sexta-feira, 30 de maio de 2008

Conselho de Disciplina da FPF suspende Machico

Segundo o DM apurou, junto de fonte fiável, o Conselho de Disciplina da FPF decidiu suspender a AD Machico por duas épocas desportivas. Uma decisão que surge na sequência do imbróglio que envolveu a viagem do Machico, na última jornada do campeonato, ao reduto do Maria da Fonte (o jogo iniciou-se com meia hora de atraso).
Uma notícia que o DM continuará a acompanhar, quer na sua edição on-line, quer na sua edição impressa.

Marítimo prepara nova época, que marca 6.ª presença na UEFA


Nas mãos de Carlos Pereira

Carlos Pereira continua ausente do país, a preparar a nova temporada verde-rubra. O presidente do Marítimo tem em mãos diversos “dossiers”, a começar pelo do treinador, que deve ser de novo estrangeiro. Pedro Moutinho é o único reforço contratado, mas outros vão seguir-se, pois todos os sectores da equipa precisam de retoques.

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Carlos Jorge e a prospecção do Nacional na Finlândia

Teemu Pulki acabou
por ir para o Sevilha

O Presidente do Nacional desloca-se por estes dias à Finlândia com a missão de reforçar o plantel para a próxima época. O empresário madeirense, Carlos Jorge, nomeia alguns dos talentos do futebol finlandês.

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Falhou pela quarta vez consecutiva subida à Liga de Honra


Jardim trama União

Ditou a ironia do destino que fosse um madeirense, Leonardo Jardim, treinador do Chaves, a uma jornada do final do campeonato, a acabar com as possibilidades do União em chegar ao primeiro lugar. No entanto, verdade seja dita, os azul-amarelos só se podem queixar de si próprios por novo falhanço desportivo.

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Celso Almeida corrosivo face ao futebol nacional

«Mais parece a república
das bananas!»


O Presidente da AD Camacha mostra-se desagradado com os recentes cortes financeiros, acusando o Governo Regional e Central de, juntamente com a Autarquia, promoverem a «subsídio-privação».

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Santana inicia ciclo decisivo frente ao Elvas


Verdes de esperança!

São duas autênticas finais que o Santana tem pela frente no sentido de, pela primeira vez na sua história, ascender à II Divisão. Uma "prova de fogo" que inicia-se, este fim-de-semana, frente ao Elvas, e termina na última jornada em Cacém.

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Fut. Regional: Canicense procura treinador

Andorinha não avança
para a III Divisão

Está decidido: o Andorinha não avançará para a III Divisão Nacional, optando por concentrar as suas aspirações, na próxima época, na renovação do título. No Canicense, continua por definir o nome do sucessor de Paulo Gomes no comando técnico. Henrique Teixeira e Miguel Ângelo são dois dos nomes ventilados.

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Futsal: Ricardo Caldas treina São Roque do Faial


Aposta forte a norte

O antigo treinador do Nacional vai liderar na próxima época a equipa santanense com o claro intuito de colocá-la no topo da I Divisão Regional.

Cirilo Borges

O defeso do futsal regional começou com uma transferência de peso, com Ricardo Caldas a deixar o Nacional para juntar-se ao São Roque do Faial. Trata-se de (mais) uma aposta forte do clube de Santana, quiçá a espreitar o triunfo na principal competição da modalidade, o que não sucedeu desde a primeira época em que realizou-se competição federada na Região. Nas últimas épocas, os sanroquinos ocuparam sempre o topo da classificação, mas sem nunca serem principais protagonistas do campeonato ou da Taça da Madeira.

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Francisco Fernandes quer rentabilizar parque desportivo regional




Madeira estuda 2011

O Secretário Regional de Educação e da Cultura adianta com a possibilidade da Região voltar a receber os Jogos das Ilhas, mas numa lógica «mais abrangente de promoção turística internacional». Para já, conta com o apoio do Vice-Presidente do Governo Regional.

Especial Rali de Santa Cruz


Camacho enfrenta cronómetro

Vai amanhã para a estrada a terceira prova do Campeonato da Madeira Coral de Ralis. Alexandre Camacho e Pedro calado têm como grandes adversários o cronómetro.

O Campeonato da Madeira Coral de Ralis recomeça amanhã com a realização do terceiro evento elegível para aquela competição criada pela Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting. Celebrando a sua 25.ª edição, o Rali Santa Cruz é uma organização do SC Santacruzense que retoma com um novo horário o esquema já utilizado em 2007. Bastante compacto, o programa prevê na prática três traçados que são cumpridos duas vezes num sentido e uma noutro. Fácil de reconhecer, a prova surge, no entanto, algo diminuída face às últimas edições pela sua curta lista de inscritos.
Daí resulta que, em condições normais e levando em conta as prestações rubricadas até agora, Alexandre Camacho e Pedro Calado arrancam como grandes favoritos ao triunfo absoluto. Tal como sucedia no passado com a formação da Sá Competições, a dupla do Peugeot 207 S2000 com as cores da Olca terá como grande opositor o cronómetro e uma eventual descontracção que o facto de rodar sozinha possa acarretar. Para além disso, importará também ganhar ritmo para o seu próximo desafio real aquando do Rali Vinho Madeira e conseguir o melhor acerto da competitiva máquina ao seu dispor.

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Ténis de Mesa: Madeirense foi a mais forte

Neves refresca Absoluto

Ana Cristina Neves surpreendeu tudo e todos ao sagrar-se Campeã Nacional Absoluta. Um título que não vinha para a Madeira há mais de dez anos.

Cirilo Borges

Se o triunfo de um madeirense no Nacional Absoluto seria uma surpresa, então o de uma rapariga muito mais! A última vez que uma madeirense conquistou este título foi na época 96/97, então pelas mãos de Ana Cristina Freitas, com a camisola do Estreito. Desde então, nem mesmo Elsa Henriques, durante alguns anos a melhor jogadora portuguesa, foi capaz de erguer este troféu.

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Marítimo numa autêntica final com o Fermentões

Maratona pela manutenção

Os verde-rubros estão obrigados a vencer amanhã para continuarem a luta pela permanência na I Divisão Nacional de juniores.

Cirilo Borges

Com a competição nacional sénior praticamente concluída — falta apenas a realização da “Final Four” da Taça de Portugal feminina, agendada para os próximos dias 21 e 22 de Junho —, naturalmente que o centro da actividade, como deveria ser sempre, está nos escalões de formação.

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Opinião: Gustavo Pires







Algumas Recomendações Úteis
para o Luiz Felipe

A estratégia, na dinâmica da batalha que é cada jogo, consuma-se na configuração táctica. E esta, organiza-se de acordo com a intenção estratégica do inimigo.

Gustavo Pires (*)

O Luiz Felipe sabe que o jogo se desenrola num ambiente agónico onde as vontades dos treinadores se confrontam numa dialéctica de soma nula. E assim ficam criadas as condições para que a estratégia possa acontecer.
A estratégia é essencialmente uma construção intelectual, quer dizer, um sistema de pensamento fortemente condicionado por factores de índole técnica e cultural, bem como por considerações de ordem ética e moral. E porque? Porque a estratégia no seu fundamental é a arte de, quer directa, quer indirectamente, empregar a violência controlada, a fim de submeter o adversário e alcançar os fins previamente determinados.
Mas, o Luiz Felipe sabe que, no domínio de complexidade extrema em que se desenrola o pensamento estratégico, as receitas são falaciosas na medida em que as decisões serão sempre adoptadas em função de uma determinada conjuntura. Se 2006 não foi 2004, 2008, não será certamente nem 2004 nem 2006.
A estratégia, na dinâmica da batalha que é cada jogo, consuma-se na configuração táctica. E esta, organiza-se de acordo com a intenção estratégica do inimigo. A oportunidade do Luiz Felipe é que os treinadores ao longo dos tempos, reduziram a estratégia ao consumar táctico do jogo. Na realidade, a palavra estratégia não faz parte do léxico dos treinadores. E quando faz, geralmente nem é utilizada no seu verdadeiro sentido. Quer dizer, os treinadores reduziram o jogo à sua dimensão mais simples, desprovendo-o do sentido estratégico do confronto, e limitando-o a uma disposição das pedras nas quatro linhas. Contudo, se aparentemente o dispositivo táctico é uma questão simples a resolver, por outro lado, não quer dizer que seja fácil na medida em que só funciona na sua plenitude se estiver consubstanciado numa visão estratégica que dá um sentido ao confronto.
Porque, na batalha que é o jogo, o objectivo principal consiste na ruptura da formação de combate do adversário e na subsequente desorganização da equipa. Nesta perspectiva, o fim último da cada batalha consiste em desorganizar a coerência do dispositivo constituído pela muralha de combatentes adversários. E a desorganização da muralha adversária que é a configuração táctica passa por conhecer o próprio adversário. Conhecer os dirigentes, o treinador, os jogadores e os seus líderes, bem como os próprios apaniguados. É necessário conhecer a cultura que anima a equipa adversária, a sua dinâmica interna e a perspectiva com que ataca o jogo. E quando o Luiz Felipe o faz, muda de um paradigma táctico para um estratégico, aumentando, deste modo, o padrão de complexidade de análise do jogo e da organização da vitória.
Assim, o Luiz Filipe tem de começar por determinar em que condições pode provocar a desorganização de cada equipa adversária. Porque, ao Luiz Felipe não lhe chega ter dos melhores jogadores do mundo. Eles até, só por si, podem ganhar jogos. Contudo, determinar as condições de desorganização da equipa adversária só Luiz Felipe o pode fazer. E este é o verdadeiro sentido estratégico do pensamento do treinador. Se é que o treinador serve para alguma coisa.
Tradicionalmente, a desorganização da equipa adversária resulta de uma de duas acções: (1) envolvimento; (2) ruptura. O problema é que isto faz parte do conhecimento de qualquer treinador. E eles esperam que os seus jogadores sejam capazes de agir em conformidade. Por isso, o Luiz Felipe, tal como qualquer outro treinador, sabe que a escolha depende: (1º) Da relação de forças em presença; (2º) Das características do adversário; (3º) Da eficácia da manobra ofensiva relativamente à defensiva do adversário.
Se a manobra de envolvimento requer uma mobilidade maior que a primeira linha de jogo, a manobra de ruptura exige um poder ofensivo superior. Na arte da guerra, o envolvimento aconteceu ao longo dos tempos através das alas formadas pela cavalaria e, mais recentemente, por tropas mecanizadas e blindadas. Atenção Luiz Felipe, nestas circunstâncias, a capacidade de progressão no terreno é o factor principal de decisão. Quanto à manobra de ruptura tem de ser conseguida através de uma boa combinação de elementos de choque – cavalaria couraçada, elefantes e modernamente carros de combate – e fogo que evoluiu das pedras, dos dardos e das flechas, até se atingir a infantaria e a artilharia. Atenção Luiz Felipe, nestas circunstâncias, a capacidade de fogo é o factor principal de decisão. Contudo, Luiz Felipe, desta feita, a mobilidade da equipa em termos de recuperação no terreno é de fundamental importância nas manobras de ruptura, uma vez que estas só são conseguidas através da vantagem numérica. A vantagem numérica no ataque desprotege a defesa e o atrito próprio do jogo pode deitar tudo a perder, na medida em que, teoricamente, quem defende está em vantagem competitiva se souber manter a intenção do contra-ataque no dispositivo da defesa. Por isso, Luiz Felipe, o problema está em determinar quem, na equipa dos Viriatos, são os cavalos, os elefantes e os carros de combate que, nas manobras de envolvimento e ruptura, apedrejam, lançam e disparam sobre o inimigo.
Mas o problema, Luiz Felipe, é que tudo isto sendo importante não é o mais importante. Como diria Clausewitz, a melhor estratégia é ser sempre muito forte. Primeiro, em termos amplos, e, depois, no ponto decisivo. Assim, agora, o importante é determinar qual é o ponto decisivo. Apurar o ponto decisivo é apurar o ponto de maior fraqueza do adversário. Luiz Felipe, apurar o ponto de maior fraqueza do adversário é bem mais importante do que conhecer as próprias forças.
Por isso, a primeira questão é: Qual é o ponto mais fraco do adversário?
A segunda questão é: Quem lhe fornece a informação que, depois, o Luiz Filipe há-de transformar no conhecimento capaz de organizar a vitória?
Possuir este conhecimento, pode ser determinante para a possibilidade do Luiz Felipe ficar em primeiro lugar, em vez de ficar em segundo, terceiro ou quarto. E hoje, os associados já não se contentam com o quarto, terceiro ou segundo. Eles, na sua alienação nacionalista, exigem-lhe o primeiro.
Como o Luiz Felipe sabe, às vezes, o ponto fraco de uma equipa é uma pequena vaidade do treinador, um ego demasiado volumoso, uma pesporrência excessivamente afirmativa, uma relação delicada com a comunicação social, um certo rei na barriga, uma questiúncula de opiniões com os comentadores, um desprezo profundo pela inteligência alheia. Nestas circunstâncias, até é fácil dizer quem é o burro.
Mas é aí que o Luiz Felipe tem de investir. Quer dizer, tem de investir no burro que está dentro de cada treinador. Ou melhor, naquilo que cada treinador tem de burro. Em todas as suas fraquezas, de maneira a anular-lhe as forças. Não é fácil. O ponto mais débil do adversário é desconhecido e ele fará tudo para o esconder. Assim, é necessário saber descobri-lo, mas isso não está ao alcance de qualquer um.
Descobrir o ponto fraco de um treinador é meio caminho para provocar a desorganização da equipa adversária. Aquilo que qualquer treinador mais deve desejar é colocar a equipa adversária em desagregação organizativa. O que visa com a desorganização é provocar um “choque psicológico”. O “choque psicológico” conduz invariavelmente à desintegração do elo moral que une os jogadores. A quebra do elo moral da equipa transforma-a numa horda de indivíduos, sem objectivos nem método e, em consequência, numa presa fácil para o adversário.
Uma vez conseguida a desintegração do inimigo, o “jogo da guerra” entra na sua fase mais sublime que é a do massacre, em que a equipa derrotada é trespassada pelas armas dos vencedores. Assim, o fundamental é que Luiz Felipe coloque os seus jogadores em situação de terem de lutar até à morte se quiserem sobreviver, e os adversários numa sedutora opção de fuga, de maneira a que se lhes esmoreça a vontade de combater. Para isso, tem de lhes descobrir o ponto fraco.
Luiz Felipe, o esquema de batalha nunca é linear. Como tudo seria fácil se a dinâmica de jogo fosse linear. Assim, o maior erro dos treinadores é tentarem organizar linearmente o jogo numa perspectiva de supervisão directa quando o jogo, em si, só se pode desenvolver na plenitude da sua excelência através do ajustamento mútuo da inter-relação de cada jogador com todos os outros, porque cada um deles deve ser portador do plano global da operação da equipa. Neste jogo, todos têm a ver com todos. Depois, quanto menos o Luiz Felipe intervir tanto melhor para a equipa, na medida em que após o lançar dos dados, como afirmou Júlio César ao arrancar para a conquista de Roma, a fortuna fica na vontade dos deuses.

(*) Com António Cunha (FD-UP)

Opinião: Manuel Sérgio







O pensamento ético contemporâneo
e o Desporto

Não faltam tratados, congressos, publicações e todo um galante florilégio de conclusões sobre a ética no desporto e... a corrupção e a violência permanecem. Porquê?


Segundo Anthony Giddens, no seu livro "As Consequências da Modernidade", o que caracteriza o nosso tempo é a sua descontinuidade, em relação às épocas anteriores. As transformações na tecnociência, na filosofia, nos modos de vida, nas mentalidades; a globalização do economicismo neo-liberal, bem expressa numa alta competição sem freios; confundir felicidade com a posse exclusiva de bens materiais: não deixam a este respeito um rasto de dúvida. No entanto, segundo Rawls, uma das “experiências fundamentais” da modernidade é a existência do "fact of pluralism", ou seja, a existência de uma incomensurável pluralidade de valores, que reduz a cinzas qualquer unicidade normativa. Por isso, Habermas faz resultar a moral das condições e pressupostos da deliberação democrática, como se nela ressaltassem, límpidas, a dimensão moral, a ética e a pragmática, quero eu dizer: a complementaridade entre o direito e a moral. Em Habermas, substitui-se o “imperativo categórico” por formas de comunicação e argumentação. E assim, melhor do que a minha proclamação de leis universais, devo antes submetê-las ao juízo crítico dos demais, para diálogo, discussão e aprovação final. Mas uma pergunta se levanta, imediatamente: e quem detém a palavra e nos dá garantias do bom uso da palavra? A realidade deve considerar-se sob a óptica de quatro níveis ou ordens distintos: a ordem das finalidades, a ordem dos comportamentos, a ordem jurídico-política e a ordem tecnocientífica. A competência tecnocientífica é a mais visível, embora as diferenças culturais e linguísticas. Nem um idealismo exaltante ou os preconceitos sentimentais escondem a falta de rigor, o charlatanismo, o desconhecimento dos temas em questão. Da ordem jurídico-político-organizacional ressalta a organização que dá força e sentido a quem a representa. A qualidade do estrutural reflecte-se na qualidade das condutas individuais. Mas o comportamento também depende do “homem de bem” que se é. A lição diária dos factos ensina que, sem um rijo arcaboiço ético, há objectivos inadiáveis que não se alcançam. É preciso distinguir o bem do mal, para que o desejo do “bem comum” possa emergir de tudo o que se faz. Na ordem das finalidades, deve luzir, de facto, o “bem comum”, preparado e materializado pelo homem ao serviço do homem, para que todos os homens possam ser actores da sua história e da própria História.
Uma análise ontológica, mesmo que episódica, da prática desportiva diz-nos que o ser humano é um ser-de-relação. Ou em equipa, ou individualmente, o desportista normalmemte entra em competição, quero eu dizer: precisa do seu semelhante. E, se dele precisa, há-de respeitá-lo, ou seja, não pode fazer dele um instrumento de qualquer um dos seus objectivos. Há, aqui, um jogo de co-responsabilidade: no desporto, os adversários (e não só os companheiros da mesma equipa) são também, solidariamente, responsáveis uns pelos outros. E esta responsabilidade não resulta de uma escolha, de uma preferência individuais, porque sem ela não há desporto. Daqui se infere sem dificuldade que, no desporto (como em Levinas), a ética é a filosofia primeira. E, a este ângulo de visão, o praticante exemplar surge como alguém onde brilham excepcionais qualidades físico-motoras e psicológicas, específicas do desporto de alto nível, e simultaneamente admiráveis qualidades éticas. A vontade de vencer é inerente à prática desportiva, mas o praticante, como ser-de-relação, há-de saber vencer e perder, que o mesmo é dizer: há-de saber respeitar e respeitar-se, como vencedor e como vencido, dado que a motricidade humana tem como objectivo primeiro o desenvolvimento de todos e de cada um dos seres humanos. O aprumo e a lealdade, no desporto, não podem significar, hoje, ausência de competição, mas recusa à instrumentalização, ao serviço da competição sórdida do economicismo triunfante, que alimenta, sem mérito nem vergonha, o “bellum omnium contra omnes” (guerra de todos contra todos). A competição, no desporto, é uma forma de diálogo fraterno, deverá ser, por isso, uma expressão corporal do primado da dimensão ético-política sobre a dimensão economicista. Assim, nasce a confiança mútua, que é indispensável à competição desportiva. «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti» poderá ser a regra de ouro a presidir ao comportamento dos atletas, dos técnicos (sem esquecer os técnicos de saúde) e dos dirigentes.
Mas há dois perigos que rondam o sistema desportivo: a barbárie e o angelismo. A barbárie, quando os atletas deixam de ser pessoas/cidadãos e passam a ser governados pelo “despotismo iluminado” de dirigentes corruptos ou mal informados. O respeito pelos atletas não pode provir tão-só de “ordens superiores”, ou da ordem jurídica estabelecida, mas de um "imperativo moral". No desporto, há o primado absoluto da "pessoa" sobre a "lei". O angelismo acontece, quando se pensa que uma lei, um manifesto, um discurso, as conclusões de um congresso resolvem, por si sós, uma situação concreta. O verdadeiro motor da acção, da motricidade humana, reside na "consciência reflexiva" e na "vontade livre e responsável das pessoas" (neste caso, dos praticantes). Não faltam tratados, congressos, publicações e todo um galante florilégio de conclusões sobre a ética no desporto e... a corrupção e a violência permanecem. Porquê? Entre outros motivos, porque não se preparam, pedagogicamente, os alunos e os atletas a serem "agentes morais", para além de praticantes de admiráveis qualidades físicas e técnicas. Enganam-se os que pensam que os atletas são singelos títeres, nas mãos dos dirigentes e dos técnicos, ou das leis sem espírito (lembram-se do "Espírito das Leis", de Montesquieu?). O "Homo Sapiens-Sapiens" é um ser que sabe que sabe e sente, por isso, a necessidade imperiosa de criticar, isto é, de saber, em profundidade, quem é, onde está e para onde vai. Posto isto, podemos adiantar que não é o desporto o novo ópio do povo, o ópio do povo é o desporto institucionalizado pelo capitalismo dominante, que demasiadas vezes reduz as pessoas a coisas e os sujeitos a objectos. Já há 96 anos, Jaime Cortesão alertava, em "A Águia" (Outubro de 1912) que «não é o regime, nem a agricultura, nem a indústria, nem as finanças que verdadeiramente estão em crise – o que em Portugal, há alguns séculos, está em crise é o Português». Enfim, há que preparar também as pessoas para que as estruturas se transformem.
Posto isto, propõe-se:

1. Que o desporto escolar inclua, no conteúdo das suas matérias, não a gramática epistemológica das ciências empírico-formais, mas a das ciências hermenêutico-humanas, onde toda a objectualização é ilegítima. E, por isso, onde uma cultura anti-dualista e anti-colonialista e anti-imperialista seja essencial e fundante.
2. Que o ensino universitário do desporto assuma, sem subterfúgios, um paradigma decorrente das ciências hermenêutico-humanas e onde o agente do desporto, como ser-de-relação, se estude como factor de desenvolvimento da pessoa, do grupo, da sociedade.
3. Que a teoria e metodologia do treino não esqueça nunca os aspectos éticos e políticos da prática desportiva. Sem ética, o espectáculo desportivo pode transformar-se num espaço de violência e de corrupção, dada a alta competição em que decorre. Quando o treinador Jorge Jesus sustenta que «o "fair-play" é uma treta», acentua que a ética movimenta-se com dificuldade num desporto que reproduz e multiplica as taras do economicismo triunfante.
4. Que se reconheça, no atleta, o sujeito ou a pessoa, com um valor incomensurável, em relação ao valor de todos os campeonatos e taças das federações internacionais ou dos Jogos Olímpicos. É o praticante a origem e o fundamento de toda a significação do Desporto. A expressão “jogo de vida ou de morte” deverá erradicar-se do vocabulário desportivo. A morte do ser humano é a morte do próprio Desporto.

E. Levinas, no seu "Autrement qu’être ou au-delà de l’essence", acolhe com bons olhos a desconstrução do humanismo actual, pois este, ao rejeitar o Absoluto, «não é suficientemente humano». Direi o mesmo do desporto actual que, ao articular-se absolutamente fora do sujeito, rouba ao praticante o estatuto de “primeira pessoa”, para transformá-lo em mera unidade intercambiável. A própria consciência reflexa não é mais, para os novos humanistas, do que o resultado do processo de interiorização de uma ordem que lhe é totalmente exterior. Só que o novo humanismo, ao diluir o ser humano num mundo onde a globalização neoliberal impera, põe o Desporto em questão. Este é um tema que nunca vi tratado pelas instâncias internacionais que se ocupam desta problemática. Falam tanto de ética desportiva, sem darem conta se ela é possível com as estruturas onde o próprio desporto assenta.

Opinião: JM Silva






Expectativas

Os recursos apresentados ao Conselho de Justiça da FPF no âmbito do processo Apito Final encontraram na recta final das decisões a tomar, mas é na UEFA que se encontra o mais mediático de todos os processos que poderá proporcionar ao FC Porto grandes dissabores. Os erros por vezes têm elevados custos…

É um direito que lhe assiste e daí que nada tenhamos a apontar, a favor ou a desfavor, à Direcção do Belenenses por ter decidido entregar no Tribunal Arbitral do Desporto recurso da perda de seis pontos por parte da Comissão Disciplinar da Liga, decisão que foi posteriormente ratificada pelo Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol pelo facto do clube da Cruz de Cristo ter utilizado indevidamente o jogador Meyong num encontro da Bwin Liga, frente à Naval da Figueira da Foz.
Contudo, nesse recurso existe uma inexactidão que não deixaremos passar em claro por entendermos que em toda e qualquer situação ter-se-á sempre que dar o seu a seu dono.
Sabemos, porque desde tenra idade a tabela aritmética que ensinava as quatro operações, vulgo tabuada, não tinha segredos para nós, que se não tivessem sido retirados aos azuis do Restelo esses seis pontos, eles estariam por direito próprio na próxima edição da Taça UEFA, relegando para fora das competições europeias o tão sensacionalmente badalado Vitória de Setúbal que no final da Bwin Liga se classificou no 6.º lugar com menos um ponto que o Marítimo que conquistou um brilhante 5.º lugar na competição sem que para tal tenha beneficiado da “desgraça” que atingiu o Belenenses.
Segundo o seu recurso, «a equipa caiu do 5.º posto para o 8.º lugar…» quando na realidade caiu isso sim da sexta posição. Em igualdade pontual, o que aconteceria se os 6 pontos não lhe tivessem sido retirados, o Belenenses ficaria sempre atrás do Marítimo que o venceu, cá e lá, por 2-0 e 3-1, respectivamente.

Sendo, segundo julgamos saber, que as decisões dos casos apresentados no Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol não são possíveis de mais qualquer recurso, causa-nos estranheza esta decisão dos dirigentes do Belenenses, sabendo de antemão que está fora de questão a hipótese do clube vir a disputar a Taça UEFA na próxima temporada, podendo eventualmente vir a disputar a Taça Intertoto se entretanto a UEFA vier a punir o FC Porto de não participar na Champions na próxima temporada, mesmo assim tenham avançado com novo recurso.
A decisão desportiva está tomada, a homologação das classificações dos campeonatos nacionais aproxima-se a passos largos, onde se situará então as razões dos homens de Belém?
As esperanças dos azuis do Restelo são as de que, se o seu actual recurso for julgado procedente pelo Tribunal Arbitral do Desporto que tem a sua sede na cidade suíça de Lausana, poderão avançar com um pedido de indemnização financeira pelos danos provocados pela decisão da Liga posteriormente ratificada pelo Conselho de Justiça da FPF.
Sinceramente não acreditamos que tal Tribunal Arbitral venha a contrariar as decisões tomadas pelos órgãos de disciplina e de justiça desportiva portugueses, vindo a dar qualquer razão a um clube que atropelou regulamentos que são bem claros e que agora pretende retirar dividendos duma situação irregular que criou e onde inclusive admitiu esse erro ao despedir o seu então Director Desportivo para o futebol, responsabilizando-o publicamente pela negligência havida.

Enquanto isto, a Comissão de Controlo e de Disciplina da UEFA iniciou já a avaliação do processo que impende sobre o FC Porto uma vez que já está na posse dos documentos que lhe foram enviados pela Federação Portuguesa de Futebol referente ao castigo que foi aplicado aos dragões pelo Conselho Disciplinar da Liga no âmbito do processo Apito Final.
Talvez por terem os comandados de Jesualdo Ferreira terminado o campeonato com uma impensável e considerável vantagem pontual que em nada seria beliscada com a subtracção de seis pontos, ou mesmo mais, tivesse contribuído para que os dirigentes portistas não recorressem para o Conselho de Justiça do FPF pela condenação imposta pelos disciplinadores da Liga ao seu clube.
Obviamente que tal facto implicou no imediato a aceitação de tal castigo ou seja o admitir de ter mesmo participado em actos ilícitos de corrupção desportiva.
A decisão a ser tomada pela UEFA ainda não tem data aprazada, sabe-se apenas que aquilo que vier a ser deliberado pela sua Comissão de Controlo e Disciplina será depois ratificado pelo Comité Executivo do organismo máximo do futebol europeu.
Certo é que, ao não terem ponderado convenientemente as possíveis causas dum não recurso ao Conselho de Justiça da Federação, os dragões estão na iminência de não participarem na Champions da próxima temporada o que se revelará em termos financeiros um enorme revês para os cofres portistas, o que certamente traz preocupados Pinto da Costa e seus pares bem como todo o universo dos dragões, numa dolorosa expectativa, pois sabem bem que nestas situações a UEFA não brinca em serviço.
Os erros por vezes têm elevados custos…

Por cá e igualmente no âmbito do Apito Final, o Conselho de Justiça da FPF não terá mãos a medir para parir a tempo e horas as decisões dos 14 processos que condenaram ex-árbitros, dirigentes e clubes, de molde a que possam ser homologadas as classificações dos campeonatos nacionais há pouco terminados.
Gilberto Madaíl, presidente do organismo que superintende o futebol não profissional do País, garante que, com os maiores ou menores dificuldades, serão cumpridos os prazos estipulados com a divulgação das respectivas sanções que por certo irão acontecer, encerrando-se em definitivo a temporada.
A expectativa aqui é também grande embora domine a convicção de que, a exemplo do caso Meyong, os justiceiros da FPF irão ratificar todas as deliberações emanadas da Conselho de Disciplina da Liga. A ver vamos.
Na expectativa ficamos nós também, aguardando para verificarmos se, a exemplo do que fez o Belenenses, outros venham a enveredar pelo mesmo caminho, enviando recursos para o Tribunal Arbitral do Desporto, desde os árbitros envolvidos, aqueles que entretanto já se reformaram e os poucos que ainda estão no activo, passando pelo Boavista que foi condenado à descida de divisão, acabando nos dirigentes, para serem ressarcidos pelos danos causados pelas decisões do Conselho Jurisdicional da Liga.
Depois de termos assistido ao longo dos muitos anos que levamos nestas lides a casos atrás de casos no futebol português com os mais variados desfechos, vamos acreditar que uma lufada de ar fresco está inundando o nosso Desporto-Rei no momento actual tendente a credibilizá-lo como bem merece e como deveria ter sido sempre.
Oxalá não nos desiludemos…