sexta-feira, 16 de maio de 2008

Opinião: Manuel Sérgio





Para um socialismo
do século XXI (V)

[…] no Desporto, como instituição e como pedagogia, como teoria e como prática, está presente o espírito humano.

5. Se Leibniz se preocupou com a "philosophia perennis"; se o Padre Manuel Antunes se preocupava com o "humanismus perennis" – será actual perguntar: o que torna actual o Desporto e o que pode conceder-lhe perenidade? O desporto será sempre actual, se for História e se assumir como História! Mais do que um "facto", o ser humano será sempre um "valor". «O homem define-se, antes do mais, pela sua corporeidade, que é o que o torna presente no mundo e, enquanto corpo, constitui um objecto para as ciências da natureza. Mas define-se também, e sobretudo, pelo que o seu espírito manifesta» (Jean-Philippe Ravoux, "A Unidade das Ciências", Instituto Piaget, Lisboa, 2004, p. 92). De facto, no Desporto, como instituição e como pedagogia, como teoria e como prática, está presente o espírito humano. Na "Carta Internacional da Educação Física e do Desporto" (UNESCO-1978), refere-se que a prática da Educação Física e do Desporto é um direito fundamental de todos, mas que deve desenvolver-se em sociedades, onde os direitos humanos sejam respeitados. No "Manifesto Mundial da Educação Física" (FIEP-2000) consigna também o direito de todos à Educação Física e que nesta são seus valores principais: corpo são e equilibrado; aptidão para a acção; valores morais. No "Manifesto Mundial do Desporto" (CIEPS-1968) assinala-se, sem lugar a dúvidas, que o Desporto se encontra ao serviço do homem e, por isso, é iniludível o contributo do ser humano na resolução de novos problemas. Os documentos das conferências internacionais de ministros e altos funcionários, promovidas pela UNESCO, consideram obsoleta qualquer visão do Desporto desinserida do bem-estar da sociedade donde a prática desportiva emerge. A "Carta do Espírito Desportivo" (Lisboa-1991) acentua que: «Ter espírito desportivo é, em primeiro lugar e acima de tudo, observar estritamente as regras. É procurar não cometer nunca, deliberadamente, uma falta (...). Ter espírito desportivo é respeitar o árbitro (...). Ter espírito desportivo é reconhecer com dignidade a superioridade do adversário, na derrota. Ter espírito desportivo é aceitar a vitória com modéstia e sem ridicularizar o adversário (...). Ter espírito desportivo é manter a dignidade, em qualquer circunstância. É demonstrar que temos controlo sobre nós mesmos. É impedirmos que a violência física e verbal se apodere de nós». O "Manifesto do Fair Play", do Comité Internacional para o Fair Play refere que «o Desporto de competição pode responder a numerosas exigências fisiológicas, psicológicas e sociais do homem». Depois, este "Manifesto" estende-se numa prosa que muito o aproxima da "Carta do Espírito Desportivo".
Poderíamos ainda citar a "Declaração do Rio de Janeiro sobre o Desporto e o Desenvolvimento Sustentável" (23 de Outubro de 1999), a "Declaração Universal dos Direitos à prática de Desportos na Natureza", a "Carta Europeia do Desporto", a "Carta Europeia do Desporto-para-Todos", o "Código Europeu de Ética Desportiva", etc., etc. Num ponto havemos de convir: em todos eles (nalguns mais do que noutros) aparece o Desporto ao serviço do ser humano, na sua dimensão mais profunda e mais transcendente. É evidente que o socialismo não é, para todos os desportistas, o futuro que mais anseiam. No socialismo por que me bato, eles cabem, são necessários, porque o meu socialismo é o espaço de todos os homens de boa vontade! Com efeito, é com eles que poderá construir-se um desporto novo!

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