sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O pensamento ético....






Manuel Sérgio

O pensamento ético contemporâneo
e o Desporto (I)



A qualidade do estrutural reflecte-se na qualidade das condutas individuais. Mas o comportamento também depende do “homem de bem” que se é.



Segundo Anthony Giddens, no seu livro “As Consequências da Modernidade”, o que caracteriza o nosso tempo é a sua descontinuidade, em relação às épocas anteriores. As transformações na tecnociência, na filosofia, nos modos de vida, nas mentalidades; a globalização do economicismo neo-liberal, bem expressa numa alta competição sem freios; confundir felicidade com a posse exclusiva de bens materiais: não deixam a este respeito um rasto de dúvida. No entanto, segundo Rawls, uma das “experiências fundamentais” da modernidade é a existência do “fact of pluralism”, ou seja, a existência de uma incomensurável pluralidade de valores, que reduz a cinzas qualquer unicidade normativa. Por isso, Habermas faz resultar a moral das condições e pressupostos da deliberação democrática, como se nela ressaltassem, límpidas, a dimensão moral, a ética e a pragmática, quero eu dizer: a complementaridade entre o direito e a moral. Em Habermas, substitui-se o “imperativo categórico” por formas de comunicação e argumentação. E assim, melhor do que a minha proclamação de leis universais, devo antes submetê-las ao juízo crítico dos demais, para diálogo, discussão e aprovação final. Mas uma pergunta se levanta, imediatamente: e quem detém a palavra e nos dá garantias do bom uso da palavra? A realidade deve considerar-se sob a óptica de quatro níveis ou ordens distintos: a ordem das finalidades, a ordem dos comportamentos, a ordem jurídico-política e a ordem tecnocientífica. A competência tecnocientífica é a mais visível, embora as diferenças culturais e linguísticas. Nem um idealismo exaltante ou os preconceitos sentimentais escondem a falta de rigor, o charlatanismo, o desconhecimento dos temas em questão. Da ordem jurídico-político-organizacional ressalta a organização que dá força e sentido a quem a representa. A qualidade do estrutural reflecte-se na qualidade das condutas individuais. Mas o comportamento também depende do “homem de bem” que se é. A lição diária dos factos ensina que, sem um rijo arcaboiço ético, há objectivos inadiáveis que não se alcançam. É preciso distinguir o bem do mal, para que o desejo do “bem comum” possa emergir de tudo o que se faz. Na ordem das finalidades, deve luzir, de facto, o “bem comum”, preparado e materializado pelo homem ao serviço do homem, para que todos os homens possam ser actores da sua história e da própria História.
(Continua)

O Currículo Desportivo do Rei D. Carlos






Gustavo Pires

O Mal Compreendido

Também no desporto, D. Carlos foi uma pessoa singular. O currículo desportivo de D. Carlos ombreava com o de qualquer “sportmen” da época. Aliás, ele era justamente considerado o primeiro “sportman” português.



O Presidente da República, Cavaco Silva, inaugurou no dia 1 de Fevereiro de 2008 em Cascais, uma estátua do Rei D. Carlos no iate “Amélia”, uma obra que pretende homenagear um monarca que ficará para a história como o “mal compreendido”.

Cavaco Silva, no seu discurso, disse tratar-se de uma merecida homenagem a um dos governantes que mais fez para promover o reencontro simbólico com a natureza nacional e projectar o nome de Portugal no estrangeiro, através do incentivo ao desenvolvimento técnico e científico.

D. Carlos foi mais do que um homem culto, foi um praticante empenhado da arte e da ciência. Foi um rei, um sábio, mas também um fazedor. Tinha plena consciência de que só a junção do conhecimento científico com a aplicação prática criava condições para o desenvolvimento do país e uma melhor qualidade de vida dos seus habitantes.

Da combinação rara de dons de D. Carlos, Cavaco Silva destacou a sua sensibilidade para representar a vida marítima e elogiou o seu empreendedorismo no estudo de espécies marítimas e recursos piscícolas, bem como na criação do primeiro laboratório português de biologia marinha.

D. Carlos faz parte da galeria dos ilustres portugueses que, independentemente do regime, serão sempre considerados como os melhores entre os melhores.

Também no desporto, D. Carlos foi uma pessoa singular. O currículo desportivo de D. Carlos ombreava com o de qualquer “sportmen” da época. Aliás, ele era justamente considerado o primeiro “sportman” português.

A este respeito escrevia o “Tiro e Sport” na sua edição de 15 de Fevereiro de 1905, por motivos da inauguração oficial do Centro Nacional de Esgrima, a 6 de Fevereiro do mesmo ano:

«Varios tem sido os aspectos, sob os quaes tem sido biografado S. M. El-Rei, como soberano, homem de sciencia, artista, yacthman. Como esgrimista cabe-nos a subida honra de o fazer e, francamente confessamos, desejaríamos dispor de grandes recursos d’inteligência para que podessemos biographar, como merece, o supremo Chefe da Nação Portugueza. (…) Sua Magestade El-Rei cultiva desde os sete annos a esgrima, tendo sido seus professores, primeiro o celebre professor francez Henri Petit, seguindo-se-lhe Luiz Monteiro e António Martins. Tem sido com este último professor, com quem durante maior lapso de tempo tem trabalhado S. M, e o mestre não se cansa de tecer elogios ás excellentes qualidades que S. M. possue como esgrimista. (…) Anima com a sua presença todas as festas de esgrima, e com a sua palavra incita todos quanto procuram radicar no espírito do nosso povo a prática da esgrima. E, tem sido com o appoio sempre constante de sua Majestade El-Rei, que António Martins, nunca desfalleceu no caminho que encetou, procurando desenvolver o gosto pela esgrima em Portugal. O Centro Nacional de Esgrima, também encontrou sempre sua majestade prompto em auxiliá-lo, e muitíssimo lhe deve essa agremiação, não só pela subida honra da sua presença á festa d’inauguração, e de ser seu sócio protector, como pela rápida solução de varias difficuldades na sua instalação.»

Na realidade, D. Carlos foi um reconhecido praticante e dirigente desportivo, empenhado na causa do desporto, pelo que, bastas vezes, emprestou a sua figura de monarca a diversas organizações e eventos desportivos. Por exemplo, foi Presidente Honorário de várias agremiações entre as quais a União dos Atiradores Civis Portugueses fundada em 16 de Novembro de 1893 e a União Velocipédica Portuguesa fundada a 14 de Dezembro de 1899.

Mas mais. A D.Carlos fica-se a dever a institucionalização do Olimpismo em Portugal, o que permitiu que posteriormente viesse a se fundado o Comité Olímpico Português. Foi D. Carlos que indicou a Pierre de Coubertin o primeiro representante em Portugal do Comité Olímpico Internacional. Na realidade foi o monarca português quem indicou a Coubertin o nome do Dr. António Lencastre para representar em Portugal os interesses do Comité Olímpico Internacional. Em conformidade em 9 de Junho de 1906 António Lencastre que era médico da corte escreveu a Pierre de Coubertin, uma carta de aceitação para o cargo:

«Le Comité Olympic International, dû à votre obligeance, tiendrait à m’elire représentant de mon pays ou sein de votre honorable compagnie. Touché de votre bienveillance je m’expresse de porter à votre connaissance que j’accèpte votre indication avec le plus grand plaisir, soucieux de’apporter mon concours à votre ouvre. ...».

O desporto em Portugal deve imenso não só a D. Carlos como ao seu filho D. Manuel II o último rei de Portugal. Por isso, lamentamos profundamente o completo esquecimento a que foram votados pelas entidades públicas e privadas portugueses, em especial o Comité Olímpico de Portugal que, em grande parte, a eles deve a sua existência.

Ao tempo, D. Carlos pode ter sido incompreendido por uma casta de políticos corruptos e um povo ignorante. Contudo, pelo que nos é dado verificar, através da imprensa desportiva da época, a Família Real era bem estimada entre os "sportmen" portugueses.

Não há futuro que se possa construir na ignorância do passado. (ver mais: www.forumolimpico.org)

A Lei da Rolha






José Manuel Silva

Se qualquer indivíduo produz afirmações contra outro ou outros e sempre que estes entendam ter sido posta em causa a sua reputação, movem-lhe, através dos mecanismos competentes, um processo por difamação e são posteriormente os Tribunais que decidem de que lado está a razão. Só que no futebol não é assim. Porquê?


Algo vai mal no mundo do futebol onde por força das suas leis vigentes são criadas situações de desigualdade entre os seus diversos agentes no que concerne à disciplina desportiva que impera nas instâncias que superintendem no desporto-rei.
É óbvio que se não existissem clubes que se dedicam à modalidade, não faria qualquer sentido que existissem as Associações, as Federações e as Ligas de futebol que legislam sobre tudo o que rodeia o desporto-rei consoante os seus estatutos de profissional, semi-profissional e simplesmente amador.
De igual modo sem a existência destes Organismos, a UEFA e a FIFA jamais teriam sido criadas.

Sabemos que, nas Assembleias Gerais dos Organismos Desportivos, qualquer lei, qualquer novo regulamento feito por quem legisla só é aprovado depois de ser posto à aprovação dos Associados e aí os clubes utilizam o seu voto favorável ou não e assim as novas medidas a ser implementadas só passarão se conseguirem maioria, absoluta ou não, na votação.
Isto implica dizer-se que, em muitos casos, dirigentes que votam favoravelmente nas Assembleias Gerias dos Organismos desportivos acabam mais tarde ou mais cedo por ser vítimas do seu próprio voto, tudo porque no futebol existe a “Lei da Rolha” que coarcta em absoluto a manifestação de seus pensamentos por gestos ou palavras escritas ou faladas.

Temendo porventura a pouca celeridade dos Tribunais Civis, estes Organismos, que superintendem no futebol, proíbem a todo e qualquer agente a ele ligado de a eles recorrer seja em que circunstância seja, criando os seus próprios Conselhos de Disciplina para resolverem os seus problemas internos.
Até aqui tudo bem, porque as competições quer regionais, quer nacionais e também internacionais não podem parar até que os Tribunais Civis agendem os julgamentos para sentenciarem os casos desportivos que porventura lhes seja endereçados.
Hoje em dia, em torno do futebol, existem muitos interesses em jogo e nestes Conselhos de Disciplina não raro é ver-se o uso de dois pesos e duas medidas que obviamente beneficiam uns e penalizam outros e onde normalmente impera a lei do mais forte.

Justiça significa respeito pelo direito; é virtude moral que inspira os direitos de outrem e que faz dar a cada um o que lhe pertence, é enfim Direito em razão fundada nas leis.
Cremos que todos os Conselhos de Disciplina espalhados pelos diversos Organismos Desportivos são superintendidos por profissionais da Justiça, portanto juízes, advogados e quejandos e como tal devem saber analisar onde elas começam e acabam.
Por isso, e para que sejam justos nas suas deliberações, jamais poderão coarctar a liberdade de expressão a que todo e qualquer cidadão tem direito impondo a “Lei da Rolha”, o que dá azo a que por um lado se criem os “filhos” e por outro os “enteados”.
A justiça não pode continuar a ser tratada como qualquer… coisa sem valor.

Todo este intróito vem a propósito dos castigos por norma aplicados a dirigentes de clubes, aos seus treinadores e por vezes jogadores que no final dos seus jogos ao se sentirem lesados por quem os conduziu não conseguem calar a sua revolta e a boca foge-se-lhes para a verdade e, repetimos, porque a “Lei da Rolha” impera, são penalizados.
Sendo certo que a muitos indivíduos fazem-lhes confusão na cabeça quanto ao verdadeiro significado de liberdade de expressão, se por via disso ofenderem e difamarem quem quer que seja, terão que pagar o preço da sua negligência.
Os disciplinadores desportivos têm mais do que suficientes dispositivos ao seu alcance para averiguarem com justiça quando os tais dirigentes de clubes, seus treinadores e até mesmo jogadores têm ou não razão nos seus desabafos.
E, se não decidem de acordo com a justiça, o único caminho que têm a seguir é saírem pela mesma porta por onde algures entraram, para jamais voltar…

Enriquecer os cofres das Federações e das Ligas com o fruto de tantas injustiças, que são cometidas semanas atrás de semanas com deliberações que não respeitam a verdade, é uma traição à Justiça e há que pôr termo a ela de uma vez por todas.
Ir-se ao bolso de quem trabalha para garantir o seu sustento e dos seus familiares, como é o caso dos dirigentes, técnicos e jogadores dos Clubes que ao se sentirem lesados reclamaram é algo de imoral e injusto.
Os Clubes, é por demais sabido, naturalmente uns mais do que outros, vivem com tremendas dificuldades para cumprirem com todas as suas obrigações fiscais e sociais e vêem-se ainda penalizados por deliberações que têm o seu epicentro na famigerada “Lei da Rolha”, uma inconcebível afronta à liberdade de expressão.

Falta-nos dissecar um pouco sobre os “intocáveis”, daqueles que provocam, voluntária ou involuntariamente, os desabafos justos ou não dos dirigentes desportivos, dos treinadores e em alguns casos dalguns atletas: os árbitros.
Respeitamos o seu trabalho que reconhecemos não ser tarefa fácil, mas somos suficientemente adultos e competentes para analisar as suas actuações e jamais pactuaremos com aquilo que vezes sem conta lhes vimos nos seus trabalhos, a inconcebível dualidade de critérios que utilizam consoante as faltas cometidas por uma e por outra equipa.
E aquilo que mais nos choca e confunde é o facto dos seus dirigentes, entendidos naturalmente na matéria, também vislumbram o mesmo que nós mas… por amor à causa (?), passam uma esponja por cima. Porquê e até quando?

Significativo. Sobre o trabalho de Paulo Paraty, o árbitro do último Académica-Marítimo, disputado num campo muito mal tratado devido às intempéries que se fizeram sentir em Coimbra, domingo passado, o jornalista de “A Bola” de serviço nesse encontro escreveu: «Perfeito quase até final, altura em que não puniu puxão a Gregory na área da Briosa e perdoou segundo amarelo a Kaka quando, depois de cometer falta, atirou, furioso, a bola para fora».
Como aufere da liberdade de expressão, nada lhe acontecerá em termos disciplinares, até porque não faltou à verdade.
Imaginem o que não aconteceria ao Marítimo e a Sebastião Lazaroni, se fosse este a produzir semelhantes afirmações…
Para bom entendedor palavras mais para quê?