sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Opinião — Vinhais Guedes

Já não há crédito na banca!

Pode ser legal, mas é profundamente imoral e injusto gastar o nosso dinheiro, pagando o vício de duas ou três centenas de fiéis seguidores do futebol.


Muito embora, nesta coluna, se fale de desporto, tendo como título “Desportivamente”, penso ser esta a quarta vez em dezoito anos que escrevo sobre o Grupo Desportivo de Chaves.
Na primeira, para criticar o aumento dos subsídios ao clube pelo actual Presidente da Câmara, contrariando as promessas que fez enquanto candidato à Instituição que vem dirigindo há cerca de sete anos.
Na segunda, para lembrar o facto de o Grupo Desportivo de Chaves, gerido por um responsável da câmara, ter aparecido na lista dos clubes caloteiros nos noticiários das nossas televisões.
Na terceira, falei da desastrosa gestão financeira cuja responsabilidade foi também do funcionário da Câmara destacado para assumir a presidência do clube.
Agora, depois das festas do Carnaval, volto a utilizar o espaço deste Semanário para tecer algumas considerações sobre o momento actual do clube, retratado, aliás, pelo seu presidente no passado dia 30 de Janeiro em Assembleia extraordinária.
Ao ler os esclarecimentos prestados pelo presidente da direcção do clube no Notícias de Chaves fiquei motivado para aqui colocar algumas observações:
- Quanto vale uma assembleia extraordinária com menos de quatro dezenas de sócios presentes?
- Que conclusões e leituras retiram deste facto os responsáveis directivos, incluindo a própria Câmara como o maior contribuinte financeiro?
- Face a isto, qual é a estratégia para sair deste atoleiro provocado por uma gestão financeira desequilibrada e sem critérios.
- Vai a autarquia, no caso de não haver pessoas que tomem conta do clube, continuar com as responsabilidades como até aqui?
- Aumentará os subsídios e as ofertas de terrenos para adoçar a boca a uns quantos e livrar-se deste pesado fardo, onde nunca deveria envolver-se directamente?
Afirmou o presidente da direcção que o Grupo Desportivo de Chaves se estava a afundar como o Titanic, tanto mais que o mesmo já não tem crédito na banca. As dificuldades de tesouraria são principalmente das anteriores direcções, afirmou Marcelo Delgado.
Em termos de finanças, a actual direcção pagou já cerca de 560 mil euros ao fisco, à Segurança Social a antigos treinadores, jogadores e fornecedores. Mas o clube continua com uma dívida efectiva e reclamada que ronda os 2 milhões e 500 mil euro.
Delgado propôs na assembleia, a entrega de cinco apartamentos aos antigos dirigentes Castanheira e Artur Dias, como forma de pagamento das dívidas antigas no valor de 250 mil euros (juros incluídos), montante que se destina a liquidar dívidas ao fisco e retenções indevidas de IRS que não foram pagas pela anterior direcção.
Já que falo em andares de habitação, pergunto: Será que o Grupo Desportivo de Chaves tem uma agência imobiliária? Se não tem como os conseguiu ou quem e como os adquiriu?
Será que esse património é o resultado do triângulo perigoso entre construtores, câmara e presidente do clube? A magistrada Maria José Morgado já por diversas vezes se referiu a estas troikas maquiavélicas.
O presidente da direcção do clube para realçar a importância do Grupo Desportivo de Chaves referiu que este tinha posto a cidade no mapa. Qual mapa? No mapa do concelho? No mapa nacional? Esta afirmação não passa de uma falácia, de uma demagogia que se repete há décadas, sem significado e efeitos práticos. A cidade de Chaves é, e continuará a ser conhecida, isso sim, pela sua longa história de cidade romana, pelas Termas, pelo Folar do Joãozinho e pelo Presunto do mesmo nome que já não existe.
Por outro lado, e para esfriar essa magnânima afirmação, permito-me dizer que um país ou uma cidade, que tem somente para oferecer o futebol, tem muito pouco e é muito pobre.
Gostaria ainda de saber com rigor quanto dinheiro vivo ou em géneros foi gasto nas últimas duas décadas com o futebol profissional? Onde estão os resultados? Cidades como Campo Maior, capital dos cafés Delta, Faro, capital do Algarve e muitas outras acabaram pura e simplesmente com o futebol profissional pago e que eu saiba não têm menos visibilidade…
Pode ser legal, mas é profundamente imoral e injusto gastar o nosso dinheiro, pagando o vício de duas ou três centenas de fiéis seguidores do futebol. Isto faz-me lembrar um doente ligado à máquina que só sobrevive se ela continuar ligada. Claro está que essa máquina neste caso é a própria Câmara.
Que bom seria termos em Chaves um só clube polivalente e social proporcionando as mais diversas praticas desportivas a jovens e adultos, pagando as suas cotas com o apoio financeiro da Câmara local proporcionando índices de praticantes que superassem os de outras cidades.
Esta política só traria benefícios aos cidadãos contribuintes. Não ficaria dispendioso como acontece com o futebol profissional mas teria efeitos bem mais benéficos do que aqueles que a generalidade das pessoas retiram da actual situação.

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