sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Opinião: Vinhais Guedes







Aos seus lugares,
prontos, partida!

Muito embora a representação portuguesa ultrapasse as sete dezenas de atletas, muitos deles fizeram apenas os mínimos necessários à participação nos jogos, pelo que não é de esperar, como já vem sendo hábito, a obtenção de muitas medalhas.


No momento em que este jornal chegar aos leitores, terão passado já mais de 8 dias da inauguração dos Jogos Olímpicos de Pequim. É bem possível que, durante estes últimos dias, tenha havido soluções para alguns dos problemas que aqui enuncio, especialmente no que respeita às dificuldades levantadas pela organização à comunicação social internacional.
É verdade que o ano de 2008 não tem sido favorável para a República Popular da China (RPC) que, neste ano de olimpíadas, sofreu catástrofes naturais, com milhares de mortos. Mas, apesar da aparente adversidade dos deuses, a grande feira do espectáculo desportivo mundial pouco ou nada será afectada no seu esplendor
Ultrapassadas as dificuldades, a RPC prepara-se para colher os frutos do grande acontecimento que há anos perseguia. É porventura o mais eficaz instrumento de afirmação de uma grande potência emergente, com crescimentos económicos “assustadores” para o mundo desenvolvido.
Se, por um lado, a organização destes jogos tem uma face de extrema importância geoestratégica e um potencial político e económico únicos, tem também custos e riscos com os quais a RPC tem de contar. O aumento da poluição atmosférica existente em Pequim, o delicado problema dos direitos humanos, as questões do Tibete e outras, nomeadamente aquando do transporte da chama olímpica, junta-se-lhes agora um dos maiores, que vem levantar suspeitas na atribuição dos jogos àquele país.
Os direitos e liberdades concedidos à imprensa internacional constituem, porventura, o mais grave de todos quantos têm de enfrentar. As últimas notícias são uma autêntica reviravolta nesta matéria, tendo, inclusivamente, surpreendido o presidente do Comité Olímpico Internacional, Jacques Rogge, que garantiu recentemente que o governo chinês iria conceder liberdade à imprensa estrangeira na cobertura dos jogos, acrescentando que os mesmos poderiam fazer reportagens livremente e transmissão de imagens, não havendo, sequer, censura na Internet.
No entanto, as últimas notícias apontam no sentido contrário, referindo que o acesso a determinados sites de conteúdo mais delicado foi proibido pelo governo chinês. Isto apesar de a RPC ter antes garantido não aplicar a lei chinesa que impede o acesso sem restrições à Internet no país durante os jogos.
Independentemente de outros desenvolvimentos relacionados com as liberdades, direitos e garantias do povo chinês, ou de qualquer outra nuvem negra que paire sobre Pequim, o mundo assistiu a uma grandiosa cerimónia de abertura, porventura, a mais espectacular de todas as edições das Olimpíadas.
O palco foi o estádio conhecido como “O ninho”, obra de um atelier belga. Nesse grande recinto desfilaram cerca de 12.000 atletas, representando mais de 100 países. Convém não esquecer que para alguns deles, o momento de glória é esse mesmo desfile, já que as medalhas não estão ao seu alcance.
Veremos, pois, quem vão ser os mais velozes, os mais fortes, os mais resistentes, em suma, os super-homens e as super-mulheres, os heróis de cada país.
Já se fazem prognósticos do vencedor destes jogos, dizendo-se que a RPC ultrapassará os EUA no número de medalhas, o que será inédito. Contudo, nos Jogos Olímpicos, como no desporto em geral, pode haver resultados prováveis, mas as vitórias só se confirmam após as provas.
E por falar em provas, reafirmo o que já escrevi sobre o que se passa na ginástica desportiva feminina: as atletas não passam de crianças, sujeitas, a partir de tenra idade, a cargas de treinos verdadeiramente desumanos. São crianças com pouco mais de 1,40 metros e não chegam a pesar 40kg!
Continuo sem entender onde estão as organizações defensoras dos direitos das crianças, sempre prontas a condenar o trabalho infantil, mas de olhos fechados e a uma realidade gritante que lhes passa completamente ao lado. Quando se trata de trabalho infantil que permite a sobrevivência dessas crianças existem logo organismos internacionais que defendem os direitos da criança e protestam contra essa situação, enquanto no desporto se aceita tudo, desde que se ganhem medalhas e se oiça o hino do país.
Relativamente ao que se passa na ginástica desportiva feminina, existe já um movimento que defende uma idade mínima para se poder participar nos Jogos Olímpicos e em competições internacionais.
Muito embora a representação portuguesa ultrapasse as sete dezenas de atletas, muitos deles fizeram apenas os mínimos necessários à participação nos jogos, pelo que não é de esperar, como já vem sendo hábito, a obtenção de muitas medalhas. Contudo, os mais optimistas admitem a possibilidade dos nossos atletas trazerem meia dúzia delas. No final se verá.
Já depois de ter escrito este texto, o presidente chinês Hu Jintau veio garantir publicamente as promessas de liberdade e acesso aos sites que um dia antes a China havia negado. Hu Jintau pediu, contudo, uma cobertura objectiva dos jogos, apelando aos jornalistas para respeitarem as leis chinesas. Esta atitude, de um passo à retaguarda, não é mais do que defender a imagem de uma China moderna e aberta ao mundo.
A organização Repórteres sem Fronteiras, que o governo chinês sempre temeu, e a Amnistia Internacional, estão autorizados a aceder a sites considerados sensíveis. Mesmo assim continuarão a existir apertadas restrições de pesquisa.

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