sexta-feira, 2 de maio de 2008

Opinião: Manuel Sérgio







Para um socialismo
do século XXI (III)


Sou em crer, embora a vocação anti-estatal do “novo socialismo” que, nele, o Estado é para converter-se em semi-Estado e não para ser erradicado totalmente.

3. A estratégia da luta contra o capitalismo, procurando a tomada do poder e estabelecendo outra ditadura, está exaurida, pelos falhanços sucessivos. O novo socialismo constrói-se, no meu modesto entender, introduzindo, com firmeza e lucidez, a máxima democratização, a qual se oriente contra o capitalismo, as suas instituições, a sua lógica e a sua cultura, e não reformando cautelosamente o que aí está, de molde a tornar o capitalismo mais suportável. Pelo contrário, é preciso expô-lo a uma nudez fragilizada, onde se tornem evidentes os disfarces da sua própria degradação, já que o socialismo deve entender-se, acima do mais, como socialização do poder político, ou seja, criação iniludível de uma democracia participativa, que substitua a democracia unicamente representativa; estabelecimento de uma economia norteada pela lógica das necessidades e da produção de “sujeitos económicos”; e, ainda, promoção de uma cultura associativa, onde possa realizar-se o ideal da solidariedade; e, por fim, crítica incessante às novas formas de organização social, como expressão e nutriente do que se vai teorizando e praticando. Ora, tudo isto é incompatível com a democracia neoliberal que nos governa que, se produz crescimento (quando produz...), se encontra nas mãos de um empresariado agressivamente classista e sem um assomo sequer de sensibilidade social, embora utilizando hipocritamente, aqui e além, uma espectacular filantropia. Não abundo, no entanto, nas ilusões de Engels e de Lenine, que julgavam que a extinção das classes implicaria a dissolução do Estado. Sou em crer, embora a vocação anti-estatal do “novo socialismo” que, nele, o Estado é para converter-se em semi-Estado e não para ser erradicado totalmente. O Estado tem sido, inalteravelmente, um instrumento de dominação. Urge convertê-lo ao serviço de todos, socializá-lo, transformá-lo em democracia participativa, onde os políticos sejam capazes de ceder o poder a todos os cidadãos organizados... diariamente e não só no período das eleições! Uma cidadania activa é o cerne do “novo socialismo”.

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