sexta-feira, 7 de março de 2008

Opinião — JM Silva





…As barbas do vizinho


"Quando vires as barbas do vizinho arder, coloca as tuas de molho". Aquilo que aconteceu agora ao Belenenses poderá vir a acontecer a qualquer outro, num amanhã qualquer…

Pagaram caro a sua distracção os responsáveis azuis do clube do Restelo, ao fazerem alinhar o ponta-de-lança Meyong em recente encontro para a Bwin Liga, frente à Naval 1.º de Maio da Figueira da Foz, onde aconteceu uma vitória de 2-1 dos comandados por Jorge Jesus.
Os navalistas protestaram em devido tempo e agora a Comissão Disciplinar da Liga puniu o Belenenses com a perda de seis pontos e ainda o jogador com um jogo de suspensão e 625 euros de multa.
Como consequências directas destas punições temos que a Naval que luta pela fuga à despromoção tomou agora novo fôlego com os três pontos conquistados na Secretaria, enquanto o Belenenses que já estava com um pé na Taça UEFA da próxima temporada vê agora esse objectivo mais distante com a perda de pontos sofrida. Tudo porque a regulamentação internacional permite a inscrição de um jogador num máximo de três clubes em cada época, leia-se a mesma época, mas simultaneamente proíbe a sua utilização em jogos oficiais em mais do que duas equipas.
Acontece que Meyong antes de ter defrontado a Naval, já havia anteriormente alinhado pelas formações espanholas do Levante e do Albacete, muito embora por este último tenha alinhado apenas doze minutos.
Enfim, distracções que saem caras.

Regulamentos são regulamentos e quando são elaborados são-o para ser cumpridos. Será como que uma das muitas verdades de Monsieur de la Palisse, contudo existe uma questão que por acharmos pertinente aqui vamos deixar: Se um clube tem que pagar seis mil euros para inscrever um jogador numa Federação, não deveriam ser os seus serviços e consequentemente os da respectiva Liga a aferir e controlar todos os requisitos necessários ao exercício da profissão de futebolista, antes de licenciar este ou aquele jogador para poder alinhar pelo clube proponente?
— Como podem a Liga e a FPF ser desresponsabilizadas em todo este processo?
— Os clubes pagam-lhes e os seus dirigentes têm ainda que desempenhar os serviços que não lhes deveriam competir?
Felizmente a Comissão Disciplinar da Liga entendeu e bem que neste processo os responsáveis azuis do Restelo «não foram diligentes, cuidadosos e zelosos, mas também não actuaram com intenção de dolo. Por isso só foram punidos por negligência pelo cuidado que deveriam ter tido e não tiveram».
O que não impede que venham a recorrer do castigo agora aplicado ao seu clube.

Enquanto isto, certa Comunicação Social e Desportiva do Continente alerta a opinião pública para o facto da Liga a exemplo do que fez no imediato com Meyong e o Belenenses, não abriu ainda um processo disciplinar ao jogador Leandro Lima e ao FC Porto a propósito da inscrição irregular deste atleta pelos dragões e não «um suposto inquérito meio secreto» para averiguação algo que o próprio jogador infractor já tudo confessou e questiona: Uma Liga dois critérios?
De facto Leandro Lima foi irregularmente inscrito devido ao uso de um documento falso, na circunstância o seu BI, como o próprio bem como a sua mãe o admitiram já, vá lá saber-se com que intenções.
Com base no Regulamento Disciplinar da Liga, nos termos do seu artigo 60, implica a atribuição de derrota por cada jogo que efectuou ou que foi incluído na ficha técnica do jogo.
Tendo que o jogador em causa alinhou em oito partidas onde os dragões averbaram sete vitórias e uma derrota para além de em mais três partidas ter sido incluído na ficha técnica, adviria daí um prejuízo enorme para o FC Porto caso a Comissão Disciplinar da Liga venha a cingir-se à letra do Regulamento que agora penalizou os azuis do Restelo e o seu jogador Meyong.

Será pois de todo conveniente que os dirigentes portistas vão colocando "as barbas de molho" porque as do Belenenses já "arderam" pelo menos por enquanto, isto no caso de, repetimos, virem a recorrer do castigo que lhes foi aplicado.
Se esta deliberação do Conselho de Disciplina da Liga terá desencadeado em Lisboa, ali para as bandas do Restelo uma tempestade de revolta por parte dos apaniguados azuis de Belém, não podemos minimamente imaginar a dimensão do verdadeiro “ciclone” que porventura varrerá a Cidade Invicta se o seu maior e mais digno representante desportivo vier a ser punido à imagem do que aconteceu com o Belenenses e isto porque a massa associativa e adepta dos dragões é incomensuravelmente superior à dos lisboetas.
Como é óbvio não poderemos deixar de questionar também aqui qual a responsabilidade dos dirigentes portistas na falsificação do BI de Leandro Lima e se lhes competiria a obrigação de analisar se esse documento seria falso ou verdadeiro e de igual modo se não cometeria aos serviços da Liga e da FPF fazê-lo.
Questões pertinentes que também as teve o clube de Belém mas das quais os Disciplinadores da Liga fizeram tábua rasa…

Apesar desta situação ter sido despoletada por um Órgão de Comunicação Social Desportivo do Rectângulo Português, é no mínimo estranho o esquecimento (?) a que tem sido votada pelos restantes que, estrategicamente ou não, não a abordam.
Uma posição algo idêntica que tem vindo a ser assumida no que concerne ao acompanhamento do caso "Apito Dourado", cujo primeiro julgamento está a ser efectuado no Tribunal de Gondomar, sete anos depois (!!!) de ter sido despoletado, quando por exemplo em Itália, idêntica teia de corrupção foi "despachada" em menos de três meses, mas por cá ninguém ousa tentar desvendar a razão de tanta morosidade.
A propósito do célebre "Apito" limitam-se a breves informações de somenos importância, esquecendo-se de outras que melhor elucidariam a opinião pública sobe tão famigerado caso.
Como por exemplo esta: «A sensação da última audiência foi dada pelos dois ourives locais que vendiam os objectos de ouro oferecidos aos árbitros pelos dirigentes do clube. Um deles lembrava-se de ter gravado em 2002 o nome do árbitro António Taia numa bela pulseira de ouro com a data do jogo Benfica-Gondomar para a Taça de Portugal… em que o Benfica foi escandalosamente eliminado o que levaria ao despedimento do seu treinador, um tal de Jesualdo Ferreira…»

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