sexta-feira, 23 de maio de 2008

Opinião: JM Silva







Prof. Sebastião Lazaroni

Teve demasiados altos e baixos a equipa do Marítimo que, mesmo assim, conseguiu um brilhante 5.º lugar e com ele a sua sexta ida a uma competição europeia. Contudo, nem sempre tudo está bem… quando as coisas acabam bem e há que dizê-lo. E assim sendo Lazaroni não fica no Marítimo por sua exclusiva culpa.

Cada cabeça cada sentença e daí resulta inevitavelmente a grande dificuldade de conseguir-se uma unanimidade de opiniões numa análise das mais variadas situações que se nos vão deparando no nosso dia-a-dia.
Obviamente mais difíceis umas do que outras, em se tratando de futebol, um tanto pelo muito que ele arrasta de paixões, a análise do trabalho desempenhado ao longo de uma época desportiva, quer das equipas técnicas dos clubes quer dos seus jogadores, é sem dúvida uma das mais difíceis de executar, tornando-se mesmo quase impossível chegar-se a qualquer espécie de consenso.

A nível jornalístico tal dificuldade é também latente, não tanto porque escasseie profissionais do ramo com capacidade suficiente para abordar os mais variados aspectos tácticos de qualquer equipa durante um jogo, para pronunciar-se sobre a versatilidade técnico-táctica de qualquer dos seus jogadores para opinar sobre se determinada substituição dum jogador por outro foi feita ou não em tempo oportuno e se a mesma se justifica etc., etc., etc., mas sobretudo porque o futebol se tornou há muito um campo minado onde convém penetrar com cuidados redobrados pois podem acontecer rebentamentos que os venham a prejudicar mais tarde no desempenho das suas funções, vezes sem conta incompreendidas pelas massas adeptas.
Escudando-se nos figurinos tácticos actualmente mais em voga, desde o “4x4x2” e do “4x3x3” passando pelo “3x5x2” e outros que tais para não falarmos no “losango” do meio campo e do “triângulo” defensivo, algo que para a maioria dos adeptos da bola é chinês e dado que cada vez mais é maior a necessidade de agradar-se a gregos e a troianos por motivos que têm a ver com o mercado, longe vão os tempos em que os críticos da especialidade — que não tinham a almofada da televisão — criticavam profundamente os jogos de futebol em todas as suas vertentes, revelando-se autênticos “livros-abertos” da especialidade.
E eram respeitados por isso porque corajosamente assumiam as suas convicções, prestando ao futebol um serviço inestimável.
Mas, mudam-se os tempos mudam-se as vontades, hoje o futebol é mais mentira do que verdade, todos reconhecem essa triste realidade mas muitos não querem admiti-la, cegos pela clubite que os invade, revoltando-se contra os poucos, que ainda os há, que querem lutar pela verdade no futebol.
Sabem por certo do que falamos…

Sebastião Lazaroni é um experimentado técnico de futebol, com muitos anos de serviço e para quem o desporto-rei já não terá assim tantos segredos quanto isso para desvendar, embora na vida estejamos sempre a aprender.
Correu mundo levando os seus conhecimentos às mais recônditas paragens, descobriu novos mundos com as suas novas línguas, mas onde constatou que a linguagem do futebol é uma linguagem universal.
E, tendo calcorreado países com culturas diferentes, por certo que constatou também que a cultura do futebol varia de País para País e em Portugal, na circunstância na Madeira, essa cultura é forçosamente diferente da do Brasil, onde teve a honra de treinar a sua Selecção Nacional.
Trabalhando pela primeira vez entre nós, ao fim de uma temporada, ficou naturalmente mais identificado com a realidade do nosso futebol, nomeadamente no que concerne aos seus aspectos tácticos, vertente que constitui o seu calcanhar de Aquiles à frente da formação verde-rubra.
Será por isso legítimo que se por cá continuar, na Madeira ou noutro ponto qualquer do Rectângulo Português, conseguirá com o capital acrescido que arrecadou um desempenho porventura superior àquele que conseguiu à frente do Marítimo na temporada agora finda.

Sendo que o quinto lugar alcançado não deixa de ser uma classificação honrosa que, repetimos, nada teve a ver com a perda de seis pontos por parte do Belenenses, não deixa contudo de saber a pouco porque a equipa, que pela primeira vez Sebastião Lazaroni orientou em Portugal, poderia ter chegado um pouco mais longe se em vários jogos tivesse tido outro rigor táctico, obviamente melhorado e até mesmo arriscando um pouco mais em algumas ocasiões.
Ao longo da temporada agora finda tivemos a oportunidade de relevar as performances técnicas de Sebastião Lazaroni à frente do plantel verde-rubro bem como assinalar a sua compostura nas entrevistas televisivas, escritas e faladas, durante determinado período.
Entretanto foram surgindo inoportunas lesões e alguns castigos disciplinares e muitas lacunas começaram a surgir com o desenrolar da prova que, lenta mas progressivamente, começaram a colocar em risco os objectivos do Marítimo anunciados no início da temporada e aí, colocamos o dedo na ferida e, num artigo de opinião neste nosso Semanário fizemos eco da nossa discordância na condução táctica da equipa do Marítimo, alertando para o facto dos técnicos brasileiros descurarem um pouco essa vertente, dissemos então que acontecera assim com Paulo Autuori, prosseguira com Bonamigo e que, se não houvesse uma marcha-atrás nesse capítulo, voltaria a ser o mesmo com Lazaroni.
Infelizmente para o Marítimo, não nos enganámos…

Seguiu-se um longo período de incerteza e mesmo de descrença onde aconteceram derrotas inesperadas muitas delas provocadas por graves erros de arbitragem que muito prejudicaram os verde-rubros que tiveram o condão de modificar o discurso de Sebastião Lazaroni que aos poucos se foi afastando da sua compostura inicial, embora em boa verdade lhe assistisse a razão na maior parte das vezes em que reivindicou.
Mas um líder é um líder e nada o deverá fazer sair do sério, embora por vezes seja custoso engolir-se sapos vivos.
Algo inesperadamente porém e quando tudo parecia perdido, "depois da tempestade veio a bonança", pois seria no meio de uma tempestade quase diluviana que o Marítimo, ao repetir nos Barreiros mais uma vitória no campeonato sobre o eterno rival Nacional, arrancou para uma ponta final de Campeonato verdadeiramente fabulosa onde em cinco jogos conquistou doze pontos preciosíssimos que o catapultou para os lugares do topo da classificação, um 5.º lugar que lhe proporcionou a sua sexta ida à Europa do Futebol.
Tivemos assim um Marítimo com um arranque brilhante de campeonato, depois um decréscimo de rendimento que acabou por colocar em causa os objectivos traçados para culminar um grande com uma arrancada final sensacional e histórica em que, valha a verdade, poucos acreditavam já.
Os festejos dessa conquista foram legítimos, mas… nem tudo está bem quando as coisas acabam bem, há que dizê-lo.

A época encerrou-se com a disputa da Taça da Madeira com o Marítimo a não dignificar essa festa do futebol apresentando uma equipa que nada teve a ver com aquela que normalmente alinhou na Bwin Liga e Sebastião Lazaroni não se sentou no banco de suplentes.
As gentes verde-rubras não gostaram desde os seus dirigentes aos seus associados e adeptos.
Foi mais uma acha para a fogueira para a não continuidade de Sebastião Lazaroni no Marítimo. Uma entre muitas outras.

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