sexta-feira, 30 de maio de 2008

Opinião: JM Silva






Expectativas

Os recursos apresentados ao Conselho de Justiça da FPF no âmbito do processo Apito Final encontraram na recta final das decisões a tomar, mas é na UEFA que se encontra o mais mediático de todos os processos que poderá proporcionar ao FC Porto grandes dissabores. Os erros por vezes têm elevados custos…

É um direito que lhe assiste e daí que nada tenhamos a apontar, a favor ou a desfavor, à Direcção do Belenenses por ter decidido entregar no Tribunal Arbitral do Desporto recurso da perda de seis pontos por parte da Comissão Disciplinar da Liga, decisão que foi posteriormente ratificada pelo Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol pelo facto do clube da Cruz de Cristo ter utilizado indevidamente o jogador Meyong num encontro da Bwin Liga, frente à Naval da Figueira da Foz.
Contudo, nesse recurso existe uma inexactidão que não deixaremos passar em claro por entendermos que em toda e qualquer situação ter-se-á sempre que dar o seu a seu dono.
Sabemos, porque desde tenra idade a tabela aritmética que ensinava as quatro operações, vulgo tabuada, não tinha segredos para nós, que se não tivessem sido retirados aos azuis do Restelo esses seis pontos, eles estariam por direito próprio na próxima edição da Taça UEFA, relegando para fora das competições europeias o tão sensacionalmente badalado Vitória de Setúbal que no final da Bwin Liga se classificou no 6.º lugar com menos um ponto que o Marítimo que conquistou um brilhante 5.º lugar na competição sem que para tal tenha beneficiado da “desgraça” que atingiu o Belenenses.
Segundo o seu recurso, «a equipa caiu do 5.º posto para o 8.º lugar…» quando na realidade caiu isso sim da sexta posição. Em igualdade pontual, o que aconteceria se os 6 pontos não lhe tivessem sido retirados, o Belenenses ficaria sempre atrás do Marítimo que o venceu, cá e lá, por 2-0 e 3-1, respectivamente.

Sendo, segundo julgamos saber, que as decisões dos casos apresentados no Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol não são possíveis de mais qualquer recurso, causa-nos estranheza esta decisão dos dirigentes do Belenenses, sabendo de antemão que está fora de questão a hipótese do clube vir a disputar a Taça UEFA na próxima temporada, podendo eventualmente vir a disputar a Taça Intertoto se entretanto a UEFA vier a punir o FC Porto de não participar na Champions na próxima temporada, mesmo assim tenham avançado com novo recurso.
A decisão desportiva está tomada, a homologação das classificações dos campeonatos nacionais aproxima-se a passos largos, onde se situará então as razões dos homens de Belém?
As esperanças dos azuis do Restelo são as de que, se o seu actual recurso for julgado procedente pelo Tribunal Arbitral do Desporto que tem a sua sede na cidade suíça de Lausana, poderão avançar com um pedido de indemnização financeira pelos danos provocados pela decisão da Liga posteriormente ratificada pelo Conselho de Justiça da FPF.
Sinceramente não acreditamos que tal Tribunal Arbitral venha a contrariar as decisões tomadas pelos órgãos de disciplina e de justiça desportiva portugueses, vindo a dar qualquer razão a um clube que atropelou regulamentos que são bem claros e que agora pretende retirar dividendos duma situação irregular que criou e onde inclusive admitiu esse erro ao despedir o seu então Director Desportivo para o futebol, responsabilizando-o publicamente pela negligência havida.

Enquanto isto, a Comissão de Controlo e de Disciplina da UEFA iniciou já a avaliação do processo que impende sobre o FC Porto uma vez que já está na posse dos documentos que lhe foram enviados pela Federação Portuguesa de Futebol referente ao castigo que foi aplicado aos dragões pelo Conselho Disciplinar da Liga no âmbito do processo Apito Final.
Talvez por terem os comandados de Jesualdo Ferreira terminado o campeonato com uma impensável e considerável vantagem pontual que em nada seria beliscada com a subtracção de seis pontos, ou mesmo mais, tivesse contribuído para que os dirigentes portistas não recorressem para o Conselho de Justiça do FPF pela condenação imposta pelos disciplinadores da Liga ao seu clube.
Obviamente que tal facto implicou no imediato a aceitação de tal castigo ou seja o admitir de ter mesmo participado em actos ilícitos de corrupção desportiva.
A decisão a ser tomada pela UEFA ainda não tem data aprazada, sabe-se apenas que aquilo que vier a ser deliberado pela sua Comissão de Controlo e Disciplina será depois ratificado pelo Comité Executivo do organismo máximo do futebol europeu.
Certo é que, ao não terem ponderado convenientemente as possíveis causas dum não recurso ao Conselho de Justiça da Federação, os dragões estão na iminência de não participarem na Champions da próxima temporada o que se revelará em termos financeiros um enorme revês para os cofres portistas, o que certamente traz preocupados Pinto da Costa e seus pares bem como todo o universo dos dragões, numa dolorosa expectativa, pois sabem bem que nestas situações a UEFA não brinca em serviço.
Os erros por vezes têm elevados custos…

Por cá e igualmente no âmbito do Apito Final, o Conselho de Justiça da FPF não terá mãos a medir para parir a tempo e horas as decisões dos 14 processos que condenaram ex-árbitros, dirigentes e clubes, de molde a que possam ser homologadas as classificações dos campeonatos nacionais há pouco terminados.
Gilberto Madaíl, presidente do organismo que superintende o futebol não profissional do País, garante que, com os maiores ou menores dificuldades, serão cumpridos os prazos estipulados com a divulgação das respectivas sanções que por certo irão acontecer, encerrando-se em definitivo a temporada.
A expectativa aqui é também grande embora domine a convicção de que, a exemplo do caso Meyong, os justiceiros da FPF irão ratificar todas as deliberações emanadas da Conselho de Disciplina da Liga. A ver vamos.
Na expectativa ficamos nós também, aguardando para verificarmos se, a exemplo do que fez o Belenenses, outros venham a enveredar pelo mesmo caminho, enviando recursos para o Tribunal Arbitral do Desporto, desde os árbitros envolvidos, aqueles que entretanto já se reformaram e os poucos que ainda estão no activo, passando pelo Boavista que foi condenado à descida de divisão, acabando nos dirigentes, para serem ressarcidos pelos danos causados pelas decisões do Conselho Jurisdicional da Liga.
Depois de termos assistido ao longo dos muitos anos que levamos nestas lides a casos atrás de casos no futebol português com os mais variados desfechos, vamos acreditar que uma lufada de ar fresco está inundando o nosso Desporto-Rei no momento actual tendente a credibilizá-lo como bem merece e como deveria ter sido sempre.
Oxalá não nos desiludemos…

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