sexta-feira, 27 de junho de 2008

Opinião: JM Silva







Euro 2008 — Portugal
Morte a caminho da praia

Com um seleccionador cujo ciclo já estava esgotado antes do Euro, com jogadores dormindo mal devido aos milhões que lhes iam pela cabeça, roubando-lhes o sono, rodeados ainda por cima por um “folclore” jornalístico exagerado em pormenores insignificantes e parcos na discussão de assuntos sérios que envolvessem o nosso futebol em si, que esperavam os portugueses? Milagres? Lá se foi o tempo...


No rescaldo dos quartos-de-final do Euro 2008, não foram poucos os analistas que chegaram à brilhante (?) conclusão que todos os vencedores da fase de grupos, incluindo a própria Espanha, acabaram por não justificar a estratégia que adoptaram, a de fazerem uma gestão de esforço visando dar algum descanso aos seus jogadores mais utilizados nos primeiros dois encontros, onde portugueses, croatas, holandeses e espanhóis desde logo garantiram o primeiro lugar do respectivo grupo, colocando os seus segundos planos a disputar o terceiro jogo, dando-lhes como recompensa, apenas e só, mais uma internacionalização.
Poderá ter sido uma surpresa para tais analistas que na altura em que se justificaria uma intervenção tendente a tentar travar uma opção que era previsível ser de todo necessária, nada fizeram nesse sentido, só que para nós ela afigurou-se-nos inoportuna e, antes da realização do Alemanha-Portugal, aqui demos conta do nosso desacordo escrevendo entre outros considerandos que «…uma ridícula gestão de esforços diagnosticada para os jogadores mais utilizados deitou por terra…» E como se impunha apontávamos as razões porque achávamos ridícula tal gestão.

À chegada da nossa selecção ao aeroporto de Lisboa, Luiz Felipe Scolari, agora já nosso ex-seleccionador/treinador «tirou jogadores do autocarro para darem autógrafos» a cerca de centena e meia de pessoas que, mesmo com a desilusão estampada nos rostos por Portugal não ter ido mais longe no Euro 2008, mesmo assim não deixaram de dizer presente e dar as boas vindas a casa dos seus ídolos.
Esta atitude do “Sargentão” não merecia qualquer relevo de maior não fora a total ausência dum gesto semelhante para com os milhares e milhares de imigrantes portugueses que percorreram, muitos deles, quilómetros atrás de quilómetros, aguardando horas infindáveis, nem que fosse apenas e só para olharem para os seus ídolos, acenar-lhes e até fotografá-los para o álbum de recordações…
Contudo, em terras helvéticas, onde labutam tais emigrantes, qual pedaço do nosso Portugal, tamanha alegria foi-lhes vedada, para seu desgosto de não terem podido realizar o sonho de verem "in loco" aqueles que para si eram como que os embaixadores da sua pátria, do seu Portugal sempre no coração apesar da distância.
Há gestos que se dispensam e, na circunstância, aqueles que se praticaram na Suíça, onde se chegou ao cúmulo de desviar determinada rota do autocarro da selecção para “blindar” os nossos 23, eram absolutamente desnecessários, os nossos emigrantes não mereciam tamanha desconsideração.
Mas os gestos e as atitudes ficam sempre com quem os pratica.

O balanço final do comportamento patenteado a nível desportivo pelos nosso viriatos já está por demais debatido mas resta, em nossa opinião, alguns detalhes que, embora parecendo pequenos, são muitas vezes determinantes para o sucesso ou o fracasso duma equipa.
No capítulo técnico-táctico, já aqui expressámos a nossa versão antes do, para nós fatídico, Alemanha-Portugal ao afirmarmos que «conquistando o primeiro lugar do seu grupo antes mesmo do encontro final com a Suíça, Portugal partia para a última jornada com a forte possibilidade de fazer o pleno e simultaneamente aproveitar para testar um figurino mais sólido para o seu sector do meio-campo, demasiado à deriva nos jogos anteriormente realizados».
Infelizmente não nos enganámos.
Scolari deu-nos razão de sobejo para pensarmos que não estudou convenientemente, não apenas o poderio físico dos germânicos como também e sobretudo o seu figurino táctico no terreno de jogo, não teve em atenção o aproveitamento dos seus lances de bola parada e o seu forte jogo aéreo frente às redes adversárias e colocou em campo uma equipa sem quaisquer argumentos tácticos que num de repente se viu a perder por dois golos de diferença, mas que felizmente e porque temos jogadores de superior craveira técnica, aos poucos foi dando para equilibrar e reduzir para 1-2 antes do intervalo.
No “banco” português ficaram dois elementos que tinham toda a legitimidade para serem titulares neste encontro, primeiro porque actuam em equipas que militam no futebol alemão, segundo porque a sua compleição física e bom jogo aéreo seriam um forte antídoto para contrariar o poderio físico dos nossos adversários, mas Scolari não quis…
Extra futebol jogado, a novela em redor do futuro de Ronaldo, a lesão num pé que o diminuiu (teria o médico da selecção conhecimento disso?), a saída de Scolari, badalada na pior altura, a dispensa de Deco para ir a Barcelona tratar de assuntos pessoais, as conferências de imprensa com perguntas tendenciosas, que obrigavam os jogadores a jogar à defesa, entre outros pormenores mais, contribuíram em muito para que o sonho dos portugueses não se tornasse realidade.

Apesar do que atrás deixámos bem patente à opinião dos nossos leitores, teremos que ser honestos na apreciação da prestação dos nossos seleccionados que, apesar dos erros cometidos, teriam sido suficientemente capazes para que não saíssem derrotados.
Não dá para entender-se qual a razão ou razões que determinam que os jornalistas não se debrucem com maior acuidade sobre os problemas da arbitragem usando dois pesos e duas medidas consoante os encontros que analisam e que são jogados, uns a nível nacional, outros no âmbito internacional sob a tutela da UEFA e da FIFA.
Pois, neste Alemanha-Portugal, se já era difícil aos portugueses jogar onze contra onze, tornou-se incomensuravelmente mais difícil jogarem onze contra catorze (!).
Haja quem atire a primeira pedra contra os factos que aqui vamos apontar, todos eles em lances de claro prejuízo para os nossos viriatos e seus auxiliares:
— Fora-de-jogo mal assinalado a Nuno Gomes no golo limpo que marcou ainda na 1.ª parte;
— A expulsão perdoada ao defesa alemão que primeiro agarrou Ronaldo, quando este o ultrapassou em velocidade, derrubando-o depois e não satisfeito com tudo isso, ao passar pela sua vítima, o pisou ostensivamente no pé direito;
— A validação incrível do 3.º tento dos germânicos após evidentíssimo empurrão pelas costas de Balack sobre Paulo Ferreira.
— A passividade da equipa de arbitragem perante a excessiva dureza dos nossos adversários, da qual o nosso João Moutinho não guarda boas recordações;
— Etc., etc., etc.
Quer queiram quer não, apenas e só a linguagem dos números justificam a vitória alemã, mas cuidado porque tal só aconteceu porque marcaram três golos, um deles ilegal mas que valeu, e os portugueses fizeram também eles três, todos legais, mas só valeram dois.
Mas a linguagem dos números sobre este encontro tem algo mais que se lhe diga. Se os alemães fossem mais cedo para casa, eles que são vizinhos ali à porta, já imaginaram o que se perderia em termos de receita nos jogos bem como os milhares de barris de cerveja que se deixaria de vender???
Insinuações? Para bom entendedor, mais palavras para quê?

Segundo Gilberto Madaíl, Presidente da FPF, «o ciclo de Scolari já estava esgotado antes do Euro», tendo também confessado que desenvolvera contactos vários tendentes a angariar fundos que pudessem demover o “Sargentão” para não deixar o comando da equipa de todos nós, mas a milionária oferta do Chelsea foi inatingível.
E como disse, algures, a Cristiano Ronaldo, há oportunidades na vida que não acontecem duas vezes, Scolari foi coerente com a sua forma de pensar, a proposta do Chelsea poderá não ter uma segunda vez e ele agarrou-a à primeira.
Só que em Inglaterra o patrão dos “blues” poderá não ter a paciência que teve Gilberto Madaíl em aturá-lo tantos anos…

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