sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A Lei da Rolha






José Manuel Silva

Se qualquer indivíduo produz afirmações contra outro ou outros e sempre que estes entendam ter sido posta em causa a sua reputação, movem-lhe, através dos mecanismos competentes, um processo por difamação e são posteriormente os Tribunais que decidem de que lado está a razão. Só que no futebol não é assim. Porquê?


Algo vai mal no mundo do futebol onde por força das suas leis vigentes são criadas situações de desigualdade entre os seus diversos agentes no que concerne à disciplina desportiva que impera nas instâncias que superintendem no desporto-rei.
É óbvio que se não existissem clubes que se dedicam à modalidade, não faria qualquer sentido que existissem as Associações, as Federações e as Ligas de futebol que legislam sobre tudo o que rodeia o desporto-rei consoante os seus estatutos de profissional, semi-profissional e simplesmente amador.
De igual modo sem a existência destes Organismos, a UEFA e a FIFA jamais teriam sido criadas.

Sabemos que, nas Assembleias Gerais dos Organismos Desportivos, qualquer lei, qualquer novo regulamento feito por quem legisla só é aprovado depois de ser posto à aprovação dos Associados e aí os clubes utilizam o seu voto favorável ou não e assim as novas medidas a ser implementadas só passarão se conseguirem maioria, absoluta ou não, na votação.
Isto implica dizer-se que, em muitos casos, dirigentes que votam favoravelmente nas Assembleias Gerias dos Organismos desportivos acabam mais tarde ou mais cedo por ser vítimas do seu próprio voto, tudo porque no futebol existe a “Lei da Rolha” que coarcta em absoluto a manifestação de seus pensamentos por gestos ou palavras escritas ou faladas.

Temendo porventura a pouca celeridade dos Tribunais Civis, estes Organismos, que superintendem no futebol, proíbem a todo e qualquer agente a ele ligado de a eles recorrer seja em que circunstância seja, criando os seus próprios Conselhos de Disciplina para resolverem os seus problemas internos.
Até aqui tudo bem, porque as competições quer regionais, quer nacionais e também internacionais não podem parar até que os Tribunais Civis agendem os julgamentos para sentenciarem os casos desportivos que porventura lhes seja endereçados.
Hoje em dia, em torno do futebol, existem muitos interesses em jogo e nestes Conselhos de Disciplina não raro é ver-se o uso de dois pesos e duas medidas que obviamente beneficiam uns e penalizam outros e onde normalmente impera a lei do mais forte.

Justiça significa respeito pelo direito; é virtude moral que inspira os direitos de outrem e que faz dar a cada um o que lhe pertence, é enfim Direito em razão fundada nas leis.
Cremos que todos os Conselhos de Disciplina espalhados pelos diversos Organismos Desportivos são superintendidos por profissionais da Justiça, portanto juízes, advogados e quejandos e como tal devem saber analisar onde elas começam e acabam.
Por isso, e para que sejam justos nas suas deliberações, jamais poderão coarctar a liberdade de expressão a que todo e qualquer cidadão tem direito impondo a “Lei da Rolha”, o que dá azo a que por um lado se criem os “filhos” e por outro os “enteados”.
A justiça não pode continuar a ser tratada como qualquer… coisa sem valor.

Todo este intróito vem a propósito dos castigos por norma aplicados a dirigentes de clubes, aos seus treinadores e por vezes jogadores que no final dos seus jogos ao se sentirem lesados por quem os conduziu não conseguem calar a sua revolta e a boca foge-se-lhes para a verdade e, repetimos, porque a “Lei da Rolha” impera, são penalizados.
Sendo certo que a muitos indivíduos fazem-lhes confusão na cabeça quanto ao verdadeiro significado de liberdade de expressão, se por via disso ofenderem e difamarem quem quer que seja, terão que pagar o preço da sua negligência.
Os disciplinadores desportivos têm mais do que suficientes dispositivos ao seu alcance para averiguarem com justiça quando os tais dirigentes de clubes, seus treinadores e até mesmo jogadores têm ou não razão nos seus desabafos.
E, se não decidem de acordo com a justiça, o único caminho que têm a seguir é saírem pela mesma porta por onde algures entraram, para jamais voltar…

Enriquecer os cofres das Federações e das Ligas com o fruto de tantas injustiças, que são cometidas semanas atrás de semanas com deliberações que não respeitam a verdade, é uma traição à Justiça e há que pôr termo a ela de uma vez por todas.
Ir-se ao bolso de quem trabalha para garantir o seu sustento e dos seus familiares, como é o caso dos dirigentes, técnicos e jogadores dos Clubes que ao se sentirem lesados reclamaram é algo de imoral e injusto.
Os Clubes, é por demais sabido, naturalmente uns mais do que outros, vivem com tremendas dificuldades para cumprirem com todas as suas obrigações fiscais e sociais e vêem-se ainda penalizados por deliberações que têm o seu epicentro na famigerada “Lei da Rolha”, uma inconcebível afronta à liberdade de expressão.

Falta-nos dissecar um pouco sobre os “intocáveis”, daqueles que provocam, voluntária ou involuntariamente, os desabafos justos ou não dos dirigentes desportivos, dos treinadores e em alguns casos dalguns atletas: os árbitros.
Respeitamos o seu trabalho que reconhecemos não ser tarefa fácil, mas somos suficientemente adultos e competentes para analisar as suas actuações e jamais pactuaremos com aquilo que vezes sem conta lhes vimos nos seus trabalhos, a inconcebível dualidade de critérios que utilizam consoante as faltas cometidas por uma e por outra equipa.
E aquilo que mais nos choca e confunde é o facto dos seus dirigentes, entendidos naturalmente na matéria, também vislumbram o mesmo que nós mas… por amor à causa (?), passam uma esponja por cima. Porquê e até quando?

Significativo. Sobre o trabalho de Paulo Paraty, o árbitro do último Académica-Marítimo, disputado num campo muito mal tratado devido às intempéries que se fizeram sentir em Coimbra, domingo passado, o jornalista de “A Bola” de serviço nesse encontro escreveu: «Perfeito quase até final, altura em que não puniu puxão a Gregory na área da Briosa e perdoou segundo amarelo a Kaka quando, depois de cometer falta, atirou, furioso, a bola para fora».
Como aufere da liberdade de expressão, nada lhe acontecerá em termos disciplinares, até porque não faltou à verdade.
Imaginem o que não aconteceria ao Marítimo e a Sebastião Lazaroni, se fosse este a produzir semelhantes afirmações…
Para bom entendedor palavras mais para quê?

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