sexta-feira, 28 de março de 2008

Opinião — JM Silva






A Gargalhada Final


«Será feito tudo como estava previsto, para podermos, como habitualmente, dar a gargalhada final na cara dos tontos domésticos» — Alberto João Jardim em “Jornal da Madeira”.

A propósito do recente parecer do prof. Marcelo Rebelo de Sousa que dá razão ao Governo Regional da Madeira na questão de doar ao Marítimo o Estádio dos Barreiros, o Dr. Alberto João Jardim, de férias pascais em Porto Santo, interpelado um dia destes sobre tal parecer disse ao JM: «Será feito tudo como estava previsto, para podermos, como habitualmente, dar a gargalhada final na cara dos tontos domésticos.» As múltiplas primaveras que já ultrapassámos na vida tiveram o condão de trazer-nos ensinamentos vários que nos ajudam sobremaneira a ver as coisas pelos mais variados prismas, aguardando com serenidade para que elas se resolvam com o tempo necessário para que o desfecho desta ou daquela situação fique devidamente esclarecido, enterrando-se por fim todas as dúvidas. Sabemos por experiência própria que quem faz muitas ameaças, por norma, não costuma cumprir nenhuma, sobretudo quando tais ameaças não fazem qualquer sentido, mas também sabemos que, para as pessoas de bem, promessas são dívidas e como tal tudo fazem para que as possam cumprir. É esse o grande sentir da enorme família que nasceu, cresceu e vive em redor do Velho Campeão de Portugal que de há algum tempo a esta parte vem dando mostras de um certo cansaço por verificarem os constantes atropelos de quantos invejam e odeiam o seu glorioso clube, só porque ele foi capaz de progressivamente ir alcançando vitórias atrás de vitórias que o guindaram ao estatuto de Maior Clube das Ilhas. As recentes palavras do Presidente do Governo Regional sobre a velha aspiração maritimista de ter o seu Estádio próprio teve o condão de proporcionar a essa grande família uma injecção de tranquilidade, aguardando agora mais serenamente pela sua «gargalhada final» para como habitualmente o fazer «na cara dos tontos domésticos». Somos de opinião que todo e qualquer indivíduo não deve opinar sobre matéria estranha à sua actividade, no entanto, sempre nos causou uma certa estranheza a “estória” da cedência do antigo Campo dos Barreiros à então Junta Geral do Distrito do Funchal. “Estória” que nos pareceu algo como uma mera exposição romanceada de factos puramente imaginários, distintos da verdadeira história, essa sim baseada em documentos ou testemunhos. Algo parecido com um conto, uma novela ou uma fábula, cujos contornos desconhecemos mas sobre os quais se terá porventura debruçado o professor Marcelo Rebelo de Sousa para concluir da razão que assiste ao Governo Regional de doar ao Marítimo o Estádio dos Barreiros, este sim uma obra da Junta Geral do Distrito do Funchal, que nada teve a ver com os antigos e incumpridores donos do… Campo dos Barreiros. Incapazes de assumirem as cláusulas do contrato bancário assumido, tais proprietários encontraram a sua tábua de salvação na há muito extinta Junta Geral, que por sua vez terá negociado com a Banca a dívida em questão. Perante esta realidade a questão que se coloca é pertinente: — Estariam então os tais proprietários-incumpridores em situação de fazerem quaisquer exigências a quem lhes retirou a água do capote? É essa a nossa grande dúvida, qual certeza, que a seu tempo, esse velho-mestre, se encarregará de nos esclarecer, porque sinceramente também gostaríamos de ser dos últimos a poder rir, após o desfecho desta situação. Centenário. O CS Marítimo começa desde já a preparar os festejos que assinalarão essa data histórica que acontecerá a 20 de Setembro de 2010. Nessa data, cem anos após o 1910, «No Funchal é fundado um Clube que ainda hoje dá pelo nome de Clube Sport Marítimo. Só 15 dias depois acontecerá a implantação da República. Mas as duas equipas de futebol, que estão na origem deste Marítimo, já ostentam faixas com as cores do pavilhão republicano — o vermelho e o verde. Colocadas sobre as camisolas brancas que ambas as formações usam, essas faixas não são apenas uma forma de distinção entre os jogadores. Simbolizam, antes de mais, as aspirações da classe dos marítimos pelo advento do novo regime. E a crença da sua instauração resultará Progresso e Bem-Estar. Este Clube, como todos os outros que se formarão até final da segunda década do século XX, também fundou as suas raízes nas movimentações desportivas que os ingleses — residente e turistas — vinham semeando na Ilha desde o último quartel do século XIX. Mas a história da constituição do Marítimo não se faz na dependência dos ingleses ou com a sua colaboração. Pelo contrário inscreve-se na afirmação independente da classe marítima. Como se fosse um grito de liberdade, um corte de amarras. Uma bandeira de orgulho madeirense.» Do livro “ A História do CS Marítimo — 1910/2000” Corte de amarras que voltaria a acontecer anos mais tarde quando sozinho, lutando contra tudo e contra todos, deu o salto definitivo para o futebol nacional e posteriormente noutras modalidades, quando de há muito já havia conquistado o estatuto de Melhor das Ilhas, para lenta mas progressivamente se afirmar como um dos Maiores de Portugal. Lutando por uma verdadeira autonomia para não depender dos subsídios advindos do erário público, o CS Marítimo tem vindo a crescer nos últimos anos no que concerne a novas e modelares infra-estruturas desportivas e não só, graças à superior visão dum elenco desportivo liderado por José Carlos Rodrigues Pereira, que natural e legitimamente anseiam pela cereja no topo do bolo que acontecerá no dia em que verificarem ser uma realidade o seu próprio Estádio de Futebol. Dirigentes que, em sintonia com a sua família de associados e adeptos, sentem que o tempo começa a escassear para que a tempo e horas possam ver no culminar dos festejos do seu Centenário incluída a inauguração do seu sonho de longa data. Um sonho que outros, se calhar com menos legitimidade já viram concretizado, sem quaisquer entraves advindos da parte das gentes verde-rubras, o que não se verifica agora em relação ao Clube do seu credo, aquele mesmo Clube cujo nascimento se inscreveu «…na afirmação independente da classe marítima. Como se fosse um gesto de liberdade, um corte de amarras. Uma bandeira de orgulho madeirense». Entendemos as razões que assistem ao Governo Regional em não querer dar um passo mais longo que a perna na sua intenção de doar o Estádio dos Barreiros ao Marítimo, para que quando as obras arrancarem não venham a sofrer qualquer interrupção. A grande família maritimista confia na pessoa de bem que há três décadas consecutivas dirige os destinos da sua terra e sabe que «será feito tudo como estava previsto, para podermos, como habitualmente, dar a gargalhada final na cara dos tontos domésticos». Pode acreditar piamente o Dr. Alberto João Jardim que uma «gargalhada» dessas nunca foi tão ansiada

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