sexta-feira, 9 de maio de 2008

Opinião: JM Silva







Pressão, Corrupção, Seriedade…

São três dos ingredientes de que o futebol é fértil e com os quais temos de conviver. Na Bwin Liga 2007/08, que domingo terá o seu epílogo, eles foram notícia largamente badalada.


Grupos de pressão: Conjunto de pessoas ou de instituições com interesses económicos e políticos comuns, entre outros, que, usando de poder económico ou de ameaças, pressionam os governantes.
Traduzido para a linguagem do futebol, teremos mais coisa menos coisa o seguinte: conjunto de dirigentes e de clubes com interesses económicos e desportivos que, usando de poderes económicos ou de ameaças veladas, pressionam não apenas os árbitros como também as estruturas do desporto-rei.
Em Portugal tais atitudes são infelizmente o pão nosso de cada dia e, para agravar a situação, com vasta cobertura da comunicação social desportiva, falada, escrita e televisiva, visando também ela proventos económicos.
Todos sabemos que «quando há tempestade na costa, quem se lixa é o mexilhão», que é um molusco comestível que vive preso às rochas batidas pelas ondas do mar ou nos estuários.
É a lei do mais forte a sobrepor-se aos mais pequenos e fracos, a maior parte das vezes sem armas para combater situações.

Corrupção: acção ou efeito de corromper, de fazer degenerar, depravação.
Mas significa também acção de seduzir por dinheiro, presentes, etc., levando alguém a afastar-se da rectidão: suborno.
Nos mais variados estratos sociais, a corrupção existe e é praticada nas mais variadas formas, sendo pois natural que no futebol ela também exista, sendo mesmo um dos terrenos mais férteis para ela se expandir.
Uma vez existindo, logo duas situações se verificam de imediato, quais são as classes dos corruptos e a dos corruptores, uns e outros seres menos dignos para quem a justiça tem castigos diferenciados quando qualquer situação de corrupção é condenada pelos tribunais.

Em Portugal ou noutro País qualquer é usual e até mesmo normal que qualquer clube estipule um prémio monetário extra para os seus jogadores em caso de vitória em determinado jogo de significado relevante para as suas aspirações onde estejam adversários a abater por serem incómodos na altura das contas finais das competições onde estão envolvidos.
Mas daí a que existam dirigentes que estipulem prémios desse teor, não para os seus jogadores mas sim de outros clubes para levarem de vencida determinada equipa que lhes convenha sair derrotada a fim de daí poder tirar dividendos, vai uma distância enorme.
Temos para nós que essa é também uma forma de corrupção que normalmente surge nas pontas finais das competições, onde todos os meios são viáveis para que se alcancem determinados fins.
É um salve-se quem puder…

Conseguir combater-se estas situações é algo demasiado complicado e difícil na medida em que «lobo não come lobo» porque aqueles que utilizam determinadas práticas menos correctas ou mesmo ruim de todo para alcançarem os seus fins, não se empenham a prejudicarem-se uns aos outros, pois que se respeitam por isso se temem.
É usual afirmar-se que quando «brigam os comadres aparecem as verdades» quando por qualquer motivo entram em choque os interesses de sócios, amigos ou mesmo familiares, entre outros e que denunciam uns as mazelas dos outros.
O grande problema é conseguir-se depois provar tudo isso nos bancos dos tribunais onde, vezes sem conta, uma mentira não comprovada vale tanto ou mais que a maior das verdades.
Atente-se no que se está passando no Tribunal onde decorre o primeiro julgamento de pressuposta corrupção desportiva desencadeada pela operação Apito Dourado, levada a cabo há já longo tempo pela Policia Judiciária.
Hoje por hoje são já muito poucos aqueles que acreditam que, exceptuando-se algum ou alguns dos «mexilhões» envolvidos nessa «tempestade» que venham eventualmente a ser punidos, o mesmo não virá a acontecer aos principais responsáveis pela podridão em que envolveram o futebol português.
Oxalá nos enganemos mas sinceramente já acreditámos mais do que agora…

Seriedade foi um dos temas que aqui trouxemos no último número deste semanário desportivo.
Tal teve a ver com a decisão de Jesualdo Ferreira, técnico do FC Porto, em fazer descansar alguns dos seus jogadores titularíssimos, alegando razões de uma gestão de esforços, num jogo em que estava implícita a classificação final na Bwin Liga na presente temporada do Vitória de Guimarães, do Sporting e do Benfica e algo mais remotamente do Vitória de Setúbal.
Como é sabido, não estava apenas em causa o alcançar dum 2.º, dum 3.º ou de um 4.º lugar mas fundamentalmente de dois ingressos, um deles directos na Champions, onde existem milhões de euros um jogo.
Discordámos então da relevância dada à vitória dos dragões em Guimarães pelo facto de apenas na 2.ª parte do encontro e com o resultado em branco, terem os pupilos de Jesualdo Ferreira resolvido «meter o pé… a fundo». Antes e sobretudo durante toda a 1.ª parte, o Vitória havia-se superiorizado ao tricampeão nacional, e por isso questionamos então sobre o que teria acontecido se os vimaranenses tivessem chegado ao golo nesse período e se teriam tidos os dragões tempo e discernimento para evitar que a história do jogo tivesses sido outra que não aquela que se verificou.

Bastou apenas uma semana para que o tempo, esse velho-mestre nos viesse dar razão.
Frente ao Nacional, em jogo disputado adentro portas, Jesualdo Ferreira repetiu a dose, desta feita fazendo descansar outros titulares, num jogo a feijões onde nada estava em jog para ambos os conjuntos, pois fosse qual fosse o resultado final não haveriam terceiros a sair prejudicados, bem ao contrario de uma semana atrás.
Aconteceu deste feita, saiu o tiro pela culatra ao técnico portista porque o Nacional marcou primeiro, fê-lo de novo a seguir e chegou ao intervalo a vencer por 2-0 e mesmo voltando a «meter o pé a fundo» no segundo tempo, toda a seriedade dos jogadores portistas não foi capaz de dar a volta a um resultado que lhes era adverso… não indo alem do que voltar a sofrer o 0-3 final que deixou com caras de enterro os apaniguados do FC Porto que se deslocaram ao Dragão para o jogo de despedida em sua casa na presente temporada.
Provada ficou, como algures já acontecera em Fátima, que a atitude do técnico dos dragões aquando do encontro no Afonso Henriques não foi de forma alguma a mais correcta.
Nem sempre tudo está bem quando tudo termina em bem.

No fim é que se fazem as contas e domingo próximo toda a contabilidade desta Bwin Liga deverá ficar em dia se entretanto forem desbloqueadas algumas situações pendentes na Liga…
Ficamos à espera e atentos para as comentar.

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