sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Opinião — JM Silva






JM Silva

Tábua de salvação

Era um pouco isso que restava ao Sporting e ao Benfica na presente temporada e era imperioso que ultrapassassem vitoriosamente os quartos-de-final da Taça de Portugal. Levados ao colo conseguiram esse objectivo…



Perdida por completo às ténues esperanças que até há relativamente pouco tempo alimentavam de eventualmente conquistarem o ceptro na Bwin Liga, Sporting e Benfica estavam como que obrigados a vencer ao Marítimo e Paços de Ferreira, respectivamente, pois só assim continuariam com hipóteses de vencer alguma coisa na presente temporada.
Ressalve-se contudo o facto dos leões de Alvalade já terem vencido a Supertaça desta temporada e estão na final da Taça da Liga, no seu ano de estreia e onde defrontarão o Vitória de Setúbal.
Nada porém que atinja o prestígio da Prova Rainha do Futebol Português que, além do mais, abre as portas da Taça UEFA, prova europeia de enorme prestígio.
Para reforçar o favoritismo das duas formações lisboetas da 2.ª Circular, coube-lhes por sorteio jogarem em casa, facto sempre a ter em conta, embora saibamos que nem sempre isso representa tudo, mas aí, se as coisas começam a ficar pretas para os visitados, quase por norma assistimos ao uso (e abuso) dos famigerados dois pesos e duas medidas por parte obviamente de quem dirige as partidas, o que provoca naturais desequilíbrios.
E todos sabemos quem nestas circunstâncias retira os melhores dividendos destas situações que atingem uma muito maior dimensão por tratar-se de uma competição a eliminar e disputada a uma só mão.

Estamos cansados e por que não dizê-lo, até mesmo enfastiados de tantos “moralistas” que por aí vegetam e que à mingua de melhores e mais válidos argumentos se atiram aos treinadores das equipas que, ao sentirem na pele os efeitos nefastos da esmagadora percentagem das más arbitragens fazem disso eco, catalogando-os de maus perdedores, como se eles não tivessem razões de sobejo nas suas queixas.
Que inestimável serviço prestariam à causa do futebol se todos os agentes de Informação Desportiva aprofundassem onde morariam a verdade e a mentira de tais desabafos dando o seu a seu dono, na circunstância apenas a razão que não a reposição da verdade desportiva, porque aí nada feito.
Ao invés e consoante as cores de seus credos clubísticos escondem o que não lhes convém aflorar desviando as atenções para outras situações nada melindrosas e que por vezes até nada têm a ver com as peripécias dos jogos para que foram escalados, cavando cada vez mais fundo o fosso que separa os clubes de maior nomeada daqueles que se debatem com mil e um problemas para se manterem em actividade.
Se estivermos atentos, verificaremos que, nos diversos sectores da Comunicação Social Desportiva, apenas os elementos não profissionais das diversas entidades que se debruçam sobre o desporto, na circunstância o futebol, ousam opinar com um mínimo de rigor e de verdade quando convidados a colaborar em artigos de opinião ou a dissecar sobre este ou aquele evento desportivo, contrariamente aos profissionais dessas mesmas entidades, algo que nos conduz a uma inevitável e triste suspeição, a de que possam temer furar qualquer possível “Lei da Rolha” que porventura lhes seja imposta. Isto porque nos recusamos a acreditar que não sejam capazes de ver o mesmo que nós, a não ser que tenham um olho de cada cor, o que também acontece…

Aquilo a que aludimos atrás, qual grito de revolta, tem o seu epicentro precisamente nas actuações dos dois juízes de campo que estiveram nos últimos confrontos Sporting-Marítimo, Benfica-Paços de Ferreira, Jacinto Paixão e Augusto Duarte, respectivamente.
Televisionamos ambos os encontros e posteriormente tivemos ainda a oportunidade de confirmar as nossas certezas em mais quatro estações televisivas em diversos programas de opinião, de que incontroversamente, tanto os leões de Alvalade como as águias da Luz haviam sido levados ao colo rumo aos quartos-de-final da Taça de Portugal.
Pelo caminho ficaram duas formações dignas que tudo fizeram limpamente para contrariarem o favoritismo dos seus poderosos adversários, não dando quaisquer indícios de temerem o facto de terem que defrontá-los em sua casa.
Marítimo e Paços de Ferreira enfrentaram de peito aberto, olhos nos olhos, as duas formações lisboetas que tinham na Taça de Portugal, a única tábua de salvação da presente temporada, demonstrando dentro das quatro linhas que eram legítimas as suas aspirações de continuar em prova.
Em Alvalade, e no cômputo das duas partes do jogo, o Marítimo foi superior ao seu antagonista e se tem feito todos os minutos que teve a partida, jogando onze contra onze, estaria a estas horas a preparar o jogo dos quartos-de-final.
No ninho das águias, os pacenses poderiam ter ido para o intervalo a vencer por duas bolas a zero e aí a história do encontro seria forçosamente outra.
Passemos aos factos…

Sobre o relvado de Alvalade e numa demonstração cabal de que ali viera para discutir a vitória no jogo, o Marítimo entrou praticamente a perder em mais um lance de bola parada e num cabeceamento do Tonel em zona de jurisdição de Marcos, um “gigante” debaixo dos postes mas um “anão” nas saídas.
Mas nem por isso se intimidou e com todo o mérito chegou à igualdade perante um Sporting que só atacava pelo seu flanco esquerdo mas onde Vukcevic não lograva “por pé em ramo verde”, dada a forma eficaz como Ricardo Esteves lhe barrava as investidas.
Enquanto isso no lado contrario, Abel não conseguia como habitualmente chegar à linha de fundo para cruzar, preocupado que estava em segurar o irrequieto Mossoró, recorrendo demasiado à falta para travar o seu adversário.
Até quando o montenegrino começou por intimidar com entradas demasiado duras sobre o opositor, mandando-o duas vezes ao tapete para à terceira e numa inequívoca agressão colocar Ricardo Esteves fora de combate, sendo admoestado apenas com a cartolina amarela por Jacinto Paixão, que voltou a fazer vista grossa ao não assinalar grande penalidade contra o Sporting por derrube flagrante a André Pinto na área de rigor.
Acresce que apenas ao sétimo e oitavo “agarranço” de Abel a Mossoró é que o juiz internacional de dignou admoestar o defesa leonino com a respectiva cartolina tendo o cuidado de mostrar ao infractor com gesto bem visível da sua mão direita que o fazia não pela primeira, nem pela segunda mas sim pela terceira falta cometida, o que demonstra ter andado distraído (?) durante o jogo para não ter agido mais cedo em conformidade.
Apenas a título de curiosidade, demonstrativo da parcialidade dalguns escravinhadores, transcrevemos uma das muitas críticas à arbitragem deste jogo: «Bruno Paixão terá errado ao não punir uma queda de André Pinto na área e na cor do cartão mostrado a Vukcevic no lance com Ricardo Esteves.»
Elucidativo…

Mais parco em palavras esteve outro dos repórteres em serviço no ninho da Águia Vitória, que atribuindo a nota 5 a Augusto Duarte, escreveu: «Bem nas grande penalidades, muita insegurança nas outras decisões.»
Raras vezes tivemos oportunidade de verificar uma forma tão hábil de fugir com o rabo à seringa…
Cedo, muito cedo o Paços através de Pedrinha se colocava em vantagem no marcador, numa altura em que a maioria dos jogadores ainda não haviam tocado na bola.
Demorou uma eternidade para que os encarnados reagissem à desvantagem e das bancadas vieram os assobios e eram evidentes as caras de enterro de muitos descrentes adeptos.
Efectivamente, durante os primeiros 33 minutos, Peçanha, o guardião pacense, foi pouco mais que um assistente ao jogo, já que os da casa não conseguiam entrar na sua grande área, onde Makukula andava perdido sem ver a bola chegar até si.
Valeu ao Benfica a errada decisão do árbitro que, a sinal dum seu auxiliar, inviabilizou que Wesley, isolado, elevasse o marcador para um 0-2, o que agudizaria ainda ais a situação para os comandados de Camacho que acordou aos 35 minutos retirando o defesa Edcarlos, fazendo entrar o ponta de lança Cardoso para o lado de Makukula.
Só ao minuto 41, Cristian Rodriguez logrou um lance individual, ao penetrar na grande área pacense, afastando com o braço direito o seu opositor directo e preparando-se para o remate final o que não conseguiu por ter-se estatelado no solo, num golpe de teatro que iludiu o árbitro, longe do lance, a assinalar grande penalidade e com ela a igualdade ao intervalo.
Decorria o quarto minuto da 2.ª parte e nova falha grave de Augusto Duarte ao não assinalar falta num derrube mais do que flagrante a um pacense que saía em dribles para o contra-ataque, resultante daí a jogada da segunda grande penalidade, que colocou o Benfica pela primeira vez em vantagem no marcador, simultaneamente com vantagem numérica em campo dada a expulsão do infractor que puxou Makukula pela camisola.
O jogo acabou ali mesmo. Só depois é que surgiu “o talento de Rui Costa”, uma “dupla atacante terrível”… e umas bancadas em festa pouco ou nada incomodada com a forma como a sua equipa havia chegado à vitória. Afinal daqui por uns dias o que ficará na história será apenas o resultado final.

Bruno Paixão e Augusto Duarte, dois pesos e duas medidas, tê-las-iam usado trocados que fossem os beneficiados e os lesados?
Uma pergunta que gostaríamos de colocar ao ex-árbitro Vítor Pereira, agora investido na presidência do Conselho de Arbitragem da Liga e que recentemente veio a público afirmar que a arbitragem nacional está bastante melhor, está no bom caminho.
Com exemplos destes o que seria do nosso pobre futebol, se ao invés os árbitros portugueses estivessem no mau caminho?

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