sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Opinião: Vinhais Guedes







O Prof. Carlos Queiroz
voltou à Selecção

Resumindo, Carlos Queiroz só brilhou enquanto treinador de jovens. Sempre que foi treinador principal de uma equipa de seniores ficou-se pela vulgaridade.


Há mais de trinta anos que acompanho a entrada de técnicos com formação académica no mundo do futebol, primeiro como preparadores físicos e depois como treinadores principais.
No início da década de 70 contavam-se pelos dedos de uma só mão os treinadores de futebol da primeira e segunda divisões com formação superior. Nessa altura os profs. Rui Silva e Rodrigues Dias eram excepções à regra. Havia ainda três ou quatro licenciados que desempenhavam o papel de preparadores físicos. Elísio Gouveia e Hernâni Gonçalves que trabalhavam, respectivamente, no Belenenses e no Futebol Clube do Porto.
A partir do início da década de 80 surgiu uma nova geração de treinadores de futebol que iniciaram as suas carreiras a trabalhar nas camadas jovens da Federação Portuguesa de Futebol. Recordo os profs. Carlos Queiroz, Nelo Vingada, Jesualdo Ferreira, Rui Caçador e outros.
No momento em que o Prof. Carlos Queiroz volta a ser o seleccionador nacional levanta-se um coro de apoios à solução encontrada, reconhecendo nele as qualidades ideais para o cargo.
Para quem tiver memória, o prof. Queiroz conseguiu, nos escalões jovens, excelentes resultados incluindo o título de campeão mundial de juniores disputado em Portugal, facto único no nosso futebol.
Quando foi convidado para treinar o Sporting ganhou apenas uma taça e uma super-taça de Portugal não sendo contudo capaz de pôr a equipa a praticar um futebol de qualidade, compatível com uma imagem que construiu – homem com formação académica e diferente dos restantes treinadores. Foi com ele que surgiram expressões como “grupo de trabalho”, “postura” e “leitura de jogo”. Ao lhe ser oferecido o comando da selecção portuguesa para disputar a fase de qualificação de um campeonato do mundo, os resultados obtidos e a sua actuação foram simplesmente desastrosos. Falhou como treinador, ao ser derrotado pela Itália, com uma exibição medíocre, não qualificando Portugal para o mundial. Falhou igualmente como homem ao não assumir as responsabilidades desse fraquíssimo jogo, justificando-se, no final, com a frase: «é preciso varrer a porcaria que vai na praça da alegria.»
Pessoalmente fiquei estupefacto. Como era possível que alguém com formação académica se tivesse desculpado de uma forma tão deselegante para com quem o tinha convidado a assumir as funções que desempenhava? Nunca tinha ouvido nada semelhante para justificar um insucesso!
Depois de abandonar a selecção portuguesa pela porta traseira da tal praça da Alegria (na altura sede da Federação), o Carlos Queiroz esteve a trabalhar nas Emirados Árabes Unidos, no Japão, nos Estados Unidos e na África do Sul sem ter feito qualquer trabalho que lhe desse visibilidade.
Nos últimos anos foi adjunto de Sir Alex Ferguson, essa velha raposa que já leva mais de vinte anos à frente do Manchester United.
Ainda como adjunto daquele grande clube, não resistiu à tentação e deixou-se seduzir por um convite do Real Madrid para treinar uma equipa de milionários, que veio a revelar-se uma espécie de presente envenenado, acabando por sair sem honra nem glória, regressando a Manchester para ocupar o seu antigo lugar.
Resumindo, Carlos Queiroz só brilhou enquanto treinador de jovens. Sempre que foi treinador principal de uma equipa de seniores ficou-se pela vulgaridade. O Manchester United, é bom que se diga, já ganhava títulos antes de o Prof. ser adjunto de Sir Alex Ferguson e vai continuar ganhá-los depois da sua saída.
Na cerimónia de apresentação, ocorrida há dias, o Prof. Queiroz apresentou-se à imprensa de uma forma muito especial mas pouco original: «O meu nome é Carlos Queiroz e estou aqui para servir o futebol português.» Esta frase é semelhante ao que uma apresentadora de telejornal começava sempre por dizer: «eu sou Manuela Moura Guedes e este é o Jornal Nacional.»
É bem possível que após quinze anos de ausência o Queiroz tenha adquirido, principalmente como adjunto de Sir Ferguson, experiência suficiente e conhecimentos que sirvam para o cargo que lhe é novamente oferecido, deixando para trás as disparatadas e impróprias desculpas de mau perdedor.
Não me parece pois apropriado afirmar-se que o professor entrou pela porta grande da sede da Federação Portuguesa. Pode dizer-se, isso sim, que entrou pela porta pequena, a mesma por onde saiu há 15 anos. Entrar pela porta grande significaria ter feito um grande trabalho como responsável pela selecção portuguesa, o que não aconteceu como se sabe.
Quanto ao futuro… o tempo nos dirá se Carlos Queiroz vai ter, como costuma se dizer, “unhas para tocar esta viola”.
Uma coisa é certa, Madail, o “grande” presidente da Federação deixou de ter uma espécie de protecção especial sendo provável que voltem à selecção as intrigas e o magistério de influências como aconteceu antes da era Scolari.

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