sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O Currículo Desportivo do Rei D. Carlos






Gustavo Pires

O Mal Compreendido

Também no desporto, D. Carlos foi uma pessoa singular. O currículo desportivo de D. Carlos ombreava com o de qualquer “sportmen” da época. Aliás, ele era justamente considerado o primeiro “sportman” português.



O Presidente da República, Cavaco Silva, inaugurou no dia 1 de Fevereiro de 2008 em Cascais, uma estátua do Rei D. Carlos no iate “Amélia”, uma obra que pretende homenagear um monarca que ficará para a história como o “mal compreendido”.

Cavaco Silva, no seu discurso, disse tratar-se de uma merecida homenagem a um dos governantes que mais fez para promover o reencontro simbólico com a natureza nacional e projectar o nome de Portugal no estrangeiro, através do incentivo ao desenvolvimento técnico e científico.

D. Carlos foi mais do que um homem culto, foi um praticante empenhado da arte e da ciência. Foi um rei, um sábio, mas também um fazedor. Tinha plena consciência de que só a junção do conhecimento científico com a aplicação prática criava condições para o desenvolvimento do país e uma melhor qualidade de vida dos seus habitantes.

Da combinação rara de dons de D. Carlos, Cavaco Silva destacou a sua sensibilidade para representar a vida marítima e elogiou o seu empreendedorismo no estudo de espécies marítimas e recursos piscícolas, bem como na criação do primeiro laboratório português de biologia marinha.

D. Carlos faz parte da galeria dos ilustres portugueses que, independentemente do regime, serão sempre considerados como os melhores entre os melhores.

Também no desporto, D. Carlos foi uma pessoa singular. O currículo desportivo de D. Carlos ombreava com o de qualquer “sportmen” da época. Aliás, ele era justamente considerado o primeiro “sportman” português.

A este respeito escrevia o “Tiro e Sport” na sua edição de 15 de Fevereiro de 1905, por motivos da inauguração oficial do Centro Nacional de Esgrima, a 6 de Fevereiro do mesmo ano:

«Varios tem sido os aspectos, sob os quaes tem sido biografado S. M. El-Rei, como soberano, homem de sciencia, artista, yacthman. Como esgrimista cabe-nos a subida honra de o fazer e, francamente confessamos, desejaríamos dispor de grandes recursos d’inteligência para que podessemos biographar, como merece, o supremo Chefe da Nação Portugueza. (…) Sua Magestade El-Rei cultiva desde os sete annos a esgrima, tendo sido seus professores, primeiro o celebre professor francez Henri Petit, seguindo-se-lhe Luiz Monteiro e António Martins. Tem sido com este último professor, com quem durante maior lapso de tempo tem trabalhado S. M, e o mestre não se cansa de tecer elogios ás excellentes qualidades que S. M. possue como esgrimista. (…) Anima com a sua presença todas as festas de esgrima, e com a sua palavra incita todos quanto procuram radicar no espírito do nosso povo a prática da esgrima. E, tem sido com o appoio sempre constante de sua Majestade El-Rei, que António Martins, nunca desfalleceu no caminho que encetou, procurando desenvolver o gosto pela esgrima em Portugal. O Centro Nacional de Esgrima, também encontrou sempre sua majestade prompto em auxiliá-lo, e muitíssimo lhe deve essa agremiação, não só pela subida honra da sua presença á festa d’inauguração, e de ser seu sócio protector, como pela rápida solução de varias difficuldades na sua instalação.»

Na realidade, D. Carlos foi um reconhecido praticante e dirigente desportivo, empenhado na causa do desporto, pelo que, bastas vezes, emprestou a sua figura de monarca a diversas organizações e eventos desportivos. Por exemplo, foi Presidente Honorário de várias agremiações entre as quais a União dos Atiradores Civis Portugueses fundada em 16 de Novembro de 1893 e a União Velocipédica Portuguesa fundada a 14 de Dezembro de 1899.

Mas mais. A D.Carlos fica-se a dever a institucionalização do Olimpismo em Portugal, o que permitiu que posteriormente viesse a se fundado o Comité Olímpico Português. Foi D. Carlos que indicou a Pierre de Coubertin o primeiro representante em Portugal do Comité Olímpico Internacional. Na realidade foi o monarca português quem indicou a Coubertin o nome do Dr. António Lencastre para representar em Portugal os interesses do Comité Olímpico Internacional. Em conformidade em 9 de Junho de 1906 António Lencastre que era médico da corte escreveu a Pierre de Coubertin, uma carta de aceitação para o cargo:

«Le Comité Olympic International, dû à votre obligeance, tiendrait à m’elire représentant de mon pays ou sein de votre honorable compagnie. Touché de votre bienveillance je m’expresse de porter à votre connaissance que j’accèpte votre indication avec le plus grand plaisir, soucieux de’apporter mon concours à votre ouvre. ...».

O desporto em Portugal deve imenso não só a D. Carlos como ao seu filho D. Manuel II o último rei de Portugal. Por isso, lamentamos profundamente o completo esquecimento a que foram votados pelas entidades públicas e privadas portugueses, em especial o Comité Olímpico de Portugal que, em grande parte, a eles deve a sua existência.

Ao tempo, D. Carlos pode ter sido incompreendido por uma casta de políticos corruptos e um povo ignorante. Contudo, pelo que nos é dado verificar, através da imprensa desportiva da época, a Família Real era bem estimada entre os "sportmen" portugueses.

Não há futuro que se possa construir na ignorância do passado. (ver mais: www.forumolimpico.org)

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