sexta-feira, 14 de março de 2008

Opinião — JM Silva





Vitória do bom senso

Ela aconteceu algures quando a UEFA exigia a total remodelação do Estádio dos Barreiros em moldes tais que o Governo Regional os rejeitou. Agora está de novo em jogo o futuro dessa infra-estrutura desportiva. Então, prevaleceu o bom senso. E agora?

Gustavo Pires, ilustríssimo colunista do nosso Semanário Desportivo, em recente edição e debruçando-se sobre o Euro 2004 que se realizou em Portugal, escrevia: «…Temos dez Estádios de futebol às moscas, alguns deles a se degradarem a olhos visto, Câmaras Municipais completamente falidas e Clubes de futebol endividados de tal maneira que já não são senhores do seu futuro. Para além de tudo isso temos um futebol completamente desorganizado, debaixo das maiores suspeitas, sem qualquer viabilidade no que diz respeito ao futuro próximo.»
Salta à vista que assinamos por baixo esta constatação do insigne professor ao verificarmos por exemplo a quase total inutilização dum Estádio do Algarve, as confrangedoras assistências nos Municipais de Leiria e de Aveiro e o doloroso nu que apresentam as bancadas do Estádio do Restelo, entre outros, quando lá actuam as suas respectivas equipas.
Por tabela recuamos a uns cincos anos atrás, mais coisa menos coisa, altura em que tendo sido concedido a Portugal o privilégio de organizar o Euro 2004 em futebol, a Madeira esteve para ser incluída numa das zonas do certame, sendo que para tal o Estádio dos Barreiros teria que ser totalmente remodelado para que, entre outras exigências da UEFA, teria que passar a ter capacidade para albergar um número de espectadores, se não estamos em erro, entre trinta e quarenta mil.

Como político hábil e experiente que era e continua a sê-lo, e muito naturalmente em sintonia com os seus pares do Executivo Madeirense, o Dr. Alberto João Jardim declinou tal ideia depois de muito naturalmente ter equacionado todas as vantagens e desvantagens de ter na Região uma infra-estrutura desportiva de tamanha envergadura.
Primeiro porque após a passagem relâmpago do evento desportivo em causa pela Madeira, não existiria a mínima hipótese de lotá-la com pelo menos 10 a 15 por cento da sua capacidade até mesmo que os jogos a lá serem realizados fossem à porta aberta, depois pelos elevados custos porque ficaria a sua manutenção.
Na altura, recordamos, não faltaram os “bota-abaixo”, os do costume e, mais alguns, que não se abstiveram de opinar que a Região tinha perdido uma grande oportunidade de valorizar o seu património, na circunstância o desportivo, sem minimamente se debruçarem sobre os prós e os contra duma infra-estrutura de tamanha envergadura.
A talhe-de-foice, nem por um só instante se preocuparam em questionar sobre o futuro da pista de atletismo que ainda hoje existe no Estádio dos Barreiros, mas de há muito desactivada.
«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…»

O tempo, esse velho mestre, encarregou-se de dar carradas de razão ao Dr. Alberto João Jardim, naquilo a que catalogamos como mais uma das suas múltiplas vitórias desde que abraçou a responsabilidade de governar a nossa Pérola do Atlântico, neste caso específico uma vitória do bom senso.
Ao invés tão sábia decisão acabou por revelar-se mais uma das múltiplas e rotundas derrotas para os seus detractores, os tais que consideravam ter a Madeira perdido a grande oportunidade de usufruir dum Estádio moderno, à maneira, como se diz na gíria.
Até teria sido fácil ao governante máximo da Região ter-se deixado embalar pelo cenário cor-de-rosa que lhe tentaram impingir, mas falou bem mais alto a razão em tê-lo declinado.
Hoje, o Estádio dos Barreiros, uma infra-estrutura desportiva já caduca, com a sua capacidade para um número razoável de espectadores, é dos poucos em Portugal que felizmente não está às moscas, sobretudo quando lá joga o Velho Campeão de Portugal…

Acontece que volvidos alguns anos, aquela que apesar de tudo é ainda considerada a sala de visitas do futebol madeirense se encontra envolvida em nova polémica cujo epicentro se situa no facto do Governo Regional ter decidido doá-la a quem, em seu entender, disso faz jus.
Aos detractores de então, porque alguns ainda existem, juntaram-se agora novos detractores que, cuspindo no prato que lhes mitigou a fome, descaradamente uns e encapuzados outros, tentam a todo o custo travar a decisão governativa de agora, embora no seu íntimo reconheçam a legitimidade da decisão, por algures terem também os seus clubes sido contemplados pela governação regional no que respeito diz às suas infra-estruturas desportivas, mas tão somente porque temem as consequências futuras de tal doação.
É esse o busílis da questão porque, nada tendo de burros, eles conhecem as capacidades do doado em desenvolver em torno daquele que será o seu novo Estádio, independentemente da vertente desportiva, as estruturas necessárias à sua subsistência futura sem a crónica dependência dos subsídios governamentais.
É fundamentalmente isso que os atormenta o que faz à sua volta uma incomensurável onde de ódio e de inveja por cada metro quadrado, bem visível à distância, contra o seu antigo rival. E a todo o custo tentam prejudicá-lo…

Abre-se assim um novo capítulo na vida do Estádio dos Barreiros, está de novo em jogo o seu futuro, cuja solução está de novo nas mãos do Dr. Alberto João Jardim e seus pares na governação regional que, em devido tempo, justificaram com razões jurídicas as razões da sua decisão de doar aquela infra-estrutura desportiva.
Uma decisão que acharam legítima mas que veio suscitar fortes resistências em alguns sectores da nossa sociedade, fundamentalmente naqueles que atrás referimos.
Dum lado da barricada encontram-se todos aqueles que, na sua grande maioria, por sentimentos mesquinhos se opõem à decisão governativa, do outro uma grande família já cansada de tantos entraves que sistematicamente têm sido colocados ao seu clube para concretizar o velho sonho de ter o seu próprio Estádio.
Uma grande família que, ao invés dos seus detractores, nunca colocou quaisquer entraves à concretização de idênticos anseios dos seus rivais.
Uma grande família que no fundo alimenta a grande esperança de que o bom senso que sempre tem norteado as decisões do Dr. Alberto João Jardim, seu ilustre familiar, volte a prevalecer e com ele a consumação dos seus desejos.
Nós, como é óbvio, também estamos confiantes, ou melhor… nunca deixámos de o estar.

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