sexta-feira, 6 de junho de 2008

Projecto passa por deixar marca nas competições europeias

Marítimo ataca
UEFA com Sandri


Vem novamente do Brasil o treinador do Marítimo. Lori Sandri chegará à Madeira no final da próxima semana, a tempo de ultimar pormenores com Carlos Pereira relativamente ao grupo de trabalho para a próxima temporada.

Leia mais na nossa edição impressa.

Junta-se a João Aurélio e a Duje Cop

Ruben Micael
ruma ao Nacional

Sem verbas para grandes investimentos, o Nacional concentra a sua política de contratações em jovens com potencial para evoluir. Depois de João Aurélio e Duje Cop, Rubem Micael deverá ser apresentado, na próxima semana, como novo reforço alvi-negro.

Leia mais na nossa edição impressa.

José Belo esperançado na reviravolta do processo

«Clube poderá fechar»

O Presidente do Machico mostra-se revoltado com o castigo aplicado pelo Conselho de Disciplina e aguarda, com esperança, a anulação da suspensão de duas épocas desportivas pelo Conselho de Justiça da mesma FPF. Caso a decisão se mantenha, adverte, o «encerramento de actividade» será o desfecho.

Leia mais na nossa edição impressa.

Pontassolense foi a melhor equipa da Madeira


Sucesso com Paixão

Fruto de uma II fase de excelente nível, o Pontassolense concluiu a época no segundo lugar, tendo sido a equipa madeirense melhor classificada na II Divisão. Um feito ao qual está fortemente associado o seu treinador, Jorge Paixão, que, ainda assim, entende que «a equipa poderia ter chegado mais longe».

Leia mais na nossa edição impressa.

Santana a três pontos da II Divisão

Subida mora em Cacém

Gil Cunha diz que a equipa está preparada para dar o derradeiro passo e fazer história no clube. Serenidade, confiança e entreajuda são os “mandamentos” do sucesso.

Leia mais na nossa edição impressa.

Isaque Ladeira crê numa boa campanha de Portugal

Surpresa será não
chegar aos “oitavos”

Para o antigo treinador Campeão Regional, Portugal tem todas as condições para ir longe no Campeonato da Europa, pelo menos até às meias-finais.

Leia mais na nossa edição impressa.

IX Fórum dos Treinadores da Madeira


José Peseiro abre formação

O ex-treinador do Nacional vai abrir a reunião magna dos técnicos madeirenses, este ano subordinada ao tema “Interagir, Comunicar e Inovar no Treino Desportivo”.

Cirilo Borges

Começa hoje, na Escola Dr. Horácio Bento Gouveia, a nona edição do Fórum dos Treinadores da Madeira, iniciativa do IDRAM e do Departamento de Educação Física e Desporto da UMa que, ao longo dos anos, tornou-se uma etapa obrigatória na formação da classe. Este ano o tema é “Interagir, Comunicar e Inovar no Treino Desportivo” e segue o mesmo modelo organizativo dos últimos três anos, com o objectivo claro de «proporcionar um espaço de apresentação e de partilha de experiências no âmbito da actividade do treino desportivo e evidenciar os resultados dos trabalhos e estudos ligados à área», conforme se lê no prospecto de apresentação.

Leia mais na nossa edição impressa.

Guadalupe 2008


A melhor edição
de sempre!

Foi uma marca de que uma manifestação desportiva para jovens pode ser pretexto, como neste caso, para uma lição de história, de cultura, dos caminhos de construção de uma sociedade e, porque não dizê-lo, de liberdade.

Francisco Fernandes*

Guadalupe 2008 veio confirmar que os propósitos do COJI, que ultrapassam a mera competição desportiva, se mantêm actuais quando já se prepara a 13ª edição dos Jogos das Ilhas.

Leia mais na nossa edição impressa.

Cinco modalidades em grande nas Caraíbas


Madeira no pódio
das ilhas

Madeirenses alcançaram em Guadalupe a melhor classificação de sempre e trouxeram na memória uma experiência inesquecível.

Cirilo Borges

A Madeira subiu ao terceiro degrau do pódio nos Jogos das Ilhas. Os jovens madeirenses estiveram ao seu melhor nível em Guadalupe e superaram todas as expectativas no tocante ao desempenho desportivo. Tendo como objectivo a repetição do quinto lugar obtido no ano passado, na Córsega, o terceiro lugar coroou uma melhoria notória em algumas modalidades.

Leia mais na nossa edição impressa.

ANDEBOL


Jovens em demanda nacional

Juvenis do Infante tentam lutar pelo título e juniores do Marítimo continuam a lutar pela manutenção na I Divisão.

O Infante disputa este fim-de-semana, em Guimarães, a terceira fase do Campeonato Nacional da I Divisão de juvenis masculinos. Os campeões regionais vão tentar obter o passaporte para a fase final, ou seja, um dos primeiros dois lugares. Para tal, terão de ultrapassar pelo menos dois destes três adversários: ABC, Águas Santas e Francisco de Holanda.

Leia mais na nossa edição impressa.

Espectáculo nas Carreiras superou expectativas


Partida dos diabos

A primeira prova do Regional de Motocross/Quadcross deixou no ar a promessa de uma época muito competitiva, em praticamente todos os escalões. Os adeptos agradecem.

Leia mais na nossa edição impressa.

Rosa Mota quer muita gente a Acreditar


Caminhando pelas crianças

A duas semanas da Corrida da Mulher, a campeã mundial espera ver os madeirenses a sair para a rua, não só para ajudar a Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro, como para ajudarem-se a si mesmos.

Leia mais na nossa edição impressa.

Especial rali de santa cruz

Clique na imagem para ampliar.

Opinião: Vinhais Guedes







Dai-nos, senhores, o futebol
nosso de cada dia

Falai, escrevei muito, quanto à possibilidade de se poder regressar da Suíça, país dos relógios, com um desses exemplares em ouro, prata ou bronze; ou se, pelo contrário, teremos de nos contentar com um feito em Marrocos.


Ofereçam-nos o pão nosso de cada dia.
Dai-nos o alimento que sustenta as ilusões de milhões de portugueses. Alimento que faz esquecer as agruras de uma vida cada vez mais difícil e que enche com histórias e literatura de cordel o vazio existencial.
Falem-nos desses seres humanos especiais, muitos deles vivendo em palacetes com piscinas e garagem de luxo.
Digam-nos o que comem, como passam o seu tempo enclausurados em verdadeiras prisões douradas.
Falem-nos mais dos heróis nacionais. A hora, o minuto e o segundo em que partem para uma espécie de guerra “ou mata ou morre”, como diz o sargento para os soldados, como se tudo isto se tratasse de uma guerra de guerrilha.
Informem-nos se estão previstos fuzilamentos de guarda-redes, pelos disparos de tiros e de canhões da tropa comandada.
Dai-nos pois notícias diárias do ambiente que respiram os ditos, nem que seja de uma unha encravado no pé, da arreliadora pubalgia, ou “distensão muscular”, em suma, do seu estado geral.
Não se esqueçam de palpitar sobre quem vai ou não para a batalha, quem vai vestir as camisolas e quem as vai trocar, no futuro, por outras, recebendo milhões.
Distraiam um pouco este país acabrunhado com os aumentos quase diários da gasolina e seus derivados, do pão, do arroz, das “massas”, estas que raramente faltam aos tais heróis.
Afastai-nos da crise que nos rodeia, como se de um lobo se tratasse.
Só vós sois capazes de conseguir ocupar o tempo, esquecendo o apertar do cinto.
Escrevei páginas e demorai horas falando dos negócios possíveis após o acontecimento.
Dos dinheiros que pela venda ou troca podem ajudar a nossa pobre economia. Especulai sobre esta matéria.
Falai dos tugas, magriços ou lusitanos, só comparáveis aos que dobraram o Cabo das Tormentas há quinhentos anos.
Falai, escrevei muito, quanto à possibilidade de se poder regressar da Suíça, país dos relógios, com um desses exemplares em ouro, prata ou bronze; ou se, pelo contrário, teremos de nos contentar com um feito em Marrocos. Expliquem o que é uma “trivela”, ou o tal fuzilamento dos guarda-redes e o disparo de tiros em locais onde estão proibidas todas as espécies de armas!
Por favor, entretenham-nos, vão distraindo e ocupando os milhares de desempregados deste país.
As vossas notícias e a sua profundidade merecem respeito e admiração.
Explicai-nos também senhores o que é isso, de ser sócio da selecção e do efeito que essa invenção, para além do negócio, traz à moral das nossas tropas.
Não se esqueçam senhores de que o céu e o inferno estão separados por apenas um fio.
Estou certo que a vossa difícil missão será reconhecida por todos os portugueses que consomem e pelos os que não vão muito à bola. E certo também que o supremo serviço que vão prestar ao país e ao governo deste país, desejoso que os “artistas” envolvidos, alguns dos quais do melhor que existe no mundo, façam boa figura e mereçam o reconhecimento pelos altos serviços prestados. Entretanto, o governo fica já grato com as repetidas notícias que constituam o pão nosso de cada dia, aliviando-o das criticas à sua governação.
Fazer esquecer a crise, mesmo que por apenas três meses (antes, durante e depois da acontecimento), sempre dá mais tempo para amenizar o cerco, respirar um pouco mais, ou então suspender a dor temporariamente usando uma espécie de analgésico.

Opinião: Gustavo Pires







À Mulher de César…

Quem ouviu as estórias de velhos dirigentes e alguns mais novos, ouviu certamente estórias de meninas, massagens e quejandas que fazem parte dum certo marialvismo que sempre envolveu o desporto.

À justiça, tal como à mulher de César, não lhe chega ser séria… O que se está a passar no mundo do futebol pode ser muito sério; contudo, para a generalidade dos observadores não deixa transparecer. O apaniguado mais ou menos imparcial o que vê é uma obstinada perseguição a um clube e ao seu líder, porque sabe que tudo aquilo de que são acusados sempre caracterizou a cultura do futebol. Uma cultura de confronto, em que a agonística dos actores em presença foi levada ao último grau. E sempre que foi necessário justificar a manobra, a simulação ou até a trapaça, a invocação do nome de Deus não deixou de ser utilizado sem qualquer pudor. Quando isto aconteceu perante a passividade pedagógica e até a anuência oportunista dos responsáveis, o que é que se podia esperar? Que o mundo do futebol fosse um mundo de anjinhos?
Quando Maradona, em 1986, marcou com a mão o golo que havia de apurar a Argentina para as semi-finais do Campeonato do Mundo (México), a generalidade dos adeptos das melhores famílias considerou a atitude do futebolista como um acto normal, que fazia parte do jogo na sua dinâmica de simulação e pantomina que sempre o há-de caracterizar. E a justificarem a trapaça afirmaram piamente que ela foi cometida pela “mão de Deus”.
Aqueles que acompanham o futebol nacional até há muito pouco tempo sempre ouviram dizer que o “plano estratégico” de qualquer treinador, que se prezasse, incluía uma rubrica para os árbitros. Depois, tal como diziam não acreditar, mas que havia bruxas ninguém tinha dúvidas. A contabilidade criativa, paralela e subterrânea no mundo do desporto em geral e do futebol em particular sempre existiu, toda a gente sabia que era ilegal mas todos a aceitavam. Tudo era feito por amor ao desporto, ao clube, ao futebol e até à pátria. Quem ouviu as estórias de velhos dirigentes e alguns mais novos, ouviu certamente estórias de meninas, massagens e quejandas que fazem parte dum certo marialvismo que sempre envolveu o desporto.
O que é facto é que a generalidade dos políticos viveu bem com esta situação. E na maior das hipocrisias, políticos, técnicos e praticantes juravam que o desporto era educação e um espaço de virtudes. Contudo, o desporto, em muitas situações, com o beneplácito de dirigentes desportivos e políticos, foi bem um antro de perversão. Era o jogo total. Tudo se relacionava com tudo e o jogo integrava o próprio jogo que era a vida. Parafraseando David Miller, que escreveu a biografia de Antonio Samaranch, diremos que “no mundo existem seis idiomas universais: dinheiro, política, arte, sexo corrupção e desporto. O curioso é que o desporto reúne elementos de todos os outros.
Até aos anos oitenta, de uma maneira geral, o jogo desenrolou-se num mundo próprio, num mundo do faz de conta em que as questões económicas eram de somenos inconstância pelo que, no fim, mais ou menos, todos se divertiam. Entretanto, o mundo mudou. De repente apareceu a televisão. O desporto entrou pelas casas adentro. E o dinheiro, assim como que por magia, começou a entrar a rodos no sistema. Com o dinheiro chegaram os economistas e os especialistas em marketing, os gestores financeiros, de carteiras, de projectos e os famigerados empresários. O jogo deixou de ser a feijões e, como tal, o conflito de interesses não se fez esperar. Claro que os conflitos trouxeram a reboque os advogados que se encarregaram de defender as partes em confronto. Depois, vieram os juristas, era necessário haver alguém que explicasse à generalidade dos apaniguados as subtilezas do jogo. Quer dizer que aquilo que fazia parte do jogo passou a ser considerado crime e a ser julgado pelo emaranhado das leis que, com mais ou menos contradições, entretanto tinham sido produzidas.
Quer dizer que o paradigma do jogo mudou sem que a generalidade dos políticos se apercebesse. E o país papalvo deu por si a pensar que o futebol nacional era um antro de corruptos que era necessário meter na cadeia o mais depressa possível.
Contudo, perante o que está a acontecer é necessário perceber que enquanto andam entretidos atrás de uns tantos pilha-galinhas que para o bem e para o mal alimentaram o jogo e, independentemente de alguma alienação fascista a todos os títulos condenável, transformaram o futebol na indústria de maior êxito nacional. Os verdadeiros problemas que desgraçam o país e o colocam na cauda da Europa, com pobreza e assimetrias sociais absolutamente obscenas, passam completamente despercebidos. Depois, quando o Zé acordou de manhã e leu nos jornais que se pagaram 800 milhões de euros por um produto que podia ter custado quatro ou cinco vezes menos, e, depois, vê à noite na televisão a cara dos responsáveis que participaram na jogatana, vê-se como figurante de um filme ao estilo da “grande golpada”.
Por isso, o pagode desconfia. Desconfia quando vê o país gastar energias atrás de bodes expiatórios que, a terem feito qualquer coisa, não fizeram mais do que aquilo que os outros sempre fizerem, porque tudo aquilo de que são acusados fazia parte do jogo e da cultura vigente. Mas o país lamenta que tudo tenha acontecido a partir de uma luta fratricida sem quartel e sem qualquer sentido em que, bem vistas as coisas, são todos responsáveis e ninguém devia ter a pouca vergonha de atirar a primeira pedra. O país lastima ainda tantos anos de olímpico desleixo por parte de um poder político e desportivo que é tanto ou mais responsável do que aqueles que agora impávido e sereno vê condenar.
As agremiações desportivas tal como as “sociedades primitivas”, por princípio, recusam toda e qualquer subordinação ao seu líder sem que o líder tenha de deixar de existir e exercer o poder que lhe compete. São os membros da agremiação e as suas teias de poder que controlam o líder que acaba por ficar muito limitado no que diz respeito à imposição da sua vontade. No entanto, ele sabe que não a pode deixar de aplicar, sob pena de se perder a si mesmo. É esta realidade que é necessário atender antes de se consumarem “julgamentos” que, aos olhos da generalidade dos cidadãos, não são senão uma maneira diferente de fazer precisamente a mesma coisa que pretendem condenar.
É que a mulher de César tem mesmo que parecer séria. E ao país não lhe chega ser só sério. Tem de parecer…

Opinião: Manuel Sérgio






O Maio de 1968 e o Desporto

A "sociedade do espectáculo" (poderíamos, hoje, dizer o mesmo) não passa de uma ditadura manhosa, acoitando sob a capa de uma linguagem balofa uma vontade imparável de manipulação e exploração.


Na década de 60, a França não era apenas o passado, no seu sentido militar, artístico, literário, filosófico e político – era também um país que se industrializava e timbrava, com emotividade profunda, por enterrar um mundo que, aos poucos, se extinguia, ao mesmo tempo que apontava a revolução, como a “conditio sine qua non” à mudança de paradigma, em todas as áreas da vida social. Em iracundo chinfrim, fértil em chalaça e tropos envenenados, estudantes, operários, artistas, intelectuais gritavam: «Ce n’est qu’un début, continuons le combat!». Havia, segundo todos eles, que transformar radicalmente a sociedade e a própria filosofia, já que o estruturalismo encanecera, deixara de despertar grandes emoções e o sujeito despontava, de novo, aventuroso, altivo e arremessado a todo o quadrante de recursos. A grande recusa da ordem social estabelecida, que “unidimensionalizava” as pessoas, já por ela haviam lutado os berlinenses de 1953, os húngaros e os polacos em 1956. Na capital francesa de 1968, lia-se, com avidez, a revista "Argument" dos dissidentes do PCF; e ainda a "Histoire de la Folie» de Michel Foucault e a "Critique de la raison dialectique", de Jean-Paul Sartre. Mas, sobre o mais, a "Société du Spectacle" de Guy Debord, o "Traité du savoir vivre à l’usage des jeunes générations" de Raoul Vaneigem e "L’Homme Unidimensionnel" de Herbert Marcuse. Com forte informação ideológica, os revoltosos desdenhavam dos métodos antigos, incluindo os leninistas, e de todas as frioleiras da religião, da política, da moral institucionalizadas. Ora, um babaréu crescente começou também a emergir do desporto. Na "Société du Spectacle", Guy Debord, fundamentando-se nas teses de Lucaks, desenvolve a ideia da transformação da mercadoria em espectáculo, através da reificação das pessoas. A "sociedade do espectáculo" (poderíamos, hoje, dizer o mesmo) não passa de uma ditadura manhosa, acoitando sob a capa de uma linguagem balofa uma vontade imparável de manipulação e exploração. Jean Baudrillard, na revista "Le Magazine Littéraire" (Abril-Maio de 2008), diz-nos que a crítica ao espectáculo descambou, então, num tal radicalismo que a racionalidade necessária a uma crítica desaparecia no meio do espalhafato de adjectivos sem conta e sem medida...
Mas o rio da contestação seguia o seu curso e chegou, de facto, ao espectáculo desportivo. Em França... porque, em Portugal, continuava a celebrar-se um feito inédito: Portugal, no Mundial de Inglaterra, classificara-se, no terceiro lugar! Ao mesmo tempo, há 42 anos atrás, ao Eusébio consideravam-no o melhor futebolista do mundo – ele que, um ano antes, fora distinguido pela "France Football", com a “Bola de Ouro”, prémio atribuído ao melhor jogador da Europa! No Portugal de Salazar, logo um acervo de cronistas, cuja vitalidade culminava no editorial doutrinário e político, medularmente estadonovista, entrou de proclamar que a selecção nacional de futebol desfazia os equívocos dos que descobriam, no Portugal de Salazar, um explorador de povos que, por força do nosso subdesenvolvimento, jaziam parados no tempo dos “Vizos-Reis”. Com efeito, entre os "Magriços", destacavam-se o Vicente, o Coluna, o Hilário e o Eusébio, africanos como os que são! Portugal era uno (garganteavam eles) do Minho a Timor – uno, acrescentemos nós, principalmente nos infortúnios, pois que a política de Salazar era de raízes profundamente presas ao integralismo reaccionário e fascizante e a um católicocentrismo que também levaria à fogueira o Giordano Bruno! «O ano de 1968 trouxe novos motivos de regozijo para os adeptos portugueses, como a presença do Benfica em mais uma final da Taça dos Campeões Europeus e a conquista da primeira “Bota de Ouro” (galardão atribuído ao melhor marcador europeu) pelo nosso futebol, graças à excelência de Eusébio” (João Nuno Coelho e Francisco Pinheiro, "A Paixão do Povo – história do futebol em Portugal", Edições Afrontamento, Porto, 2002, p.480). Em França, alguns números das revistas "Partisans" e "Quel Corps?" e ainda o livro "Sport, culture et répression", editado pela Maspero, apresentavam uma prosa repleta dos três M (Marx, Mao e Marcuse) e também uma personalidade original, inconformada e livre, para concluírem: o desporto moderno começou por ser uma prática de classe, dado que só a burguesia a podia entender como lazer ou recreação (ao proletário, que sobrevivia num quase anonimato, só o trabalho se lhe permitia); a constituição do desporto mundial é concomitante à consolidação do imperialismo (a Inglaterra exportou as práticas desportivas, com as mercadorias e o material de guerra); as classificações, nos campeonatos desportivos, são a consagração da desigualdade existente na sociedade capitalista; o resultado é, por seu turno, o prestígio do quantitativo, pois que o atleta, autêntico homem-máquina, vale o que valem as suas performances; o desporto é um aparelho ideológico do Estado e adormece, por isso, os espectadores à recusa da sociedade injusta estabelecida; no espectáculo desportivo, não há amadorismo, pois que só em regime profissional o espectáculo pode manipular e o espectador reificar-se; o desporto é um subsistema do sistema capitalista e os clubes, portanto, funcionam como firmas comerciais, em perene emulação no mercado desportivo; ao espectáculo desportivo não lhe interessam muitos praticantes, mas muitos espectadores; os escândalos que enodoam o desporto (como a corrupção, como a violência, como o doping, etc.) são meros aspectos da crise global do capitalismo, incluindo o capitalismo monopolista de Estado; o desporto de alta competição contribui à manutenção do capitalismo, reproduzindo e multiplicando as suas categorias: a competição, o rendimento, a medida, o recorde!
As ideias de Maio de 1968 fizeram do espectáculo desportivo veículo e intérprete do capitalismo e do capitalismo monopolista de Estado. Herbert Marcuse triunfou nelas. No prefácio da sua "Razão e Revolução", ele escreve: «Compreender a realidade significa compreender o que as coisas são, o que exige, por sua vez, a não aceitação da sua aparência (...). Também no capitalismo a verdade é o todo e o todo é falso» ... como acontece com o desporto actual!

Opinião: JM Silva







Conservadorismo
ou casmurrice?

Na estrutura do sector do meio-campo da nossa Selecção tem estado o calcanhar de Aquiles e nem por isso Scolari alguma vez abdicou dos dois sistemas tácticos que sempre privilegiou desde que assumiu as funções de Seleccionador de Portugal. Temos razões para temer pelo futuro da equipa de todos nós neste Euro 2008. Oxalá nos enganemos…

Luís Felipe Scolari, na sua qualidade de seleccionador-treinador da equipa de todos nós, fez como lhe competia a escolha dos vinte e três elementos que estarão consigo na Suíça e na Áustria na altura do Euro 2008 que tem o seu pontapé-de-saída aprazado para o próximo sábado 7 de Junho e onde Portugal irá defrontar a Turquia no seu primeiro encontro do certame, numa primeira fase de grupos, onde no seu, para além dos turcos terá que medir forças com suíços e checos, na busca dum dos dois lugares que dão acesso à fase seguinte onde os jogos serão a eliminar.
Convenhamos que independentemente das opções de quem escolhe, esta é uma missão sempre complexa, porque nem sempre, ou mesmo nunca, recolhe qualquer tipo de unanimidade, por motivos vários onde o credo clubístico assume porventura o maior papel, o que origina um número incontrolável de opiniões, onde a grande maioria se julga dona da verdade.
Levando consigo vinte e três jogadores, entre eles três guarda-redes, ficando um deles de fora, torna-se evidente que Scolari tem em princípio ao seu dispor duas equipas completas o que indica à partida ter duas opções para cada lugar na nossa selecção.
Na prática, contudo, não é isso que se verifica no lote dos seleccionados, o que "a priori" denuncia um critério de escolha algo discutível e como tal não isento dalgumas críticas, inclusive das nossas.
E lá estamos nós, a exemplo de muitos outros, a meter "foice em seara alheia", o que ao fim e ao cabo vem confirmar a regra, qual é natural falta de unanimidade nas escolhas deste ou de qualquer outro seleccionador nacional.

Conservador por excelência, feitio a que muitos apelidam de casmurrice, não é crível que Scolari venha a abdicar dos dois sistemas tácticos com que melhor se identifica e que tem vindo a privilegiar desde que assumiu as funções de seleccionador-treinador de Portugal, o 4x4x2 e o 4x3x3.
Entre outros encontros mais em que se mostrou incapaz de assumir outro qualquer figurino táctico, temos os últimos três encontros em que Portugal teve como adversário a Grécia, averbando três derrotas consecutivas, perante uma equipa que não teve nada a modificar no seu estilo de jogo para levar de vencida uma formação fiel ao seu esquema habitual.
O suficiente para acreditarmos que Scolari manterá as suas opções tácticas, aquelas em que se revê e daí o termos forçosamente que discordar dalgumas das suas 23 escolhas para a campanha do Euro 2008 que aí está à porta.
Ressalta à vista a incompreensível convocação de três defesas laterais direitos de raiz e nenhuma opção para o lado contrario, daí resultando inevitáveis adaptações para o corredor esquerdo da nossa defensiva; a chamada de quatro excelente defesas centrais, do melhor que existe na Europa do futebol, para prescindir de dois deles em cada jogo; dispor de quatro médios-extremos do melhor que existe no Mundo da bola, podendo qualquer um deles alinhar indistintamente em ambos os flancos, não podendo obviamente fazer alinhar todos eles em simultâneo, o que deixará pelo menos dois deles com um certo sentimento de injustiça por terem sido preteridos; falando de goleadores, vulgo pontas-de-lança e dado que os melhores que actuam em Portugal são todos estrangeiros (Lisandro, Liedson, Cardoso, Pitbull entre outros mais), as opções não poderiam ter sido outras.
Contudo, e embora possa parecer um paradoxo, temos para nós que com este excelente naipe de jogadores agora seleccionados, Portugal tem fortes possibilidades de construir uma das equipas mais fortes deste Europeu 2008, mas… desde que Scolari abdique das suas convicções tácticas. Lá chegaremos.

Hoje por hoje, nenhuma das equipas do topo do futebol mundial abdica de jogar com um meio-campo sem um ou até mesmo dois “trincos”, vulgarmente apelidados de “carregadores de piano” para garantirem nessa zona vital do terreno de jogo uma rápida recuperação das bolas perdidas, para que as entreguem aos jogadores mais criativos que se encarregam da sua distribuição da forma tida por mais eficaz.
Tem vindo nos últimos tempos a constituir um verdadeiro calcanhar de Aquiles da nossa selecção o seu meio-campo, um sector que, simultaneamente, seja capaz de travar as iniciativas atacantes contrárias para depois lançar o contra-ataque devidamente apoiado.
Ainda no último ensaio frente à modestíssima Geórgia, foram por de mais evidentes as carências dos dois conjuntos de três centrocampistas que actuaram nos primeiros 45 minutos e daqueles que alinharam no segundo tempo, que defenderam quase sempre mal e que em termos ofensivos foram incapazes de descobrir linhas de passe favoráveis para municiarem os seus colegas mais adiantados.
Por este motivo, aquilo que mais deverá preocupar Scolari neste momento é, fundamentalmente, a estrutura do “miolo” da nossa selecção, sendo que ao fazê-lo terá também que alterar algo nos sectores defensivos e ofensivo da equipa mas aí as coisas apresentam-se muito mais facilitadas, isto em conformidade com o plantel de que dispõe. Resta saber-se se o “Sargentão” será capaz de dar a mão à palmatória.

Poucas dúvidas existirão por certo que o sistema que melhores garantias oferece em termos de coesão a qualquer equipa de futebol, permitindo-lhe uma maior e melhor ocupação de espaços no terreno de jogo, é o figurino expresso pelo 1x3x5x2 desdobrável facilmente em defensivas e ofensivas.
Para tal, necessário se torna contar com elementos que possam corresponder plenamente às necessidades que este dispositivo contempla e, é nossa convicção que Portugal tem todo o “material humano” para optar por um sistema deste género, formando uma equipa das mais poderosas da Europa, continente onde militam actualmente e em grandes equipas mais de 50% dos 23 eleitos por Scolari e que por aí só dariam para formar um “onze” capaz de grandes feitos alinhando com: Ricardo, Miguel, Pepe, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Nani, F. Meira e Deco, C. Ronaldo, Hugo Almeida e Simão, restando ainda o Hélder Postiga para qualquer eventualidade.
Torna-se porém evidente que dos restantes onze elementos que actuam no campeonato português, alguns deles já com guias de marcha para outros países, teriam lugar na nossa selecção que vai estar no Euro 2008.
Postas todas estas considerações, eis a nossa formação ideal: Na baliza, Ricardo ou Quim, qualquer deles oferece garantias; à frente de um deles, um trio de defesas-centrais polivalentes no actuar indistintamente à direita, ao centro e à esquerda (Ricardo Carvalho, Pepe e Bruno Alves); diante deste trio, um quinteto com dois dos seus elementos com funções mais defensivas (F. Meira e João Moutinho), no meio deles um médio que será o “pensador” de todo o futebol ofensivo, o tal n.º 10, cuja principal missão será distribuir jogo com total liberdade para se incorporar nos movimentos ofensivos (Deco) e nas alas com a dupla missão de defender e atacar consoante as circunstâncias para o que é necessária forte cultura táctica (Nani e Jorge Ribeiro parecem-nos os mais rotinados para tais funções); finalmente dois atacantes nas meias direita e esquerda (Cristiano Ronaldo, aproveitando a sua veia goleadora e Hugo Almeida, um bom cabeceador, seriam os eleitos) e que muito beneficiariam com as entradas em terrenos ofensivos dos médios-ala, alargando consideravelmente a frente de ataque.
Seria Scolari capaz de aceitar uma sugestão deste género? Duvidamos…