sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Opinião: JM Silva









O “polvo” ainda mexe…

Apesar de amputado dalguns dos seus membros, o “polvo” que asfixiou anos a fio o futebol português ainda mexe. Levará o seu tempo até que seja exterminado em definitivo, mas esse dia chegará, porque felizmente neste País ainda há gente que pugna pela verdade desportiva…


Polvo é um molusco cefalópode com oito braços guarnecidos de ventosas, que vive nos orifícios dos rochedos, perto das rochas e se nutre de crustáceos e moluscos e raramente ultrapassa um metro de comprimento.
Em sentido figurado, polvo significa, também, pessoa insaciável. No seio do futebol português, de há muito que deu à costa um gigantesco “polvo”, este necessariamente a ultrapassar um metro no seu comprimento, cujos “tentáculos” (meios astuciosos de que alguém se serve para enredar outrem) o oprimam durante anos e anos, fazendo prevalecer a lei do mais forte, a lei do compadrio e a da corrupção, cobrindo-o com um manto de suspeição, que não eram poucos aqueles que temiam viesse a eternizar-se.
Tal “polvo” era algo de invisível mas em que muitos acreditavam na sua existência tal como quem acredita em Deus sem nunca O ter visto.
Contudo, na impossibilidade da apresentação de provas concretas passíveis de eliminá-lo, como que se institucionalizou em Portugal de cognominá-lo de SISTEMA, palavra que passou a ser utilizada nomeadamente pelos mais desfavorecidos (leia-se clubes de menor dimensão) para justificação de alguns dos seus insucessos.
Com verdade nalguns casos, com menos verdade noutros, mas a firme certeza de que tal SISTEMA fez demasiadas vítimas, a maior parte delas indefesas.

A História é fértil em testemunhar-nos episódios de regimes de opressão que vigoraram por muitos e muitos anos, mas que acabaram um dia mais tarde por serem derrubados.
Em Portugal, faz já algum tempo que o “25 de Abril” mandou para o exílio alguns governantes de então, seguidores da linha imposta por Salazar, durante longas décadas.
Passados que foram esses primeiros tempos pós-revolução, a Policia Judiciária, possivelmente alertada pela existência desse “polvo” que asfixiava o futebol português, desencadeou gigantesca operação a que chamou de Apito Dourado, na esperança de poder vir a exterminá-lo, devolvendo a credibilidade ao nosso Desporto-Rei.
Só que, em plena Democracia, não pode no imediato mandar para o exílio ou para a prisão alguns dos “tentáculos” do SISTEMA porque, enquanto arguidos, não haviam ainda sido condenados.
Levou o seu tempo, talvez mesmo tempo demasiado, mas de degrau em degrau a justiça portuguesa, onde naturalmente se inclui a desportiva, entre avanços e recuos, mais aqueles do que estes, lá foi “desembrulhando algumas encomendas” e bem recentemente desferiu profunda machadada nesse “monstro enorme”, amputando-lhe três dos seus maiores “tentáculos”, roubando-se grande parte da força que detinha.
Acontece, porém, que a nossa Justiça ainda tem em mãos vários casos para resolver relacionados com a operação Apito Dourado que, muito sinceramente, chegámos a recear, acabaria em nada.
A esperança de que um dia o futebol português voltaria a gozar de boa saúde começou com a ida do Dr. Hermínio Loureiro para a frente dos destinos da Liga dos Clubes Profissionais, ida essa que na devida altura aqui catalogámos como uma lufada de ar fresco. Depois muito daquilo que prometeu na sua tomada de posse cumpriu em absoluto, nomeadamente no que concerne à libertação do futebol português no “monstro” que lentamente o ia consumindo.
Começou nele essa grande revolução…

Mas a prova provada de que o “polvo” mesmo amputado dalguns dos seus principais membros ainda mexia, não tardaria muito.
Depois do Conselho de Disciplina da Liga, alheio às mais variadas pressões, ter pronunciado em tempo oportuno, entre outros castigos, a descida de divisão do Boavista e os dois anos de suspensão ao presidente do FC Porto, Pinto da Costa, envolvidos em crimes de corrupção e do Tribunal de Gondomar ter punido com prisão com pena suspensa o major Valentim Loureiro, no âmbito do Apito Dourado, eis que no Conselho de Justiça da FPF nova cabala no futebol português estava montada, tendente a ilibar quer o Boavista quer Pinto da Costa, que haviam recorrido para aquele Conselho da anterior punição decretada na CD da Liga.
Porém, os intentos de Gonçalves Pereira, presidente do CJ da FPF e do seu vice, que esperamos ver em breve a braços com a justiça, frustraram-se vendo o “tiro sair-lhes pela culatra” perante a enérgica reacção dos restantes cinco conselheiros, que deram continuidade aos trabalhos da reunião onde, entre outros casos, estavam inseridos na ordem de trabalhos os supracitados castigos aplicados ao clube axadrezado e ao presidente dos dragões.
Fizeram-no porque tinhas quórum para prosseguir, cinco contra dois, após a intempestiva retirada do Presidente e do seu vice, e, concluída a famigerada reunião, acabaram por ratificar a descida de divisão do Boavista e a suspensão de dois anos ao Presidente do FC Porto.

Jogando à defesa, não fosse ele um profundo conhecedor dos meandros do futebol português, o Presidente da FPF, Dr. Gilberto Madaíl, encomendou um parecer jurídico ao Prof. Freitas do Amaral, sobre a validade ou não da acta final assinada pelos cinco conselheiros do CJ da Federação e dos seus considerandos.
Freitas do Amaral deu o seu parecer, recriminando veementemente o procedimento do Dr. Gonçalves Pereira e seu vice, considerando absolutamente legítima a actuação dos cinco conselheiros e a Direcção da Federação seguiu o caminho indicado pelo insuspeito especialista e, admitindo como válidas as decisões tomadas pelo Conselho de Justiça, deu como consumados os castigos aplicados ao Boavista e a Pinto da Costa e, na oportunidade, invocou o interesse público para homologar os Campeonatos da última temporada.
Para trás ficaram as providências cautelares apresentadas pelo Boavista e pelo vereador da Câmara de Gondomar, o ainda (?) Presidente do CJ da Federação Portuguesa de Futebol.
Demonstrado ficou também que felizmente ainda há gente neste País que pugna pela verdade desportiva, não se intimidando perante comportamentos mesquinhos e inaceitáveis de favorecimento a terceiros.
“O cântaro tantas vezes vai à bica que por vezes lá fica.”

No passado dia 1 de Agosto, o Dr. Mesquita Machado, Presidente da Mesa da Assembleia Geral da FPF, afirmando que quer garantias de um Conselho de Justiça isento, anunciou ir convocar uma assembleia extraordinária com o objectivo de analisar o parecer do prof. Freitas do Amaral, encomendado pela Direcção da FPF.
É sua opinião que os membros do Conselho de Justiça terão de ser ouvidos, não sabemos bem para quê, na medida em que no parecer do prof. Freitas do Amaral está tudo lá estampado…
Quanto à sua sugestão para que o futuro Conselho de Justiça passe a ser composto por magistrados porque «o futebol precisa de um órgão de justiça que dê absolutas garantias de isenção», estamos conversados…
Só por mera distracção é que Mesquita Machado só agora se tenha lembrado de algo que de muitos quadrantes tem vindo a ser sugerido e onde obviamente nos incluímos.
Apesar de tudo, mais vale tarde do que nunca.

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