sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Opinião: Gustavo Pires







Sérgio Paulinho está fora

Há qualquer coisa que falhou com Sérgio Paulinho e ao presidente do COP não lhe chega dizer que “lamenta”, remetendo o apuramento dos factos e das responsabilidades para as calendas gregas.

Sérgio Paulinho, segundo Vicente Moura, Presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), era um dos 11 possíveis medalhados nos Jogos Olímpicos de Pequim. O problema é que o presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, não fosse ele médico, entendeu fazer da luta contra o doping uma das principais bandeiras do seu mandato. E é o próprio presidente Rogge que diz que os Comités Olímpicos Nacionais e as Federações Nacionais foram instados pelo COI a aplicar as regras com rigor e proficiência. Assim, só são apanhados desprevenidos aqueles que andam no desporto só para ver passar os ciclistas.
Apesar de tudo, em vésperas do início dos Jogos Olímpicos, o país foi surpreendido pela inusitada notícia de que Sérgio Paulinho está fora. Afinal já não vai aos Jogos. E tal como foi uma surpresa a sua participação nos Jogos de Atenas (2004) e ainda mais a medalha que ganhou, também agora o é a sua desistência à última hora. Entretanto, fica tudo por esclarecer.
Os critérios utilizados pela União de Ciclismo Internacional (UCI) parece não terem o mesmo padrão de exigência do que aqueles utilizados pelo COI. Sérgio Paulinho era obrigado a tomar medicamentos para combater a “asma de esforço” que acusam positivo no controlo do COI. Quer dizer, aos olhos do cidadão comum, o atleta andava a tomar medicamentos que o impediam de competir nos Jogos Olímpicos!
E Sérgio Paulinho disse à comunicação social: «O problema é que a UCI tem as suas regras e o Comité Olímpico, outras...»
O médico da Astana, equipa de Sérgio Paulinho, afirma que o ciclista é um “asmático grave e severo”. Contudo, o departamento médico do Comité Olímpico de Portugal considerou Sérgio Paulinho apto para a competição sem recurso a medicamentos.
Entretanto, Boa de Jesus, o chefe da missão portuguesa aos Jogos, solicitou o óbvio: a imediata substituição de Paulinho por um dos dois suplentes. Contudo, o óbvio, às vezes, não é assim tão óbvio como isso, na medida em que Artur Lopes, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, rejeitou imediatamente a hipótese de avançar um suplente! Então para o que é que servem os suplentes?
Claro que Vicente Moura, há mais de trinta anos nas andanças do COP, foi apanhado tão desprevenido quanto o foi há quatro anos, quando teve de ir a correr com o presidente da República a reboque para assistir à entrega da, de todo imprevisível, medalha ganha em Atenas por Sérgio Paulinho. E limitou-se a manifestar o seu “desapontamento”. Será que chega?
A questão de Sérgio Paulinho ficaria por aqui caso o ciclista não tivesse estado, nos últimos quatro anos, integrado no “Projecto Pequim 2008”. Se ele é um asmático e tem de ser medicamentado para poder competir ao mais alto nível numa das modalidades mais violentas, senão a mais violenta, é lá com ele. No entanto, que passe quatro anos a fazê-lo à conta do erário público estamos completamente em desacordo. Há qualquer coisa que falhou com Sérgio Paulinho e ao presidente do COP não lhe chega dizer que “lamenta”, remetendo o apuramento dos factos e das responsabilidades para as calendas gregas.
Laurentino Dias não gosta de ser incomodado com estas questões do foro desportivo. Ele tem razão, não foi certamente para isso que aceitou o pelouro do desporto. Contudo, como estamos no domínio das políticas públicas, com a mesma velocidade com que o COP já apresentou à Secretaria de Estado do Desporto um orçamento de 16,8 milhões para os próximos quatro anos, assim também Laurentino Dias devia mandar levantar com a mesma velocidade um inquérito ao caso Sérgio Paulinho porque, em última análise, é dinheiro público que, pelo menos aparentemente, foi mal utilizado. E os portugueses, nos tempos que correm, não têm dinheiro para alguns senhores andarem a brincar aos dirigentes

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