sexta-feira, 6 de junho de 2008

Opinião: JM Silva







Conservadorismo
ou casmurrice?

Na estrutura do sector do meio-campo da nossa Selecção tem estado o calcanhar de Aquiles e nem por isso Scolari alguma vez abdicou dos dois sistemas tácticos que sempre privilegiou desde que assumiu as funções de Seleccionador de Portugal. Temos razões para temer pelo futuro da equipa de todos nós neste Euro 2008. Oxalá nos enganemos…

Luís Felipe Scolari, na sua qualidade de seleccionador-treinador da equipa de todos nós, fez como lhe competia a escolha dos vinte e três elementos que estarão consigo na Suíça e na Áustria na altura do Euro 2008 que tem o seu pontapé-de-saída aprazado para o próximo sábado 7 de Junho e onde Portugal irá defrontar a Turquia no seu primeiro encontro do certame, numa primeira fase de grupos, onde no seu, para além dos turcos terá que medir forças com suíços e checos, na busca dum dos dois lugares que dão acesso à fase seguinte onde os jogos serão a eliminar.
Convenhamos que independentemente das opções de quem escolhe, esta é uma missão sempre complexa, porque nem sempre, ou mesmo nunca, recolhe qualquer tipo de unanimidade, por motivos vários onde o credo clubístico assume porventura o maior papel, o que origina um número incontrolável de opiniões, onde a grande maioria se julga dona da verdade.
Levando consigo vinte e três jogadores, entre eles três guarda-redes, ficando um deles de fora, torna-se evidente que Scolari tem em princípio ao seu dispor duas equipas completas o que indica à partida ter duas opções para cada lugar na nossa selecção.
Na prática, contudo, não é isso que se verifica no lote dos seleccionados, o que "a priori" denuncia um critério de escolha algo discutível e como tal não isento dalgumas críticas, inclusive das nossas.
E lá estamos nós, a exemplo de muitos outros, a meter "foice em seara alheia", o que ao fim e ao cabo vem confirmar a regra, qual é natural falta de unanimidade nas escolhas deste ou de qualquer outro seleccionador nacional.

Conservador por excelência, feitio a que muitos apelidam de casmurrice, não é crível que Scolari venha a abdicar dos dois sistemas tácticos com que melhor se identifica e que tem vindo a privilegiar desde que assumiu as funções de seleccionador-treinador de Portugal, o 4x4x2 e o 4x3x3.
Entre outros encontros mais em que se mostrou incapaz de assumir outro qualquer figurino táctico, temos os últimos três encontros em que Portugal teve como adversário a Grécia, averbando três derrotas consecutivas, perante uma equipa que não teve nada a modificar no seu estilo de jogo para levar de vencida uma formação fiel ao seu esquema habitual.
O suficiente para acreditarmos que Scolari manterá as suas opções tácticas, aquelas em que se revê e daí o termos forçosamente que discordar dalgumas das suas 23 escolhas para a campanha do Euro 2008 que aí está à porta.
Ressalta à vista a incompreensível convocação de três defesas laterais direitos de raiz e nenhuma opção para o lado contrario, daí resultando inevitáveis adaptações para o corredor esquerdo da nossa defensiva; a chamada de quatro excelente defesas centrais, do melhor que existe na Europa do futebol, para prescindir de dois deles em cada jogo; dispor de quatro médios-extremos do melhor que existe no Mundo da bola, podendo qualquer um deles alinhar indistintamente em ambos os flancos, não podendo obviamente fazer alinhar todos eles em simultâneo, o que deixará pelo menos dois deles com um certo sentimento de injustiça por terem sido preteridos; falando de goleadores, vulgo pontas-de-lança e dado que os melhores que actuam em Portugal são todos estrangeiros (Lisandro, Liedson, Cardoso, Pitbull entre outros mais), as opções não poderiam ter sido outras.
Contudo, e embora possa parecer um paradoxo, temos para nós que com este excelente naipe de jogadores agora seleccionados, Portugal tem fortes possibilidades de construir uma das equipas mais fortes deste Europeu 2008, mas… desde que Scolari abdique das suas convicções tácticas. Lá chegaremos.

Hoje por hoje, nenhuma das equipas do topo do futebol mundial abdica de jogar com um meio-campo sem um ou até mesmo dois “trincos”, vulgarmente apelidados de “carregadores de piano” para garantirem nessa zona vital do terreno de jogo uma rápida recuperação das bolas perdidas, para que as entreguem aos jogadores mais criativos que se encarregam da sua distribuição da forma tida por mais eficaz.
Tem vindo nos últimos tempos a constituir um verdadeiro calcanhar de Aquiles da nossa selecção o seu meio-campo, um sector que, simultaneamente, seja capaz de travar as iniciativas atacantes contrárias para depois lançar o contra-ataque devidamente apoiado.
Ainda no último ensaio frente à modestíssima Geórgia, foram por de mais evidentes as carências dos dois conjuntos de três centrocampistas que actuaram nos primeiros 45 minutos e daqueles que alinharam no segundo tempo, que defenderam quase sempre mal e que em termos ofensivos foram incapazes de descobrir linhas de passe favoráveis para municiarem os seus colegas mais adiantados.
Por este motivo, aquilo que mais deverá preocupar Scolari neste momento é, fundamentalmente, a estrutura do “miolo” da nossa selecção, sendo que ao fazê-lo terá também que alterar algo nos sectores defensivos e ofensivo da equipa mas aí as coisas apresentam-se muito mais facilitadas, isto em conformidade com o plantel de que dispõe. Resta saber-se se o “Sargentão” será capaz de dar a mão à palmatória.

Poucas dúvidas existirão por certo que o sistema que melhores garantias oferece em termos de coesão a qualquer equipa de futebol, permitindo-lhe uma maior e melhor ocupação de espaços no terreno de jogo, é o figurino expresso pelo 1x3x5x2 desdobrável facilmente em defensivas e ofensivas.
Para tal, necessário se torna contar com elementos que possam corresponder plenamente às necessidades que este dispositivo contempla e, é nossa convicção que Portugal tem todo o “material humano” para optar por um sistema deste género, formando uma equipa das mais poderosas da Europa, continente onde militam actualmente e em grandes equipas mais de 50% dos 23 eleitos por Scolari e que por aí só dariam para formar um “onze” capaz de grandes feitos alinhando com: Ricardo, Miguel, Pepe, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Nani, F. Meira e Deco, C. Ronaldo, Hugo Almeida e Simão, restando ainda o Hélder Postiga para qualquer eventualidade.
Torna-se porém evidente que dos restantes onze elementos que actuam no campeonato português, alguns deles já com guias de marcha para outros países, teriam lugar na nossa selecção que vai estar no Euro 2008.
Postas todas estas considerações, eis a nossa formação ideal: Na baliza, Ricardo ou Quim, qualquer deles oferece garantias; à frente de um deles, um trio de defesas-centrais polivalentes no actuar indistintamente à direita, ao centro e à esquerda (Ricardo Carvalho, Pepe e Bruno Alves); diante deste trio, um quinteto com dois dos seus elementos com funções mais defensivas (F. Meira e João Moutinho), no meio deles um médio que será o “pensador” de todo o futebol ofensivo, o tal n.º 10, cuja principal missão será distribuir jogo com total liberdade para se incorporar nos movimentos ofensivos (Deco) e nas alas com a dupla missão de defender e atacar consoante as circunstâncias para o que é necessária forte cultura táctica (Nani e Jorge Ribeiro parecem-nos os mais rotinados para tais funções); finalmente dois atacantes nas meias direita e esquerda (Cristiano Ronaldo, aproveitando a sua veia goleadora e Hugo Almeida, um bom cabeceador, seriam os eleitos) e que muito beneficiariam com as entradas em terrenos ofensivos dos médios-ala, alargando consideravelmente a frente de ataque.
Seria Scolari capaz de aceitar uma sugestão deste género? Duvidamos…

Sem comentários: