do Marítimo, qual é a de que o seu Glorioso venha a possuir em breve o seu próprio Estádio.
Jaime dos Anjos Melim, também ele um velho associado do CS Marítimo, alimentava no seu íntimo tal aspiração que infelizmente não viu concretizar-se em vida porque Deus achou por bem que havia chegado a sua hora de a Ele se juntar.
Resta-nos desejar que o seu exemplo de lutador brilhante, duma integridade assinalável porque não atropelou quem quer que fosse, batendo-se tão somente por uma causa justa, que ajudou sobremaneira a que se sagrasse vencedora, derrotando sem apelo nem agravo todos aqueles que a todo o custo tentaram entravar os legítimos anseios verde-rubros, resta-nos desejar que o seu exemplo, dizíamos, possa iluminar o Dr. Alberto João Jardim, na sua qualidade de Presidente do Governo Regional na luta que actualmente trava contra todos quantos desesperadamente lutam contra a sua decisão de doar o Estádio dos Barreiros ao Velho Campeão de Portugal.
Da nossa parte, e se Deus nos emprestar a vida para que possamos testemunhar tal acto, fica a promessa de algures lá no Céu onde se encontra com certeza, contarmos em pormenor ao bom e eterno amigo, Jaime dos Anjos Melim, todos os contornos da inauguração dessa legítima aspiração da grande família verde-rubra.

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