sexta-feira, 20 de junho de 2008

Opinião: JM Silva







Aí está o mata-mata

Conquistando o primeiro lugar do seu grupo antes mesmo do encontro final com a Suíça, Portugal partia para a última jornada com a forte possibilidade de fazer o pleno e simultaneamente aproveitar para testar um figurino mais sólido para o seu sector do meio-campo, demasiadamente à deriva nos jogos anteriormente realizados. Contudo, uma ridícula gestão de esforços diagnosticada para os jogadores mais utilizados deitou por terra tais possibilidades… e não só.

Desde sempre fomos daqueles que, ao longo dos cerca de cinco anos de reinado que Luís Felipe Scolari leva à frente dos destinos da Selecção Nacional de Futebol do nosso País, sempre tiveram a hombridade — e porque não dizê-lo a coragem — de com o mesmo rigor de informar com a verdade que se impõe, simultaneamente relevámos o muito que de bom ele trouxe para o seio da equipa de todos nós, mas também apontámos aqui e além aquilo que, obviamente em nossa opinião, se nos afigurava com os seus pontos menos fortes.
Ao fazê-lo nunca tivemos a pretensão, nem nunca a teremos, de que todos possam estar de acordo com tudo aquilo que aqui temos opinado sobre o trabalho daquele que ficou e ficará para sempre conhecido entre nós como o “Sargentão”, epíteto que granjeou sobretudo pela forma enérgica com que soube lidar com as muitas pressões que habitualmente vinham do exterior para o seio da Selecção, pois não eram poucos aqueles dirigentes de clubes que mandavam nela consoante as suas conveniências, como também era por demais conhecida a pretensão de determinados órgãos de comunicação social, sobretudo da desportiva, fazerem valer as suas ideias, interferindo no trabalho que competia única e exclusivamente ao seleccionador nacional escolhido para o efeito.
Não foi fácil a Scolari dar a volta a esta situação mas ele, com um poder de encaixe assinalável e dispondo de uma retaguarda forte que sempre o apoiou, soube lenta mas progressivamente ir acabando com tais velhos hábitos sem que tivesse antes passado por um clima de severas críticas que contudo se foram diluindo com o tempo.
Temos para nós que terá começado por aí o seu sucesso indesmentível frente a um seleccionado que pouco havia conseguido em termos internacionais antes do seu consulado, e que hoje por hoje é reconhecido, respeitado e temido em todo o Mundo, sendo os seus jogadores um alvo apetecido dos maiores clubes mundiais com possibilidades financeiras assinaláveis.
Disso não se esquecerão jamais os portugueses…

Admitindo com toda a naturalidade que as ideias podem divergir, jamais pactuaremos com quantos se atiram às opiniões alheias por vezes de forma menos correcta utilizando inclusive terminologia imprópria e sem que minimamente consigam introduzir nos seus escritos ou nos seus discursos algo que defenda as suas teses e que tampouco apontem alguma coisa de positivo que possa ser acrescentado ao trabalho que, na circunstância, é produzido pelos nossos viriatos no estágio da nossa selecção algures na Suíça.
Nada que contudo posa afectar minimamente o nosso trabalho, na medida em que os muitos anos que levamos nestas andanças nos imunizaram contra tudo isso e também um tanto porque, enquanto crianças, os nossos progenitores, nas horas das refeições e sempre que franzíamos o nariz para a comida, costumavam dizer-nos que «quem não gosta dalguma coisa que puxe para a borda do prato».
Politicamente falando, também não só concordamos como não gostamos de certas medidas levadas a cabo pelo executivo de José Sócrates mas temos que as aceitar enquanto outras não as venham substituir um dia, evidentemente para melhor…

É difícil lutar-se contra hábitos há muito enraizados em determinadas situações e no futebol situa-se um dos pólos mais férteis para que isso aconteça e, entre outros, é um dado adquirido que sempre que uma equipa ganha tudo está bem, quando realisticamente nem sempre é isso que acontece.
O inverso também se vislumbra quando essa mesmo equipa perde, sendo que aí é-lhe apontado tudo o que de mal se passou embora também aqui existam motivos fortes para explicar tal insucesso.
E o oito e o oitenta e oito sem quaisquer termos…
Atente-se no que se passou no recente Suíça-Portugal e relembremos o desvio de Pepe enviando o esférico à barra da baliza helvética, o golo limpo de Postiga mal anulado, uma grande penalidade autêntica sobre Nani não assinalada, o remate do mesmo Nani na cara do guarda-redes e que só foi travado pelo poste direito da baliza contrária, tudo isto e mais alguma coisa antes dos quinze minutos finais de jogo onde Portugal sofreu dois golos, o segundo dos quais na sequência duma ridícula grande penalidade assinalada pelo “vizinho” austríaco que dirigiu a partida.
Se os lances atrás descritos tivessem proporcionado a Portugal a obtenção de dois ou três golos, o que não escandalizaria quem quer que fosse, hoje ninguém criticaria as opções de Scolari quanto ao “onze” que iniciou a partida com os suíços.
Mas, bem ou mal, Portugal não marcou nesse encontro e para além da enorme tristeza que essa derrota proporcionou aos milhares de portugueses que acompanham os nossos viriatos apoiando-os com um grande fervor patriótico, temos para nós que, uma vez mais, esteve na pobre exibição do meio-campo português a razão maior para a derrota de Portugal neste encontro, onde, em inferioridade numérica, nem conseguiu defender bem nem tampouco descobrir linhas de passe para servir convenientemente os homens mais avançados.
Era enfim a sequência lógica daquilo que já antes acontecera contra a Turquia e a República Checa, só que aí Portugal venceu e tudo esteve bem (?). O tal hábito adquirido de que aqui já falámos.
Agora seguem-se os jogos a eliminar e logo na primeira eliminatória quatro dos países apurados irão mais cedo para casa ficando os quatro restantes até final para decidirem entre si os quatro primeiros classificados do Euro 2008.
Isto equivale dizer-se que apenas e só quatro equipas das oito finalistas irão efectuar todas elas três encontros já que as restantes apenas realizarão mais um cada qual.
Haveria qualquer razão para a tão propalada gestão de esforços?
Para nós, Portugal perdeu a última grande hipótese para testar um sector que (quem não gostar puxe para a borda do prato) tem sido o seu elo mais fraco, revelando-se o autêntico calcanhar de Aquiles da equipa.
Altamente profissionalizados, obrigados quer nos seus clubes quer ao serviço da selecção a treinos bi-diários, sobra-lhes mesmo assim, em cada dia, muitas horas para um repouso adequado, ademais estando em estágio e por isso devidamente controlados para não cometerem excessos, algo que não acontece na anterior situação quando em plena competição dos seus clubes.
Acresce que tendo que defrontar no encontro dos quartos-de-final do Euro o segundo classificado do grupo B, teriam os portugueses sempre mais um dia de descanso em referência a esse seu adversário que, para além do mais, havia necessidade de um esforço redobrado no último encontro do seu grupo para garantir o apuramento para a fase seguinte, algo que acarretou cuidados redobrados para não ser surpreendido, o que equivale dizer-se que actuou sob pressão acrescida.
Não foi fácil a vida dos alemães com os austríacos a jogar perante o seu público tendo vendido bem cara a derrota pela margem mínima.
Três dias para os alemães e quatro para os portugueses, com todo o manancial da fadiga causada pelo esforço intenso desenvolvido pelos seus futebolistas nos seus dois últimos encontros da fase de grupos, seria tempo muito mais do que suficiente para apresentá-los nas melhores condições físicas, absolutamente aptos para melhor desenvolverem o seu futebol.
Falar-se como se falou em gestão de esforço foi assim pouco mais que ridículo, ademais se era para proporcionar descanso aos jogadores portugueses mais utilizados, aqueles tidos por titulares indiscutíveis, qual a razão de fazer actuar, contra a Suíça, o guardião Ricardo, o central Pepe e o adaptado defesa esquerdo Paulo Ferreira?
Segue-se a Alemanha em jogo a eliminar rumo às meias-finais do Euro 2008, num jogo difícil mas onde, apesar de tudo, confiamos nos nossos viriatos.

PS: este artigo foi escrito antes do jogo Portugal-Alemanha.

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